Gregorio Duvivier em "Uma Noite na Lua" (foto divulgação) |
IDA VICENZIA
FLORES
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Um bom exemplo de virtuose cênica é o de Gregorio
Duvivier, que reestreou no teatro do Jockey com o monólogo "Uma Noite na
Lua". Texto e direção de João Falcão, para um espetáculo urbano que
apresenta uma linguagem gestual bastante sofisticada. Em sua procura de
sofisticação, o figurino de Hugo Leão colabora, uma vez que o personagem de
Duvivier movimenta-se com a desenvoltura de quem está vestido a caráter, em seu
smoking cor de cinza. Ou talvez, ainda, pelo fato de o ator mostrar uma ótima formação
de mímico, o que dá uma marca ao espetáculo, com sua linguagem bem acabada gestualmente, quase um balé.
Em seu texto, Falcão imagina um autor teatral que oferece uma peça de teatro inexistente, e se compromete a entrega-la, da noite para o dia, criando-a do nada, em uma única noite. Aí começam os problemas, que são
acompanhados por gestos e frases bastante eloquentes, do comprometido autor. Vamos nos ater apenas aos gestos dessa noite insone, uma vez que as frases,
quase sempre, são de dor pela ausência da amada Berenice, que o abandonou, ou
pela angústia de não conseguir realizar o seu prometido ato de criação.
O melhor, que é incorporado à cena, são os
gestos de Gregorio Duvivier: o jogo com o chapéu, que lembra as brincadeiras
dos palhaços de Beckett em "Esperando Godot", algo meio clown (talvez
à sua revelia). Ou a concretização de objetos imaginados. Medalha em excelência
mímica, tudo o que Gregorio enfatiza se transforma em realidade: a bola de
tênis, as visões em espaços imaginários e, coroando a cena, o retorno da
amada... Observamos ainda, que em "Uma noite na Lua" há a criação de
uma técnica nova, "Assistente de Memorização", feita por Clarice
Falcão, algo que se imagina muito útil, em se tratando de monólogos, pois a
memória do ator, nestas circunstâncias, é a sua única defesa. A direção musical
de "Uma Noite na Lua" é de Dani Black e Maycon Ananias. Preparação gestual
de Gilvan Gomes. O autor, além da direção, cria a trilha sonora e os reajustes
na iluminação. Um trabalho de ourivesaria, portanto. Há um clima expressionista no espetáculo, com seu jogo de luz e
sombra. Vale a pena ir ao teatro do
Jockey.
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