Elenco e músicos de "Minha Vida Daria Um Bolero": da esquerda para a direita: Diego Zangado (percussão); Françoise Forton e Aloísio de Abreu (atores), Itamar Assiere, piano. Texto de Artur Xexéo. Direção Rubens Camelo e Paulo Denizot, também diretor musical (Foto de Moskow).
IDA VICENZIA
Crítica de Teatro
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro
–
AICT)
Em
cartaz nos fins de semana no Teatro Vannucci um espetáculo simpático, simples e
carregado de empatia. O público se identifica. Trata-se de “Minha Vida Daria Um
Bolero”, texto de Artur Xexéo, direção de Rubens Camelo e Paulo Denizot. Para
quem quer assistir a uma comédia musical sem maiores pretensões, é uma boa
pedida. Os atores se comunicam através da
música e de suas vozes narrativas, havendo o encontro definitivo só no final do
espetáculo. A ação se desenvolve sob a interpretação dos personagens de
Françoise Forton e Aloísio de Abreu.
Nada mais simples: dois músicos e dois
atores compõe a cena. Entre os músicos temos ao piano Itamar Assiere - que também
faz a Direção Musical, e Diego Zangado na Percussão. Diego tem uma pequena
participação no enredo, quando empresta seu celular para Diana Miranda (Forton),
que está atrapalhada procurando localizar seu amigo (e futuro amor) Orlando
(interpretado por Aloísio de Abreu). Ela está no meio de uma tempestade carioca!
Aliás, a cena da tempestade é muito bem conduzida. Os encontros e desencontros
do futuro casal são resolvidos com muito bom humor do texto, direção e atores.
Todos colaboram acertadamente, para alegria do público. O canto e a dança são
recebidos com emoção pela plateia, que chega a cantar, a meia voz, alguns dos clássicos
boleros apresentados, como “Tu me
acostumbraste”, “Contigo Aprendi”, ou “Aquellos ojos verdes”, e muitos outros
mais. São 18 músicas interpretadas, em 70 minutos, pelos dois atores. É
surpreendente. É ver para crer.
Simples, o cenário de Carlos Alberto Nunes concretiza-se apenas com um
pano de fundo negro onde se destaca a logomarca da Radio Mundo. Uma mesa no
centro da cena, ao fundo, e sobre ela um transmissor de rádio. É neste
transmissor que Diana Miranda (Françoise Forton) veicula o seu programa: um consultório
sentimental para notívagos. Diana trabalha durante uma hora (da meia noite até 1
hora da madrugada), mas o programa não possui audiência, e, justamente na noite
em que ele vai sair do ar, é quando tudo acontece. Orlando (Aloísio de Abreu)
surge e o mundo muda, porém ela não imagina o quanto.
Como já foi dito, o espetáculo encanta pela sua despretensão. Tudo é
feito com muita inteligência e profissionalismo. A simplicidade também pode ser
complexa... As trocas dos figurinos de Clívia Cohen, os próprios figurinos, tão
simples, acabam se transformando, como em um passe de mágica, e a facilidade
com que Forton radialista se transforma
em uma cantora (e o que faz com muito humor e ironia), é surpreendente. Também Aloísio
de Abreu (excelente intérprete), surge, em primeira cena, vestido a caráter, terno
e gravata, mas aos poucos vai se descontraindo e fazendo surgir o professor de
dança de salão. Aloísio (Orlando) é o personagem que se apaixona pela voz da
radialista, e este mote acompanha o desenrolar da cena: pode o amor surgir pelo som de
uma voz? Aliás, os dois se apaixonam ao
ouvir o som de suas vozes... Constatamos que o espetáculo é uma homenagem ao som,
em todos os sentidos.
A direção de movimento é de Marina Salomon,
e a preparação vocal é de Paula Santoro. Ao todo, um espetáculo bem cuidado e
uma equipe técnica de primeira. Enfatizo: o que encanta no espetáculo é a sua despretensão
e o humor que o permeia. A plateia agradece.
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terça-feira, 19 de março de 2019
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