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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"BOSSA NOSSA"

BOSSA NOSSA - apresentação da Cia. Nós da Dança.
(Foto Margarida Castro)

CRÍTICA  DE DANÇA
Ida Vicenzia

"BOSSA NOSSA"
Cia. "Nós da Dança"
Regina Sauer

Interessante observar o trabalho coreográfico dos grupos de dança cariocas. A coreógrafa Regina Sauer, por exemplo, desde 1981, vem trabalhando com Dança Moderna e desenvolvendo uma pesquisa voltada para a cultura brasileira com o Nós da Dança (nome sugestivo, o da Companhia, com suas diversas interpretações, inclusive a da linguagem corporal e seus "nós", metafísicos e físicos! da vida dos bailarinos). Regina se aproxima das escolas de Alvin Ailey e de Martha Graham, cuja experiência absorveu em Nova Iorque. A "pitada nacional" fica por conta da adaptação de uma linguagem particular. Quem acompanha a trajetoria de Regina desde "Rio em Concert", seu primeiro espetáculo, em 1981, pode testemunhar essa preocupação da coreógrafa e bailarina.  
     O último a que assisti, "Bossa Nossa"(2012), com letra e música de Vinícius de Moraes e Tom, Jobim, é a fórmula perfeita para a atual linguagem de Regina: suavidade e poesia. Ficamos com a sensação de que a suavidade da coreógrafa assinala um hiato entre as agitadas coreografias de "Tchelolloco", do espetáculo "Ensaio Aberto", de 1982, por exemplo, e seu processo atual.      
      O cenário de "Bossa Nossa" é luz em foco sobre um fundo negro (desenho de luz de Luis Fernando Filipetto), em contraste com os leves figurinos brancos, ou de cenas praieiras (de Marcos Rogério), dando um clima romântico ao espetáculo. A seleção das músicas é de Danilo D'Ávila. Produção de Flavia Hargreaves e Helena Sauer. Direção e coreografia de Regina Sauer. O violão em cena é de Danilo D'Ávila, acompanhado da voz de Munique Mattos. A concepção é agradável de ver e ouvir. Regina, que parece moldar seus bailarinos para o cenário internacional (eles ganham o mundo, segundo a coreógrafa), tem o prazer de constatar que a grande maioria deles se mantém fiel, como é o caso de Patricia Ruel, Stella Maris, Adriana Salomão, Alan Rezende, e muitos outros, alguns há mais de vinte anos na Companhia.  
     Podemos dizer que "Bossa Nossa" é um "recital" em homenagem a Tom e Vinicius. Ele se inicia com o grupo de bailarinos sentado em volta do violonista e da cantora, entoando baixinho as músicas propostas por Danilo, como Águas de março, Felicidade, Insensatez e muitas outras. A plateia a tudo assiste e tem-se a impressão de que aquele momento é uma pausa nas questões do dia a dia, da política, dos problemas, para dedicar um momento à poesia e ao amor. No início do espetáculo, a bela voz de Munique, acompanhada do violão de Danilo, sublinha os diversos aspetos do sentimento amoroso e, pouco a pouco, os bailarinos se manifestam, em sua própria linguagem, desenhando passos de dança nas frases da música, como se estivessem improvisando. A principio eles se revezam, para colocar-se, novamente, na posição inicial, sentados no chão; novamente em círculo, como se estivessem na sala de sua casa, ouvindo música com os amigos. É algo muito especial. No som do espetáculo, a voz de Elis Regina, Tom Jobim, Nara Leão, e a próprio Vinicius, vão cantando os sucessos da bossa nova. Entre os que assistem ao espetáculo, uma sensação de paz, e um gostinho de quero mais.   

2 comentários:

  1. Suas criticas são sempre poéticas, o olhar atento e critico de modo algum afasta a emoção. Este é um espetáculo que sempre nos emociona e tem a qualidade de envolver públicos muito diversos, inclusive os que não estão habituados a assistir espetáculos de dança.
    Estamos com planos de retornar ao Carlos Gomes em dezembro para uma única apresentação.

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