Marcelo Serrado em "Não existe mulher difícil" (foto divulgação) |
CRÍTICA TEATRO
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Trata-se de um texto de Lucio Mauro Filho,
inspirado no livro de André Aguiar Marques, com direção de Otavio Müller (um
excelente diretor), e com o ator Marcelo Serrado aceitando o desafio de interpretar
um texto descompromissado, segundo os idealizadores, um texto sobre "o
cafajeste moderno"... O espetáculo nos pegou de surpresa. Ele visita todos
os tipos de comédia, desde a chanchada brasileira até à fescenina italiana,
passando pelo rústico interiorano do Brasil, e indo até a suposta ginga do
carioca. Marcelo Serrado é uma caixinha de surpresas, só vendo para crer.
Perpassando o espetáculo, a marcação
operada por Serrado, ao piano, apresentando as cenas que vão ser interpretadas:
de terror, amor! suspense... É quando entram em cena Erasmo Carlos ,
os sertanejos... e Michel Teló! Trechos sussurrados pelo ator. Somente trechos,
é claro, citados na voz de Marcelo. Surge até Roberto Carlos... e o "show"
da noite que é a sua interpretação de Renato Russo! Sim, vale a pena, Marcelo
Serrado é um dos melhores intérpretes do cantor brasiliense, e faz uma justa
homenagem a ele, neste tempo de homenagens a Renato Russo! Eu ouvi o timbre,
não me pareceu play back, a não ser que tenha sido muito bem operado. O ator consegue
surpreender, ainda, quando se "comunica" com a plateia. Trata-se de
algo inesperado, vindo de um ator de perfil tão... clássico! (não estou
exagerando, mesmo apesar de algumas comédias que ele tem participado,
ultimamente).
Explico: Falo de seu aspecto físico. Marcelo
Serrado parece talhado para fazer um Calígula, um Cipião, o Africano, o grande
general romano da Segunda Guerra Púnica, ou um "Varão de Plutarco"! (e
não fujo à verdade). Porém, para nossa surpresa, ou talvez não, ele se compraz
em fazer comédias. Desafios? Neste "Não existe mulher difícil" ele
nos brinda com marcações musicais ao piano e um "encontro com o
público", onde a descontração impera... e também os olhares fascinados da
plateia.
O mínimo que posso registrar é o
surpreendente poder de comunicação de Marcelo Serrado. Conheço seu trabalho, e
tenho observado com cuidado o desempenho deste ator em cinema e televisão. Trata-se
de um artista cuidadoso com os detalhes de sua profissão, um ator sério e
talentoso que nem sempre teve a oportunidade de jogar com um papel que
revelasse todo o seu talento. Este monólogo apresenta um ator disposto a se
comunicar, ora como personagem de um
homem que acaba de se separar da esposa, ora como ele mesmo, Marcelo
Serrado, com seus comentários e improvisações. Neste monólogo, Marcelo não se
limita a comentar o comportamento e as idiossincrasias femininas, passando em
revista todo tipo de mulher: desde a patricinha, a cachorra, a mulher casada, e
outras mais, seu retorno, como personagem, ao "mercado dos solteiros"
depois de uma fracassada experiência de vida a dois, pode ser hilariante...e,
às vezes, traumatizante!
Nestes tempos de homens se justificando, chorando
e pedindo desculpas por um passado autoritário do qual eles não foram
protagonistas (os patriarcas autoritários
pertencem, agora, a uma classe extinta), este homem que chora e pede
desculpas é o mesmo fiel cafajeste, representante de uma espécie (talvez) em
extinção: o heterossexual! Neste
espetáculo nos confrontamos com o homem temeroso do poder da mulher, este ser
que "sangra e não morre". A plateia fica absolutamente fascinada por este
ator/personagem que é capaz de reconhecer
a sua parceira e seduzir o público com as grandes diferenças que existem entre
o masculino e o feminino. Seu bordão? "Não vai dar certo!" É o que
provoca um sorriso nervoso nos jovens casais que lotam a plateia, e, ao mesmo
tempo em que Marcelo
interage com seu público, ele incorpora, como ator, os fatos ocorridos entre
palco e plateia, adaptando-os ao espetáculo. Marcelo Serrado consegue essa
interatividade, e o que presenciamos é um diálogo gostoso, saudável e carinhoso.
Fica aqui o registro. Se algum dia Marcelo Serrado voltar a apresentar
"Não existe mulher difícil", não percam! Agora ele está no SESI de Itaperuna.
Ficha técnica: Direção de Arte, Maria Borba; Direção Musical,
Marcio Tinoco; Trilha Sonora: Dany Rolland. Iluminação: Paulo Denizot.
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