Brian Penido Ross em "Fritas no Açucar", direção de Eduardo Tolentino |
Zécarlos Machado em "Brincando de Sanduíche", de Alan Bennett, dir. Tolentino |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Sempre
que o Grupo Tapa vem ao Rio de Janeiro, é bom não esquecer de visitá-lo. Agora
no Sesc Copa, até 14 de setembro, vocês vão ter a possibilidade de ver teatro,
com T maiúsculo, em um espetáculo de horror absoluto. Trata-se de "Retratos
Falantes", de Alan Bennett, interpretado por dois magníficos atores que
são Brian Penido e Zé Carlos Machado.
Estamos
também nas mãos de um dramaturgo inglês, Alan Bennett, que ficou famoso ao criar Beyond the Fringe (apresentado no Edinburg
Festival, o "Fringe"), um comédia satírica que lançou os meninos oxfordianos
no circuito além Londres/New Yok. O autor é fruto dos anos 60, e sua irreverente
versão da sociedade inglesa é anterior aos também oxfordianos Monthy Python.
Acontece que depois de muitas peças (de sucesso!) Bennett aceitou fazer uma
série para a BBC de Londres, de onde surgiram os monólogos agora apresentados no
Brasil. Trata-se de "On the Margin", e pelo título podemos perceber que os
modelos para os personagens são pessoas que ficaram à margem, os
"gauches" terminais, pessoas frustradas e inquietas que pertencem a
uma sociedade que não lhes dá espaço.
O
Grupo Tapa pegou dois monólogos de "On the Margin", cujos títulos são absurdos: "Fritas
no Açucar", no qual o excelente ator Brian Penido aproveita para ter um
desempenho de uma atrocidade ferina e amorosa sobre certo relacionamento que todos
nós temos, ou vamos ter, com a pessoa amada. Fica estabelecido que o critério
de "pessoa amada", neste contexto, se estende a todos os
relacionamentos fortes que temos durante a vida, livrando-nos do rótulo absoluto
de "relacionamento forte" como sendo o casal (hetero ou homo) que se
ama. Este monólogo abrange o amor com sutil serenidade e, às vezes, com
realidade ferina. Destacamos o desempenho de Penido, um dos grandes atores do
Tapa, que talvez não tenha o reconhecimento merecido pela perfeição de seu
desempenho. Quem assistir a "Fritas no Açucar" pode constatar o afirmando.
Zé
Carlos Machado é o responsável pelo horror que desconcerta o público e o faz aprendiz dos tempos e ritmos de um monólogo. A plateia perde o
compasso. Talvez, o único problema do texto seja podermos perceber, desde o início, o seu desfecho. O titulo do monólogo
é "Brincando de Sanduíche", e a maldade realista que encena nos
arrepia. O público do Sesc Copa tem que se decidir sobre como proceder diante do inusitado: o que não se pode é confundir
cortes de luz com final de espetáculo. Aliás, foi o que aconteceu com
"Brincando de Sanduíche", atrapalhando os que estavam acompanhando a
cena dantesca. Fica o registro.
Quanto
a Zé Carlos Machado, já estamos acostumados, público do Tapa que somos, com sua
personalidade de ator, sua sensibilidade. O que nos tomou de admiração e nos empolgou foi o desempenho de Brian Penido, sempre
tão contido, em perfeita comunicação com os três personagens interpretados por
ele. Penido retirou de seu desempenho uma ironia crítica que torna possível a análise dos personagens, sem perder o conteúdo dos mesmos. Este recado sutil para a plateia é inerente aos grandes
atores, e Brian Penido é um deles.
Há
ótimas parcerias entre técnica e direção. Eduardo Tolentino, frente ao grupo, trás
a garantia do espetáculo correto, e ao mesmo tempo imprevisível. Em suas
encenações há uma crítica irreverente a tudo o que acontece ao seu redor. Pode
ser em um espetáculo de Maquiavel (principalmente), ou em um Nelson Rodrigues;
a ironia transmitida pelo diretor, no que se refere a esta nossa maneira de
viver no mundo, está sempre presente, ampliando a voz do autor. O iluminador
também faz das suas, principalmente na cena da prisão. Talvez, para Nelson
Ferreira, tal feito não seja tão surpreendente assim, porém para o público é
simplesmente de um efeito claustrofóbico impressionante. Figurino acertado de
Lola Tolentino, despojado, mostrando atores em sua maneira de ser, a partir do
século XX. Tradução de Clara Carvalho para "Fritas no Açúcar", e de Augusto
Cesar, em "Brincando de Sanduíche". Registramos a sempre profissional
e "aconchegante" Assessoria de Imprensa de JS Pontes Comunicação (Stella
Stephany e João Pontes). Designer gráfico de Daniel Volpi.
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