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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"TUDO BALANÇA PORQUE DEUS DANÇA"

         
                  Aline Guimarães em "Tudo Balança Porque Deus Dança"                              
                                           (foto Carol Beiris)


CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

E, de repente, estamos diante de um espetáculo poético. Vamos para uma região onde "Tudo balança porque Deus dança". Sim, entramos em um espaço "sem ontem nem amanhã", como diz o poeta (o outro poeta). E não sabemos como será. Dependemos da natureza, sim! Ao longe, as luzes da cidade; aqui, o breu do morro Cara de Cão... e a lua cheia! Claro, assim foi no dia da estreia (27 de outubro), desse estranho espetáculo cuja dramaturgia é imaginada por Pedro Kosovski, a direção, de Álamo Facó, para um texto de Aline Guimarães, que também é a atriz do espetáculo.
          Fica a pergunta: Há, realmente, um texto?
     Trata-se de um espetáculo para espíritos aventureiros. Tremei, inimigos do mar! Vamos a ele, abençoados pela lua cheia, e por Cacilda Becker. Saímos de sua praça, na Urca, dentro de uma traineira que comporta 40 pessoas. O marinheiro, "gaúcho", solta as amarras e desfaz o nó. Basta uma leve pressão de sua mão, e estamos entregues ao mar. Mas não! Eis que surge, ao longe, uma figura estranha, mistura de índia e caiçara, remando a sua canoa e nos abordando, entrando no barco, murmurando: "fui buscar água de beber..." E entramos em um mundo onde a imaginação impera.  
     Sim, a nossa "caiçara" é descendente da uma tribo. Tupinambás? Temiminós? Ela tem experiência nessas lidas. Prepara a sua casa para nos receber, murmura pensamentos. Enquanto a esplêndida paisagem toma conta de tudo, lá fora. Não há poema que resista ao lento passar das luzes da Urca, a cidade agitada, ao longe, e o murmúrio da água. Sim, há também o barulho manso do motor, e as voltas que o Marujo dá, no comando do leme. Finalmente paramos em frente ao morro às escuras, silencia o motor, e uma voz nos leva a remotos tempos de conquistas: há franceses querendo nos tomar o paraíso e estabelecer a sua França Antártica. Algo mágico acontece. Em resposta à "fala da índia", os pássaros da floresta respondem: e uma inesperada sonoplastia se estabelece.
     E, como não é possível competir com a lua refletida no mar, com a cidade brilhando ao longe, com a escuridão das montanhas, eis que se fecham as cortinas, e o espetáculo começa! Mas não! Dentro dessa estranha cenografia, a índia/caiçara nos avisa, abrindo o chão de sua morada: "vou nadar, escalar a montanha...falar com eles...", e nós esperamos por esse  momento onde tudo é possível. E a vemos colocar as nadadeiras e sair, qual um peixe,  desaparecendo no mar... Mas não!
     Ela se balança ao luar.
     Não vou contar o espetáculo. Ou já contei, nem sei. "Tudo balança porque Deus dança", dizem as palavras de Aline. "Não se para um passo em movimento/ não se para um sonho em andamento/ não se para um amor em construção/ não se para uma onda na arrebentação..."//
   E conta: "ainda conheço pouco das palavras para decifrar minhas mirações/ E mais me cansa a busca do que me jorra o excesso/ Tudo passa quase que despercebido/ Prender a sombra fora do instante/ Só mesmo nas fronteiras raras e ilógicas/ Mesmo assim, tento ao máximo esse percurso de esvaziamento/ E alguns, como que por teimosia, borram papéis feito cicatrizes/ Enquanto minha devastação imprime essa fotografia de instantes"// (O texto acima é extraído do livro que dá nome ao espetáculo).  
     Vamos lá? O sonho parte às 20horas, de sábados e domingos. Chova ou faça sol. Não sei o que ofereço, ela não sabe o que vai nos dar. Mas é bom ser surpreendido. Atenção! Não se trata de mais um passeio turístico pela Guanabara. É  poesia pura. Boa viagem!
Ficha Técnica:
Texto e Atuação: Aline Guimarães
Dramaturgia: Pedro Kosovski
Supervisão e Direção: Álamo Facó
Sonoplastia: pássaros da floresta, motor do barco e megafone
Marujo: Roberto Pereira de Souza        
Trilha sonora: Rodrigo Braga
Figurino: Carol Casarin
Arte: Thiago Mendonça
Direção de Movimento: Isabella Duvivier
Iluminação: Paulo Medeiros
Produção: Bianca Faro
Assessoria de Imprensa: Eleonora Jaeger





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