Fabrício Belsoff (Bob), Roberto Lobo (o pai), Juliana Baroni (Malu), Rose Abdallah (a mãe), Sergio Marone (Claudio), Cristina Mayrink (Glorinha) em "Escravas do Amor" (Foto Agência News) |
CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
ESCRAVAS DO AMOR é um folhetim
escrito por Nelson Rodrigues, em 1944, sob o pseudônimo de Suzana Flag. Na
montagem de Os Privilegiados, dirigida por João Fonseca, entre cortes e
inserções chegamos ao 12º capítulo: "Eis o meu amor", com a famosa
conclusão do "parentesco" mãe e filhos, final de todo melodrama.
Acontece que essa hilária enrascada da família Maia, com seus agregados e
desafetos, arma-se em um cenário cujos acontecimentos
narram, com desenvoltura corporal e de interpretação, os capítulos de um
folhetim: são tangos e boleros amarrando a ação, como "Quiero que vivas
solo para mi", ou "Besa-me mucho". João Fonseca vai dominando a
linguagem musical com tal adesão do elenco, que a peça pode ser confundida, em
seu início, com o esboço de um musical. E os capítulos se sucedem: "O meu
amor enlouqueceu", ou "Ódio maior do que o amor", e assim por
diante, apresentados diretamente para a platéia, pelos atores.
Mas, se hoje podemos chamar a atual façanha
de João Fonseca de folhetim-em-cena - no qual os atores relatam ao público as
ações dos personagens (com um efeito surpreendente), podemos lembrar que essa
linguagem foi inaugurada em 1990 por Aderbal Freire Filho, quando levou para o palco o romance-em-cena, na íntegra. O
primeiro foi "A Mulher Carioca aos 22 Anos", escrito por João de
Minas, em 1923. Esse autor foi considerado um antecessor de Nelson Rodrigues, por
sua postura crítica em relação à sociedade de seu tempo. Só para ilustrar: depois
vieram, com direção de Aderbal e também na íntegra, "O que diz
Molero", de Diniz Machado (montagem de 2003), e "O Púcaro
Búlgaro", (2006), uma espécie de diário, de Campos de Carvalho. A primeira
incursão do romance-em-cena causou estranheza, hoje foi absorvido. Em 1996 João
Fonseca propôs a Antonio Abujamra a adaptação do romance de Nelson Rodrigues,
"O Casamento". Temos ainda, com essa linguagem direta e na terceira
pessoa, "Obsessão", texto de Carla Faour, claramente inspirado em Nelson Rodrigues.
"Escravas do Amor" conta as
peripécias da família Maia, e seus amores. Não é uma família convencional,
claro, mas é aquela que habita o nosso inconsciente, aquele local do cérebro em
que se alojam as coisas que não podem ser. A família Maia se enquadra neste
espaço, e nela o pai e a mãe vivem em desenfreado desentendimento, enquanto a
esposa se deixa fascinar por garotos. Aliás, a tendência de todos os
personagens é agir de maneira inusitada, nada civilizada. Daí o seu
irresistível apelo cômico. Aos poucos, e no decorrer das peripécias, vemos o
autor brincar com situações e personagens que brotam de sua imaginação. A cada
capítulo aparece um novo personagem, como o homem da cara marcada, o Professor
Jacó (o "scarface" hipnotizador, interpretado por Humberto Câmara); ou
mordomo intrometido e a empregada desvairada, interpretados pelo mesmo ator,
Celso André (não o percam de vista! Juro que já o vi em uma peça de Pedro
Brício); e o garoto que "quer se dar bem", Bob (Fabricio Belsoff), e realmente,
acaba se dando; ou a mãe louca (bom momento de Paula Sandroni); e Roberto Lobo,
ambos da Companhia, fazendo o pai descontrolado; e Dudu Sandroni (ator
Convidado), interpretando o médico aloprado;
Cristina Mayrink, a amante Glorinha, e Rose Abdallah a hilária mãe/amante,
ambas pertencentes ao grupo. Juliana Baroni (convidada), é a filha Malu. Há
ainda a solteirona, interpretada com acerto por Filomena Mancuso. Isley Clare é
a amiga e Alexandre Conti, o noivo. Sergio Marone, excelente ator, interpreta
Claudio, o quid-pro-quo do folhetim. Alguns são atores convidados e outros pertencem
a Os Privilegiados desde o início, em 1991.
A ação se
passa na década de 40, do século XX. Na ficha técnica, cenário e figurinos de Nello
Marrese; coreografia de Ana Bevilaqua; trilha sonora do diretor e de Rafaela
Amado. As ações vão se encaixando e, na presença de um público atento e
surpreendido, chegam a um "final apaziguado". Ponto para o autor, que
imaginou um folhetim cuja frenética loucura provoca a adesão irrestrita da
plateia. Ponto para o diretor, que consegue armar e desarmar quebra-cabeça tão
intrincado. É bom ver bom teatro.
Uhu!!!! Eu quero ver...
ResponderExcluirVocê mencionou duas peças que eu achei espetaculares: "O que diz Molero" e "O Púlcaro Búlgaro". É realmente muito bom ver bom teatro. Beijos.
Adorei a peça! Gostaria de ver novamente! uma super montagem cheia de efeitos com os personagens e a trilha sonora de boleros foi supreendente!
ResponderExcluirAMEI!