Isabel Cavalcanti, Mateus Solano e Karine Teles em "Do Tamanho do Mundo" |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de
Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Sutileza. Eis o que parece se
propor Paula Braun em seu primeiro texto, " Do Tamanho do Mundo". Não
se trata aqui de questionar se a autora consegue
ser sutil, o fato é que temos uma ótima oportunidade
para refletir sobre a escrita teatral contemporânea. A sutileza (irônica)
fica subentendida no texto, e transparece em certas falas, em certos gestos dos
atores. Porém, o que se desenha com mais força, neste texto, é um minimalismo que,
talvez, não seja proposital. Minimalismo no sentido de voltar ao mesmo texto, e
ao mesmo movimento dos atores. Tudo isso poderia ser ótimo, se a encenação tivesse
conseguido coesão suficiente para lhe
dar personalidade. Ao menos no dia da estréia, tal coesão não se fez presente.
Um
dos pontos fortes do texto é a crítica à sociedade atual. Essa crítica está muito
bem estruturada nos personagens, porém ela não foi desenvolvida com ênfase pelo
diretor Jefferson Miranda. A vocação da
peça é destacar a loucura dos humanos,
mesmo em seus movimentos mais prosaicos. Talvez a falta de ênfase tenha sido somente
uma questão de ritmo, problema a ser resolvido no decorrer da temporada.
No início da peça há uma virada de 180
graus na vida dos protagonistas: algo
insólito acontece, alterando o dia a dia
da dupla burguesa que compõe um casal que se ama. Eles já não suportam a rotina
de suas vidas. Mais: pela imprecisão de alguns acontecimentos em cena, temos a
sensação de que se trata de uma peça vinculada ao teatro do absurdo, onde tudo
é possível e nada precisa ser explicado. O público assimila a estranheza, e
tenta interpretá-la. A atuação do casal é convincente. Principalmente o marido
Arnaldo (interpretado por Mateus Solano, ator que possui grande empatia com o
público).
O problema da autora é que as boas tiradas
do texto se repetem, como se Paula Braun estivesse surpresa com os seus achados,
e os quisesse enfatizar para o público. Por exemplo: Arnaldo, o marido, volta
sempre ao texto inicial; também sua esposa Marta (Karine Teles) se desespera e
volta sempre ao desespero inicial. E não é o único exemplo, a tia Lila (Isabel
Cavalcanti) é pródiga em seus refrões. Compreende-se tal deslumbramento em uma autora
iniciante. Vejam bem: as idéias são boas.
A atriz Isabel Cavalcanti dá ao absurdo
personagem da tia um caráter extravagante. Há uma realidade que convém à cena: a tia maluca não
deixa o casal se comunicar. Também a esposa Marta, tornando-se insegura com o comportamento
do marido, extrapola, produzindo tortas e mais tortas, correndo o risco de comprometer
a silhueta (outra das maluquices dos personagens de Braun, e da sociedade atual).
Sim, o texto aborda todas as incongruências
do mundo moderno; e joga com um "diabo"
fora dos padrões habituais, um diabo "bonzinho" (ele se revela,
sutilmente, no decorrer da cena),
interpretado por Alcemar Vieira, que também interpreta o apresentador. Os quatro
atores mostram competência, mas não conseguem ultrapassar as limitações do
texto, tornando a cena lenta e repetitiva. Daí passar a sensação de a estreia ter sido precipitada. Em uma palavra: o espetáculo pode, até, ser estranho; o que não pode é ter alguns
momentos bons, e repeti-los ad aeternum…
pois acaba cansando o público. (A autora assemelha-se a um músico extasiado com a sua obra, mas que não consegue
terminar a canção). O texto é original e
poderia render outros "insights".
Na ficha técnica temos a direção musical
de Felipe Storino, servindo com envolvimento à ação. O
cenário de Cristina Novaes joga com a boca de cena muito ampla do espaço Tom
Jobim, o que dificulta a já precaria acústica do local. A luz de Felipe Lourenço
é correta, o mesmo acontecendo com a preparação corporal de Toni Rodrigues. O
figurino de Antonio Medeiros serve a ação, complementando com sutileza as
características dos personagens, principalmente em se tratando da sensual Lila
e da insegura Marta. Há um toque irreverente no figurino carnavalizado do diabo de Alcemar Vieira, e Mateus
Solano endossa, no figurino, as características de seu personagem: um homem com
ideais em transformação. Observação
final: para que "Do Tamanho do Mundo" se torne um espetáculo
envolvente é preciso ter mais afinação,
mais ritmo. Os adereços são de Márcia Marques. Assessoria de Imprensa, João Pontes e Stella Stephany.
Ou "dos males de assistir a uma estreia..."
ResponderExcluirPrezada Ida, boa noite!
ResponderExcluirGostei muito de descobrir ao acaso esse seu blog, em específico essa crítica. Já tem algumas semanas que eu fui ver essa peça, que foi de longe a pior peça que eu já assisti na minha vida. Pensei que eu era um inculto, que não tinha entendido o que cabeças mais inteligentes que a minha tinham tentando me passar. Mas, ao ler o seu texto, agora eu tenho certeza de que eu fui contemplado com um péssimo texto. Não culpo nenhum dos atores, todos são visivelmente muito profissionais e deram o seu melhor. A culpa toda é da história. Sinceramente, desperdiçar um talento como o do Mateus Solano numa peça dessas... só lamento ter descarregado neles a minha raiva, pois não bati palmas pra ninguém!
Anônimo,
Excluiré a primeira experiência dessa menina, a autora, e ela já quer ser vanguarda.
misturar trabalho com vida pessoal na maioria das vezes não funciona
ResponderExcluiragora Mateus paga o preço de ter que atuar em um texto abaixo
de seu grande potencial.