Vanessa Gerbelli (Diana, a mãe); Cristiano Gualda, (Dan, o pai) e Olavo Cavalheiro (o filho Gabe, em um de seus passeios, na imaginação da mãe) Foto: divulgação |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"Quase Normal" é um musical cujo
tema é o sofrimento de alma de uma mãe, e seu caminho para a liberdade e o autoconhecimento.
O texto de Brian Yorkey, com música de Tom Kitt, Prêmio Pulitzer de 2010, traz
para a cena o transtorno bipolar, uma doença que pode afetar o dia a dia da uma
família, como acontece com o simpático casal Diana e Dan Goodman e sua filha
Natalie. Os delicados caminhos desse "Quase Normal" fazem-no uma
exceção em sua categoria. Tadeu Aguiar, que adaptou o texto e dirigiu o
espetáculo, foi pego pela emoção do que se passava em cena, quando assistiu na
Broadway ao espetáculo, cujas músicas complementam a ação, no compasso de uma ópera
rock.
A cena começa com o encontro matinal da
família, culminando, esse encontro, com o procedimento inusitado da mãe, ao
colocar os pães, dos sanduíches que prepara, enfileirados no chão! Este procedimento
toma de surpresa a plateia desavisada, ao lançar problemas de laços partidos e terapias.
Há outros musicais com temas que colhem os espectadores de surpresa, como "Angels
in America", também ganhador do Pulitzer, levando à cena os problemas da Aids.
Há outros musicais que abordam temas profundos, entretanto, em "Quase
Normal" somos pegos pelo drama de uma mãe que perde um filho. Ficamos
sabendo que o transtorno bipolar pode ser desencadeado por um trauma e, de
supetão, entramos no conflito de uma bela família que abriga a dor. Gabriel Goodman,
o filho que compartilha a mesa (Olavo Cavalheiro, em comovente desempenho), é
apenas uma doce criação de sua mãe, pois ele faleceu quando era ainda um bebê.
As cenas em que Gabriel aparece
aos olhos de sua mãe adaptam-se à criativa cenografia de Edward Monteiro, com
seus vários planos que facilitam os deslocamentos do personagem e ampliam o
problemático espaço cênico do teatro Clara Nunes. A lembrança do filho é uma
recorrência dramática e as intermitências de sua presença são os instantes mais
fortes da dor.
A evolução
da história narrada é marcada pelo tratamento da síndrome bipolar. Os delírios da
imaginação da mãe envolvem os psicanalistas que a tratam e os transforma, aos
olhos dela, em bailarinos de tango, e assim, temos a integração
analista/analisando através dos passos de Dr. Fine (André Dias) dançando um tango
argentino com Diana; ou o Dr. Madden (também André Dias), intervindo na
imaginação da mãe como se fosse um rockstar. Estas cenas quebram o clima
trágico, dando respiração ao espetáculo. Vanessa Gerbelli, como Diana Goodman,
é o destaque, com uma atuação segura e um perfeito domínio de voz e palco. Nas
vezes em que é solicitada a executar alguns passos de dança, o faz com leveza e
precisão. Cristiano Gualda, o correto marido Dan, completa o acerto da escolha
dos atores. Para o marido apaixonado, o importante é conservar o casamento e o
amor. A filha, Natalie Goodman (Carol Futuro), leva com humor o "segundo
plano" a que é relegada na vida da família. Henri é o namorado de Natalie,
interpretado com discrição por Victor Maia. O elenco é perfeito, em sua
demonstração de técnica e sentimento. Na ficha técnica temos um diretor
sensível, Tadeu Aguiar, e a preparação vocal de Mirna Rubin (dá vontade de se
inscrever em suas aulas de canto); os figurinos bem adaptados para as cenas são
de Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faedo. Direção musical de Liliane Secco;
adereços de Clívia Cohen. Coro e substitutos dos atores: Aurora Dias, Rafael de
Castro e Gabriel Falcão. Diretora assistente e coreógrafa: Flavia Rinaldi.
"Quase Normal" é um espetáculo comovente, que pode levar às lágrimas.
Ótima crítica!! Meus parabéns!!!
ResponderExcluirMe senti vendo ao espetáculo! Incrível!!
Valeu, Patty Dantas! Estas palavras estimulam para continuar! Beijo, Ida
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