Alex Nader (Cassius), Gillray Coutinho (Homem), José Loreto (John-John), João Velho (Odin) e Kadu Garcia (Emanuel), em "A Paz Perpétua", direção Aderbal Freire Filho. |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"SAPERE AUDE"
- "Ouse!" Os intelectuais da Espanha são uma fonte de surpresas.
Aderbal Freire Filho também. E quem conhece Juan Mayorga? Somente eles... Pois
está presente, até o dia 11 de dezembro, no Oi Futuro do Flamengo, com o texto "A
Paz Perpétua", escrito pelo espanhol libertador e traduzido pelo
brasileiro, que também dirige o espetáculo: Aderbal Freire Filho. Emanuel Kant,
o filósofo, inspira, levantando a questão do "territorio" - a pessoa
que está em seu "Domínio" tende a repelir o visitante que interfere.
Como os cães. O espanhol Mayorga completou este ano 50 anos de vida. São mais
de 50 peças escritas, e esta "Paz" veio completar uma inicial
"Palabra de Perro", de 2003. Seu tema? Liberdade pessoal, território,
prisão?
O que sabemos, sim, é que vamos falar de
sensibilidade, ousadia e imaginação. Não
se passa incólume por Juan Mayorca. Aparentemente estamos em uma sala onde
seres estranhos se comportam estranhamente. Procuramos não ter informação
anterior sobre o que iremos assistir, mas é quase impossível. Subitamente
percebemos que estes seres usam coleiras, e que há alguém que os leva pela
coleira, e esse alguém é venerado (temido?), pelos demais. São quatro homens em
uma encruzilhada.
Não quero falar aqui de "forma"
e "conteúdo". Percebemos que há feras selvagens por detrás daqueles
homens e um deles, com um simples - "Seat!" - transforma os demais em
dóceis criancinhas. É preocupante, tal estado de coisa. Revela que "os
homens" obedecem a quem lhes comanda. Temem a quem comanda, e se tornam submissos...
Até aí, tudo bem. Mas não dá mais para continuar
fingindo que não estamos entendendo o que está acontecendo no palco. É algo tão
inusitado que nos eleva a tensão. E vamos encontrar o paralelo entre a fera e o
homem. Os quatro cães possuem características humanas ou: os quatro homens
possuem características caninas. Eles são cães, rosnam como cães, e como
animais se alimentam. Mas eles são homens...
Não conseguimos imaginar quais argumentos
usou o diretor para extrair destes cinco atores (Alex Nader, Gillray Coutinho,
João Velho, João Loreto e Kadu Garcia), a tensão permanente que pede seus
personagens. Aderbal afirma que trabalhou com a idéia de que todos os homens
têm cachorros dentro de si. O fato é que estamos diante de um espetáculo
intenso, que cobra muito dos atores. Há sincronia, entre os cinco, cada qual
carregando a sua característica, mostrando os principais tipos e personalidades
que pertencem aos humanos. Assim, temos Odin, o cínico, carregado com dignidade
por João Velho (a gente não entende completamente o que Odin fala, mas seu dono
é tão expressivo, em sua "poção cachorro" que passamos a entender a
sua "não fala" - sabemos que é uma questão de respiração que, também às
vezes ataca os humanos). Outra personalidade interessante é a do cachorro
Emanuel, o filósofo. Ele nos leva às lágrimas, contando como deixou morrer a
sua cega dona, a sua amada. Este ator, Kadu Garcia, dá-nos a impressão de que
já foi de circo (adoro a sensibilidade dos atores circenses), tal a gama de
expressões e gestos naturais que ele semeia. É um inferno, esse ator!
E temos também John-John, o cão atleta, o
cultivador de seu "desempenho" enquanto cão, em luta com suas
limitações intelectuais. Comovente atuação de José Loreto. O seu John-John
também "Ousa Sapere!". E, finalmente Alex Nader, o cão Cassius,
treinador de todos os cães. Cassius já foi campeão, já usou a "coleira
branca" pela qual os outros estão
lutando, já foi o líder dos cães antiterror, um dominador! Agora é somente um
aleijado, mas sobreviveu, o que não se sabe se acontecerá com os que estão
sendo treinados por ele, no momento. Um intenso desempenho de Alex. E o
"Humano" acontece, na fala final do verdadeiro treinador,
interpretado por Gillray Coutinho. Sua voz de comando se assemelha muito às
ordens dos humanos em relação aos que lhes são subordinados. E é aí que a peça
se esclarece! Os cães atendem à fala do Humano, e entre os rosnados e dentes
arreganhados do início eles terminam, instigados pelo treinador, em uma luta de exterminadores. Os cães se
precipitam em sua própria destruição!
Teatro contemporâneo. Ficha
técnica: Autor: Juan Mayorga; Tradutor e Diretor: Aderbal Freire Filho; Diretor
Assistente: Fernando Philbert; Iluminação: Maneco Quinderé. Ator stand-in
Manoel Madeira. (Não temos Figurinos e Cenário).
Legal!Mas seria interessante também pensar como a informação "não temos Figurino e Cenário" é notada(ou não) no espetáculo,enquanto elementos constituintes da cena.
ResponderExcluirIsto sugere um caminho de despojamento?de improvisação?é uma constante de um coletivo de teatro?de apagamento de certa compreensão de cena e teatro?Ou falta recursos?e as coleiras?o que são?adereços?enfim,os desafios que a crítica estética sempre tem de lidar.
Abs.
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ResponderExcluirFigurino: Antônio Medeiros
ResponderExcluirCenário: Aderbal Freire-Filho
Direção Musical: Tato Taborda
Fotografia: Nil Caniné
Produção Executiva: Nil Caniné
Direção de Produção: Sérgio Martins
Realização: Somart Produções Artísticas
Capitu, não recebi ficha técnica, tive que pesquisar para saber que Maneco fazia a luz. Não tive notícia de figurino e cenário.
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