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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

"PEQUENOS PODERES"


      Todo o mistério da cena inicial de "Pequenos Poderes", texto Diego Molina, direção Breno Sanches.
                                                                (Foto Maya Zalt)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

     Não se enganem: a vida é um jogo de perde/ganha. E a visão que temos dela, nestes "Pequenos Poderes", pensados por Diego Molina, em colaboração com os atores da peça e seu diretor Breno Sanches, nos leva a ver com humor (uma das características da inteligência dos humanos), as armadilhas.

     No programa da peça há uma ilustração de um grupo de pessoas ameaçada por um "pezão" (sem referências...), alertando o público para o que virá depois. A programação visual, bastante divertida, é de  Ivi Spezani. Nada de interpretações místicas ou "transcendentais" em torno do "pezão", afinal, constatamos que ele não é o pé de Deus, e que os humanos são movidos por sentimentos e ações que eles não dominam!

     Mas o que mais nos encanta na encenação (além da ética como tema), é a total entrega com que os atores são conduzidos pelo diretor.  Além da facilidade aparente dada ao espetáculo, a dedicação dos atores transmite uma satisfação estética muito grande para quem os assiste.

     Voltamos a Spezani: para realizar a programação visual há um convidado, o cartunista Nani, que cria imagens para a abordagem dos cinco temas que compõe a peça. Aí surgem as tais "visões éticas" da  Lei, Religião e Poder... entre outras. 

     É tudo muito "simples", desde a maneira com que os atores mudam a cena. O calmo preparar da cena seguinte nos leva a reconhecer o acerto no timming do espetáculo. São muitos os detalhes com críticas inteligentes aos bancos, ao preconceito (esse verdadeiro vírus!), onde surge o "bullying" espezinhando o "diferente", os problemas com a lei... O ator Andy Gercker, que interpreta o personagem excluído, é de uma precisão total. Há ótimos atores em cena. Bia Guedes, que interpreta uma loura maluca, se transforma em diabólica e hilária "entrevistadora de televisão". Sabemos que esse tipo de interpretação está se tornando "chave" no teatro carioca, mas há um teste de virtuosismo em Bia Guedes. Percebe-se que há muito trabalho dos atores, e acerto na direção de Breno Sanches, sustentando o bom resultado de "Pequenos Poderes".

     Mariana Consoli interpreta a bancária "eficiente", levando o cliente/assaltante a ser o assaltado. Mas não antecipemos... Zé Mauro Travassos é outro dos quatro atores que se destaca, no papel do cliente. Consoli, mutante, se transforma ainda em uma sofisticada "madame", vitima de uma entrevistadora de televisão (Bia Guedes), para depois, em um passe de mágica, se transformar de acusada em acusadora. Muito a propósito, pois nos tempos que correm ninguém mais escapa de uma boa acusação!  

     Há, em cena, sutis mudanças de figurinos, dando dinamismo à ação. A "madame" de Consoli  se  transforma em uma advogada. Muitas "mudanças" (ontem madame, amanhã deputada?, ontem deputado, amanhã ministro?). São "frenéticas mudanças" como as que acontecem em nosso cotidiano político. Mas um ponto positivo do espetáculo é que ele não é didático, ou toma partido, somente expõe a confusão do país.    
  
     É um prazer inesperado assistir a "Pequenos Poderes". Trata-se de uma iniciativa independente e, por mais absurdo que isso possa parecer, uma declaração de amor à vida. São cinco quadros sobre assuntos tão atuais como difamação, roubo, as loucuras da Lei, e muitos outros. Diego Molina, o autor, estava em um momento inspirado ao conceber estes temas. Porém o espetáculo não se candidata a  ser juiz de nada, apenas tenta compreender o que está acontecendo no Brasil (e no mundo): as grandes mudanças de parâmetro começam assim. Para o bem ou para o mal. No caso do mal, "Pequenos Poderes" é um alerta para nossos erros, talvez o principal deles sendo o preconceito.  
  
   Agora vamos falar em espaço cênico, algo vital para um espetáculo. O da Casa da Gávea é adequado para o desenvolvimento de "Pequenos Poderes". Registramos que a classe teatral quase perdeu este espaço. O que se espera agora é que ele seja prestigiado. Aliás, as promoções organizadas pela classe são exitosas. Atualmente a Casa da Gávea oferece um bar, nos moldes do Bar Belmonte (ele é o novo patrocinador), onde podemos tomar um cafezinho, ou uma cerveja, a partir das 17h, e bater um papo. Depois desfrutar dos espetáculos. Há espaços semanais para leituras de peças, shows de poesia, debates, etc. Vale à pena conferir. 
     
     "Pequenos Poderes" estreou na Sede das Cias., outro espaço determinante para o exercício teatral. Importante: o espetáculo em cartaz na Casa da Gávea provoca uma reflexão sobre o impulso inicial que leva as pessoas a agirem. VALE À PENA ASSISTIR! É MUITO BOM VER BOM TEATRO. 

     OBS: A ficha técnica é um fator do bom andamento do espetáculo. Na iluminação, Ana Luzia de Simoni, com supervisão de Aurelio de Simoni. Os Figurinos e direção de arte são de Bruno Perlatto.   Cenografia, que se revela a mecânica do espetáculo, é criada por Diego Molina. A Trilha sonora é de Armando Babaioff, e Breno Sanches (um mix de aperfeiçoamento técnico). A locução em off é de Ronaldo Julio e os adereços foram criados por Tuca. Fotografia Maya Zalt. Assessoria de Imprensa Sheila Gomes.  


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