IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
O ANJO DO APOCALIPSE
O Professor Clovis Levi, a quem podemos chamar de o
Dramaturgo Clovis Levi, acaba de nos apresentar uma obra prima sobre o início
dos tempos, sobre os caminhos da Bíblia, desde o Antigo Testamento até os
nossos dias! O texto chama-se “O Anjo do Apocalipse” e mostra como as
religiões, que vieram para “religar” os humanos, podem se constituir em um
engenho de destruição! Conheçam “O Anjo do Apocalipse” e reconheçam a força da
palavra como o nascedouro de todas as desgraças! Para o autor – estremeçam! –
tudo começou no Oriente Médio, e tudo vai acabar no Oriente Médio! Mas tudo não
é tão simples assim. Este Anjo vai nos dar a conhecer a força do “Deus dos homens”.
E Deus existe, afinal?
Vamos retroceder aos
templos bíblicos (e saímos deles?), e tentar entender tudo o que acontece no
Teatro Ipanema quando alguém, com visão, resolve contar a verdadeira saga
do Oriente Médio, ONDE TUDO COMEÇOU, E ONDE TUDO VAI ACABAR!
E vamos falar das três
religiões que continuam a comandar o mundo: vamos falar como aconteceu o
Judaísmo, o Cristianismo e a Revolução Muçulmana. Que lugar complicado, esse
tal de Oriente Médio! Como foi que tudo aconteceu mesmo?
“O Anjo do Apocalipse”,
texto de Clovis Lei, é um estudo aprofundado (e poético) que tem por finalidade
nos relatar os caminhos da religião também nos tempos atuais e ocidentais (sim,
porque não podemos negar que o Ocidente está metido até o pescoço neste
embrulho cósmico!), mas, o que para o Ocidente talvez fosse um estudo sobre as
religiões, transformou-se, para Levi, em Teatro, Dramaturgia, Drama! Diz
o autor que o texto surgiu em 2008, e sua intensão era escrever um livro, mas
tal não aconteceu, e, o que vemos agora é um texto incisivo, irônico, que se
debruça sobre a saga humana, onde a religião é o fator determinante. O que pode
acontecer agora é você ir até o Teatro Ipanema (sempre ele, com historias
pontuais, como nos tempos de Rubens Correa!), e pensar um pouco sobre o
desvario dos homens neste Planeta Terra, e como tudo isso acabará.
Tentemos entender agora um
pouco do que aconteceu no lendário Teatro Ipanema, nesta estreia de 2019!
O texto se desloca, e
atinge os últimos acontecimentos, os do Século XXI. EUA, RUSSIA, e os povos do
Oriente Médio continuam, agora, tão envolvidos como o foram os povos antigos,
em milênios passados! O estudo começa com o início dos tempos religiosos (sobre
a saga dos Orientais, bem entendido) e mostra-nos como o DEUS, exuberante e
bíblico, comanda seus protegidos DESDE SEMPRE: ou seja, desde tempos imemoriais
até os nossos dias! Aprendam como se conta essa historia, com Clovis Levi no
texto ... e Marcus Alvisi na direção!
Tempos imemoriais. Tempos
do Anjo Guerreiro, o Mensageiro, com sua Espada de Fogo. Ele é o Querubim, o
que comanda todas as milícias (interpretado com “carisma e humor” por Marcello
Escorel). Como diz seu criador, na peça, Clovis Levi, o ator que vai
desenvolver este personagem tem que ser carismático, e o papel foi entregue a
Marcello Escorel. O Anjo Guerreiro se apresenta: “...sou o Querubim mais
prestigiado das milícias celestiais, cargo que ocupo há três milhões e meio de
anos...”
Ficamos imaginando, no
decorrer da narração de toda essa Historia Celestial, como era poderosa a
imaginação dos homens antigos... e como ela permanece poderosa, cada vez mais
poderosa! Senão vejamos: O Anjo avisa Abraão, a mando de Deus (e uma voz
poderosa se faz ouvir, a voz de Deus, comandando Abrão): “Sai-te da tua terra
para a terra que te mostrarei. E far-te-ei uma grande Nação”. (O Querubim
observa, com júbilo, as “ênclises” e “mesóclises” com que Deus fala, e
acrescenta para o público): “Essa Terra Prometida vocês não tem noção da
ma-ra-vi-lha que vai ser”. E Deus continua, com seu vozeirão: “Esta terra,
Canaã, onde jorrará leite e mel, mais tarde chamar-se-á Palestina”.... E aí
começa o rolo todo que vocês conhecem, que culmina com 1948 e a criação do
Estado de Israel, e por aí vai! Só vendo, para crer! NÃO PERCAM!
Além da prestigiada
interpretação do Anjo, de Marcello Escorel, o “Anjo Guerreiro”, temos mais dois
atores, que interpretam a mulher palestina Zahra e o judeu Eliakim, em diversos
momentos da historia humana daquela região (que reflete a nossa Historia, é
claro!), e vai tocar na nossa insensatez eterna! Bravos Zahra (Juliane Araújo)
e Eliakim (Daniel Dalcin)! Um elenco tão verdadeiro e competente consegue
concretizar o que é lido no (agora) texto teatral de Clovis Levi. Alguém poderia
imaginar que este professor tranquilo e acolhedor carregasse dentro de si o
Aristóphanes dos tempos modernos?! E que seus personagens, que tudo possuem,
matassem e morressem, como diz Zahra, com o ódio que nem ela entende?
“Essa é a minha terra, diz Zahra, e é por ela que eu mato, é por ela que
morro.”
Para resumir a situação,
temos um dramaturgo entre nós! Ele possui a bela e terrível compreensão do que
está acontecendo, e do que sempre aconteceu, neste mundo que nos cerca. E, no
Teatro Ipanema, graças à conjunção de vários fatores, entre eles o acerto do
convite a este diretor maravilhoso que é Marcus Alvisi (imaginamos que, sem
ele, talvez essa historia não seria contada com tanta precisão), temos
profissionais de primeira qualidade transformando o que “pensávamos ser
impossível levar à cena”, em um espetáculo simples e fluente, como é a
narrativa inacreditável dos primeiros tempos da humanidade. O que vemos no
palco se transforma, a todo momento, nas mãos dos magos que são Clovis Levi,
Marcus Alvisi, João Dias (e nos perguntávamos como seria colocar a Palestina no
Palco!), e Aurélio de Simoni (essa luz que Deus lhe deu, e que ele
considera “bobagem”!)
Temos ainda a trilha
sonora criada por Alvisi e Joel Tavares, assistente de direção. Temos as asas
do anjo da atriz e aderecista Maria Adelia e vemos, no final, um sóbrio
Querubim Marcello Escorel. Ficamos nos interrogando o porquê de tanta
sobriedade, e o Anjo do Apocalipse rememora: “Quando escrevi o Apocalipse,
milênios atrás, o que eu via era o número sete. No Oriente Médio sete países
acabaram de entrar em guerra. O que se vê, agora, em toda a Terra, é a Cólera
de Deus, muito choro e um interminável ranger de dentes”.
Porém, o Anjo Apocalíptico
tem esperança, e conclui:
“Em algum tempo ainda
muito distante, descerá dos céus uma Cidade Nova – uma santificada Jerusalém.
Mas, até lá, a voz de harpistas, a voz de violinos, a voz de tocadores de
flautas e de clarins, jamais, jamais em ti se ouvirá.” (...)
Neste texto de Clovis Levi
o que ocorre é a constatação da loucura humana, e também a facilidade de
fabulação que o ser humano possui. E o autor conclui que, nesta Historia da
Santidade, o Vaticano também entra na dança..., e nos leva a pensar, novamente,
naqueles tempos de Luxo, Riqueza, Corrupção, INQUISIÇÃO! Tudo igual, em termos
de destruição! Eis uma peça que nos leva ao raciocínio e à compreensão do
desatino que está sendo a nossa passagem por este nosso tão amável Planeta
Terra!
NÃO
PERCAM CLOVIS LEVI. Ele possui várias peças escritas e encenadas,
mas o verdadeiro dramaturgo está aqui, com todas as letras, assinando a
este nosso “O Anjo do Apocalipse”!