IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
O espetáculo infanto-juvenil "Algumas
aventuras da 20.000 léguas submarinas" ficou tão interessante, que até os
adultos se deliciam com ele. Texto, diretor, autor e ficha técnica se reuniram
para realizar a façanha de levar Jules Verne ao palco sem as limitações de uma
cena pobre. Tudo o que vemos tem amparo e substância. É o famoso teatro do
"ensemble", tão festejado pelos franceses, no qual todos os elementos
da cena interagem com a mesma precisão: atores, encenadores, palco cênico, são
um acerto só. E, neste sentido, o texto
de Fátima Valente e a direção de Antonio Carlos Bernardes apostam em um espetáculo
vivo e bem construído, desde a primeira cena, do naufrágio da fragata Abraham
Lincoln, passando pelo tubarão atacando os humanos, até seu final. Neste
sentido, a sucessão de cenas rápidas mantém a atenção do público.
As soluções do cenógrafo Carlos Alberto
Nunes, unido ao cenotécnico Marco Souza e seus colaboradores, fazem o prodígio
de revezar, em cena, os vários aposentos do Nautilus (o submarino inventado
pelo Capitão Nemo), e unir a eles as visões do oceano profundo. É com puro encantamento
que jovens e adultos observam as profundezas do mar, especialmente a passagem de
Atlântida, a cidade encoberta, trazendo para a cena o ponto alto dessa
demonstração estética "art-nouveau", que é o espetáculo. A reprodução
em miniatura do Náutilus é uma pequena joia, de Nilton Katayama.
Capitão Nemo (em carismática interpretação
de Mouhamed Harfouch), como vocês devem saber, é um homem tão desiludido com a
barbárie humana, que resolveu se mudar para o fundo do mar. Vai daí uma crítica
que Jules Verne faz aos desmandos da humanidade, crítica essa que se ajusta a todos
os tempos. Porém, Nemo é radical, e pode não ser bem compreendido pelos jovens
de hoje, que ainda possuem ilusões a respeito do gênero humano. Quem não se
lembra do sentimento de estranheza que tínhamos, muito jovens ainda, quando líamos sobre esse "capitão
dos mares" tão desiludido com os acontecimentos na terra?
Fazendo o jogo cênico com o capitão, temos
as excelentes interpretações de Alexandre Dantas, como o Professor Pierre
Aronax, o estudioso que se deslumbra com os acontecimentos no Nautilus; seu
assistente, Conselho (uma hilária interpretação de Augusto Madeira), e Erom
Cordeiro, como o Ned Land o "arpoador da marinha americana" que, pego
de surpresa nesta nova aventura, sente saudades de sua firme terra, e dos
quitutes inerentes à mesma (ele já não aguenta mais comer peixe...). Marcio
Malvarez é o capitão Farragut, comandante da fragata Abraham Lincoln. Ele desaparece,
junto com o seu navio. Temos ainda, neste elenco de 8 atores, os soldados,
interpretados por Dio Jaime, Marcos Pereira e Gabriel Bezerra, e ajudantes de
cena, a caráter.
São narrados apenas alguns trechos desta
obra de Jules Verne (sua viagem tomaria, com certeza, mais do que a 1 hora de
duração do espetáculo). Esta é a medida necessária para manter a atenção das
crianças, que permanecem absortas nos acontecimentos. Um destaque especial para
Paulo Cesar Medeiros na luz, e os figurinos precisos de Kika Lopes e Masta
Ariane; a música original é de Marcelo Alonso Neves, com adicional de Camille
Saint Saens (o preferido de Proust, lembram?). Direção de movimento de Duda
Maia. Videografismo dos irmãos Rico e Renato Vilarouca. Para quem está acostumado com o teatro infantil, mais preocupado em
divertir do que desenvolver senso estético e gosto pela palavra (aliás, pela
atenção com que o público jovem acompanha o espetáculo, percebemos que está mais
do que em tempo de equiparar essa linguagem com a do cinema de aventura). Tal fato,
o diretor Bernardes percebeu, com este Jules Verne cheio de emoções e imagens
inesperadas. Um bom espetáculo, para agradar a todas as idades. (E uma porta
que se abre, convidando a crítica a conferir outros espetáculos do gênero).
Bom dia! Excelente matéria! Por acaso saberia informar onde essa peça está em cartaz atualmente?
ResponderExcluirAh, ia me esquecendo... meu contato: marcop2011@gmail.com
ResponderExcluir