Ao fundo, assistente do asilo (André Boneco), Clarice Derzié Luz e Maitê Proença em "À Beira do Abismo me cresceram Asas" (foto Paula Kossatz) |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
Em cartaz no Teatro Fernanda
Montenegro o delicado "À Beira do Abismo me Cresceram Asas", peça
escrita por Maitê Proença sobre pesquisa
de Fernando Duarte. A direção é de Maitê Proença e Clarice Niskier. Supervisão de
direção: Amir Haddad.
Vi muitas peças com Proença. Não sei o
porquê de nunca ter me referido ao seu trabalho, embora tenha me divertido e
apreciado alguns. Exemplo: uma comédia escrita por Luis Carlos Góes, em que Maitê interpreta
uma mulher que se dispõe a ser escritora
(deve ter sido a milhões de anos atrás, não estava no Google!). O fato de ela morar em um magnífico apartamento à beira mar a faz ouvir -
sempre que tenta escrever - o bordão: "quem olha o mar não publica",
algo típico do humor de Góes. Confesso que tive momentos de puro prazer com
aquela maluquice em que, finalmente, quem escreve... e publica! é a empregada
da protagonista, apesar (ou por causa) de morar em um cubículo da área de
serviço do apartamento!
Vários textos marcaram o trabalho de Maitê
Proença no palco, até Prêmio Shell ganhou, merecido (2009 -"As Meninas"). Finalmente
nos encontramos com este delicioso
"À Beira do Abismo...". A história poderia ser banal, tratando-se de
duas "senhorinhas" falando de seu passado e, principalmente, de seu presente!
Algo que poderia ser aterrador se transforma em um original encontro entre Clarice
Derzié Luz e Maitê Proença, ou entre duas amigas octogenárias que, em um retiro
para idosos, trocam suas experiências de
vida. Estranho tema, para duas atrizes quem ainda estão em plena pujança de
suas possibilidades artísticas.
A grande diferença é a abordagem do tema:
não há lamentações, mas muita coragem. Piaf entra nesta história com a frase: "A
velhice não é para covardes", e algumas músicas. Edith Piaf anda,
ultimamente, alimentando corações teatrais femininos. Lembramo-nos de
Spadaccini em "Aos Domingos" (e, se me permitem acrescentar, essa é uma
época alvissareira para o teatro no Brasil: ele nunca esteve com tanta produção,
vida e energia como agora. Nós artistas, como bons meninos mimados, queremos
sempre mais... Nós os críticos, como bons observadores, temos que correr muito depressa se
quisermos falar sobre todas as estréias). Voltemos "À Beira do Abismo..."
O que dá essa "leveza", asas, ao
espetáculo? Antes de tudo, a caracterização das personagens. Chegamos à
perfeição de mostrar o avesso da ilusão. No camarim (e quarto de idosa no asilo, com
o/a atendente-camareira). O quarto/camarim é velado por uma transparente bambolina-cenário que lhe confere certo mistério. É aí que entrevemos
Maitê, ainda sem a personagem, uma linda moça a colocar a peruca de cabelos
brancos. Essa é a única diferença (aparente) que a transforma em personagem -
além do figurino, é claro.
A historia começa quando as duas atrizes
atravessam a tênue parede diagonal de tecido translúcido, transformadas em
Valdina (Clarice Derzié Luz) e Terezinha (Maitê Proença). Em todas as apresentações há um "alguém" (simulado)
na plateia, que entrevista as duas
amigas. E aí começa a segunda parte vibrante do espetáculo: os depoimentos-solo
das personagens. É neste momento que ouvimos um dos mais lindos monólogos do
teatro, pronunciado por Maitê Proença. Há, em algum momento desse monólogo a observação: "como você me vê, exteriormente, não sou eu,
interiormente. Dentro de mim há uma menina de doze anos, há uma adolescente,
uma mulher..." (algo assim. É um texto lindo, poético).
Clarice Derzié Luz não lhe fica atrás, com
a sua Valdina, algo palhaça, que corta o coração e alegra a plateia. Claro que
por detrás de tanto acerto há muitas mãos. Duas delas, ou talvez três!, acerto puro
ao primeiro olhar: Angel Vianna na supervisão dos movimentos (perfeitos) das
atrizes; Amir Haddad na supervisão cênica (e "insights") e,
finalmente, e não menos importante, os figurinos de Beth Filipecki, que dão
asas a essas duas belas para voar!
Jorginho de Carvalho desenha a luz. Já é lugar comum dizer que a luz é o
complemento da ação: mas é! A luz de Jorginho de Carvalho leva a todos os
sonhos, com seus "spots", luminárias e
lâmpadas de camarim. Tudo isso unido ao cenário de Cristina Novaes, e temos um
dos espetáculos mais poéticos que o teatro brasileiro nos tem apresentando
ultimamente. O tempero é a direção das
duas atrizes, Clarice Niskier e Maitê Proença.
Elas colocam a ação "no ponto".
Parabéns!
Curiosa pra assistir, irei à Porto Alegre, pois a peça não vem à Florianópolis. Com todas as críticas tecendo elogios, irei amar com certeza!
ResponderExcluirRosana
Fui na peças a meninas, Maitê e maravilhosa em tudo mais principalemnte no teatro, espero que a peça que está sendo muito elogiada pelos ciritcos e público venha a Fortaleza, caso venha, nao perderie por nada.
ResponderExcluirÉ uma pena que termine amanhã. Não vou conseguir ver. Parabéns também a você, Ida, pela sempre delicada, inteligente e amorosa abordagem de suas críticas. Beijos.
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