Todo o mistério da cena inicial de "Pequenos Poderes", texto Diego Molina, direção Breno Sanches.
(Foto Maya Zalt)
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Não se enganem: a vida é um jogo de
perde/ganha. E a visão que temos dela, nestes "Pequenos Poderes", pensados
por Diego Molina, em colaboração com os atores da peça e seu diretor Breno
Sanches, nos leva a ver com humor (uma das características da inteligência dos
humanos), as armadilhas.
No programa da peça há uma ilustração de
um grupo de pessoas ameaçada por um "pezão" (sem referências...), alertando
o público para o que virá depois. A programação visual, bastante divertida, é de
Ivi Spezani. Nada de interpretações
místicas ou "transcendentais" em torno do "pezão", afinal, constatamos
que ele não é o pé de Deus, e que os humanos são movidos por sentimentos e
ações que eles não dominam!
Mas
o que mais nos encanta na encenação (além da ética como tema), é a total
entrega com que os atores são conduzidos pelo diretor. Além da facilidade aparente dada ao espetáculo,
a dedicação dos atores transmite uma satisfação estética muito grande para quem
os assiste.
Voltamos a Spezani: para realizar a
programação visual há um convidado, o cartunista Nani, que cria imagens para a
abordagem dos cinco temas que compõe a peça. Aí surgem as tais "visões éticas"
da Lei, Religião e Poder... entre
outras.
É tudo muito "simples", desde a
maneira com que os atores mudam a cena. O calmo preparar da cena seguinte nos
leva a reconhecer o acerto no timming
do espetáculo. São muitos os detalhes com críticas inteligentes aos bancos, ao preconceito
(esse verdadeiro vírus!), onde surge o "bullying" espezinhando o "diferente",
os problemas com a lei... O ator Andy Gercker, que interpreta o personagem excluído,
é de uma precisão total. Há ótimos atores em cena. Bia Guedes, que interpreta
uma loura maluca, se transforma em diabólica e hilária "entrevistadora de
televisão". Sabemos que esse tipo de interpretação está se tornando
"chave" no teatro carioca, mas há um teste de virtuosismo em Bia
Guedes. Percebe-se que há muito trabalho dos atores, e acerto na direção de
Breno Sanches, sustentando o bom resultado de "Pequenos Poderes".
Mariana Consoli interpreta a bancária
"eficiente", levando o cliente/assaltante a ser o assaltado. Mas não
antecipemos... Zé Mauro Travassos é outro dos quatro atores que se destaca, no
papel do cliente. Consoli, mutante, se transforma ainda em uma sofisticada "madame",
vitima de uma entrevistadora de televisão (Bia Guedes), para depois, em um
passe de mágica, se transformar de acusada em acusadora. Muito a propósito, pois
nos tempos que correm ninguém mais escapa de uma boa acusação!
Há, em cena, sutis mudanças de figurinos, dando
dinamismo à ação. A "madame" de Consoli se transforma em uma advogada. Muitas "mudanças"
(ontem madame, amanhã deputada?, ontem deputado, amanhã ministro?). São "frenéticas
mudanças" como as que acontecem em nosso cotidiano político. Mas um ponto
positivo do espetáculo é que ele não é didático, ou toma partido, somente expõe
a confusão do país.
É um prazer inesperado assistir a "Pequenos
Poderes". Trata-se de uma iniciativa independente e, por mais absurdo que
isso possa parecer, uma declaração de amor à vida. São cinco quadros sobre
assuntos tão atuais como difamação, roubo, as loucuras da Lei, e muitos outros. Diego Molina, o autor, estava em um momento inspirado ao conceber estes temas. Porém o espetáculo não se candidata a ser juiz de nada, apenas tenta compreender
o que está acontecendo no Brasil (e no mundo): as grandes mudanças de
parâmetro começam assim. Para o bem ou para o mal. No caso do mal, "Pequenos Poderes" é um alerta para nossos erros, talvez o principal deles sendo o preconceito.
Agora vamos falar em espaço cênico, algo vital
para um espetáculo. O da Casa da Gávea é adequado para o desenvolvimento de
"Pequenos Poderes". Registramos que a classe teatral quase perdeu este espaço. O que se espera agora é que ele seja prestigiado. Aliás, as promoções
organizadas pela classe são exitosas. Atualmente a Casa da Gávea
oferece um bar, nos moldes do Bar Belmonte (ele é o novo patrocinador), onde
podemos tomar um cafezinho, ou uma cerveja, a partir das 17h, e bater um papo. Depois desfrutar dos espetáculos. Há espaços semanais para leituras de
peças, shows de poesia, debates, etc. Vale à pena conferir.
"Pequenos Poderes" estreou na Sede
das Cias., outro espaço determinante para o exercício teatral. Importante: o espetáculo em cartaz na Casa da Gávea provoca uma reflexão sobre o impulso inicial que leva as pessoas a
agirem. VALE À PENA ASSISTIR! É MUITO BOM VER BOM TEATRO.
OBS:
A ficha técnica é um fator do bom andamento do espetáculo. Na iluminação, Ana
Luzia de Simoni, com supervisão de Aurelio de Simoni. Os Figurinos e direção de
arte são de Bruno Perlatto. Cenografia,
que se revela a mecânica do espetáculo, é criada por Diego Molina. A Trilha
sonora é de Armando Babaioff, e Breno Sanches (um mix de aperfeiçoamento
técnico). A locução em off é de Ronaldo Julio e os adereços foram criados por
Tuca. Fotografia Maya Zalt. Assessoria de Imprensa Sheila Gomes.
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