Aline Guimarães em "Tudo Balança Porque Deus Dança"
(foto Carol Beiris)
CRITICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
E, de repente,
estamos diante de um espetáculo poético. Vamos para uma região onde "Tudo
balança porque Deus dança". Sim, entramos em um espaço "sem ontem nem
amanhã", como diz o poeta (o outro poeta). E não sabemos como será.
Dependemos da natureza, sim! Ao longe, as luzes da cidade; aqui, o breu do
morro Cara de Cão... e a lua cheia! Claro, assim foi no dia da estreia (27 de
outubro), desse estranho espetáculo cuja dramaturgia é imaginada por Pedro Kosovski, a direção, de Álamo Facó, para um texto de Aline Guimarães, que também é a atriz do espetáculo.
Fica a pergunta: Há, realmente, um texto?
Trata-se de um espetáculo para espíritos
aventureiros. Tremei, inimigos do mar! Vamos a ele, abençoados pela lua cheia,
e por Cacilda Becker. Saímos de sua praça, na Urca, dentro de uma traineira que
comporta 40 pessoas. O marinheiro, "gaúcho", solta as amarras e
desfaz o nó. Basta uma leve pressão de sua mão, e estamos entregues ao mar. Mas
não! Eis que surge, ao longe, uma figura estranha, mistura de índia e caiçara,
remando a sua canoa e nos abordando, entrando no barco, murmurando: "fui
buscar água de beber..." E entramos em um mundo onde a imaginação impera.
Sim, a nossa "caiçara" é descendente
da uma tribo. Tupinambás? Temiminós? Ela tem experiência nessas lidas. Prepara
a sua casa para nos receber, murmura pensamentos. Enquanto a esplêndida
paisagem toma conta de tudo, lá fora. Não há poema que resista ao lento passar
das luzes da Urca, a cidade agitada, ao longe, e o murmúrio da água. Sim, há
também o barulho manso do motor, e as voltas que o Marujo dá, no comando do
leme. Finalmente paramos em frente ao morro às escuras, silencia o motor, e uma
voz nos leva a remotos tempos de conquistas: há franceses querendo nos tomar o
paraíso e estabelecer a sua França Antártica. Algo mágico acontece. Em resposta à "fala da índia", os pássaros da floresta respondem: e uma
inesperada sonoplastia se estabelece.
E, como não é possível competir com a lua
refletida no mar, com a cidade brilhando ao longe, com a escuridão das
montanhas, eis que se fecham as cortinas, e o espetáculo começa! Mas não!
Dentro dessa estranha cenografia, a índia/caiçara nos avisa, abrindo o chão de
sua morada: "vou nadar, escalar a montanha...falar com eles...", e
nós esperamos por esse momento onde tudo
é possível. E a vemos colocar as nadadeiras e sair, qual um peixe, desaparecendo no mar... Mas não!
Ela se balança ao luar.
Não vou contar o espetáculo. Ou já contei,
nem sei. "Tudo balança porque Deus dança", dizem as palavras de Aline.
"Não se para um passo em movimento/ não se para um sonho em andamento/ não
se para um amor em construção/ não se para uma onda na arrebentação..."//
E conta: "ainda conheço pouco das
palavras para decifrar minhas mirações/ E mais me cansa a busca do que me jorra
o excesso/ Tudo passa quase que despercebido/ Prender a sombra fora do
instante/ Só mesmo nas fronteiras raras e ilógicas/ Mesmo assim, tento ao
máximo esse percurso de esvaziamento/ E alguns, como que por teimosia, borram
papéis feito cicatrizes/ Enquanto minha devastação imprime essa fotografia de
instantes"// (O texto acima é extraído do livro que dá nome ao espetáculo).
Vamos lá? O sonho parte às 20horas, de sábados
e domingos. Chova ou faça sol. Não sei o que ofereço, ela não sabe o que vai
nos dar. Mas é bom ser surpreendido. Atenção! Não se trata de mais um passeio
turístico pela Guanabara. É poesia pura.
Boa viagem!
Ficha Técnica:
Texto e Atuação:
Aline Guimarães
Dramaturgia: Pedro Kosovski
Supervisão e Direção:
Álamo Facó
Sonoplastia:
pássaros da floresta, motor do barco e megafone
Marujo: Roberto
Pereira de Souza
Trilha sonora:
Rodrigo Braga
Figurino:
Carol Casarin
Arte: Thiago Mendonça
Direção de Movimento: Isabella Duvivier
Direção de Movimento: Isabella Duvivier
Iluminação: Paulo Medeiros
Produção: Bianca
Faro
Assessoria de
Imprensa: Eleonora Jaeger
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