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sábado, 23 de março de 2019

"AO SOM DE RAUL SEIXAS - MERLIN E ARTHUR - UM SONHO DE LIBERDADE"

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Vera Holtz (Merlin), Gustavo Machado (Lancelot), Larissa Bracher (Guinevere) e Paulinh Moska, (Arthur).. Direção Guilherme Leme Garcia (Foto Camila Mira) 

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

          AO SOM  DE RAUL SEIXAS  - MERLIN  E  ARTHUR  
                            UM SONHO DE LIBERDADE

      . . . estreou no Teatro Riachuelo, concepção  e  direção de Guilherme Leme Garcia, sobre o  texto  original de Marcia Zanelatto. Em forma de musical, é-nos relatada a saga do Rei Arthur da Távola Redonda, sua amada Guinevere e seu amigo Lancelot.  Quem de nós já não conviveu, em sua imaginação, com este nascimento fantástico da Grã Bretanha? Os mitos e lendas se tornam verdade, não há quase nada tão lindo como a narrativa deste episódio. Quem não se lembra de “Sir” Lancelot Du Lac, o francês? Quem não se lembra da futura rainha da Bretanha, Guinevere de Cameliard, que nutria um amor adolescente por Lancelot? Quem não se lembra de Camelot?

     E temos ainda muito mais: temos a bondade do Rei Arthur, o menino prometido para comandar a Inglaterra (a Bretanha), o menino que retirou a espada mágica – Excalibur – encravada na pedra encantada? Quem assim o fizesse seria o prometido do reino, e Arthur o conseguiu. E o Mago Merlin, interpretado por Vera Holtz, em versão projetada em audiovisual. Mas nunca uma projeção dominou tanto um espetáculo!

     E temos Fata Morgana, cuja versão artística é entregue a Kakau Gomes. A Fata se transforma em Anamorg. Também com este sabor “ao contrario” encontramos Dreadmor, que é Mordred na lenda. Mordred, o maligno. Ele é interpretado por Patrick Amstalden. Coisa interessante: quando o mal surge a cena se aquece! O Mal e o Espírito do Mal resolvem qualquer espetáculo. Quando são perfeitos, é claro! A Fata Morgana (Anamorg) espicaça as angustias da doce Guinevere (Larissa Bracher) com sua invejosa interferência. O bondoso Rei Arthur é interpretado por Paulinho Moska. O cantor-apresentador nos mostra que também pode ser ator, e cumpre seu papel com dignidade. Às vezes as luzes, as sombras e as imagens cobrem a mágica música de Raul Seixas - ou a exacerbam - porém Raul é um poeta, e sua poesia toma conta do espetáculo. Vera Holtz as fala, em meio às brumas, e sua reprodução nos encanta. As canções do Raul são precisas. Jamais nos esqueceremos do final do primeiro ato, cantado por todo o elenco, 22 pessoas, um verdadeiro hino que é “Sociedade Alternativa”! Nunca vamos nos esquecer deste Intervalo.                                                                                                                                                                                                                    Aliás, entremeado com a narrativa da lenda vemos refletidos os problemas do nosso “reino”. Aqui também há guerras a serem vencidas... tiranos a serem combatidos, traidores... Não há um ser vivo que não se emocione com o impacto dessa montagem. Podem, os mais críticos, perceberem alguns semitons em canções, ou o predomínio de uma fala, em detrimento de outra (isso acontece quando, no final, o Rei Arthur (Moska), pede o conselho do Mago Merlin (bela cena), mas Arthur sufoca, com seus tormentos, a fala do Mago). O Rei Arthur quebra o ritmo da fala, mas tal precipitação pode ter ocorrido por ser a estreia do musical. Sabemos que, em uma estreia tudo é possível. Na ocasião ficou impossível ouvir alguns dos (bons) conselhos de Merlin ao angustiado Arthur.                                                                                                                                                                                     Em tempo: Gustavo Machado interpreta Lancelot (Saulo Segredo é Lancelot jovem, e Rodrigo Salvadoretti é Arthur jovem). Há varias Guinevers, em um bonito quadro (dançado, uma verdadeira imagem pictórica) onde as atrizes, em sucessão de idades, jogam as suas lembranças do romance com Lancelot. (Natália Glanz é Guinevere jovem).                                                                                                                                                              Em outro “ato poético”, o diretor deixa em aberto a derrota de Arthur. O futuro fica em aberto. Guilherme Leme Garcia é de um cuidado e de uma percepção muito boas, a respeito desta lenda tão amada por todos. “Merlin e Arthur - um sonho de liberdade” é um espetáculo que vale a pena ser visto.                                                                                                                                                                                                                                                      Música ao vivo com Direção Musical e Arranjos de Fabio Cardia e Jules Vandystadt. Regência de Claudia Elizeu. Figurinos muito bem lançados de João Pimenta. Direção de Movimento e Coreografia de Toni Rodrigues. Direção Artística Aniela Jordan.  Gustavo Vabner é o Diretor da Equipe de Criação. A ficha técnica possui vários componentes, em um sofisticado arranjo. Parabéns a Bianca Caruso, Diretora de Produção.  

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