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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

"2.500 POR HORA"

Elenco de 2.500 POR HORA: Julia Marini, Henrique Juliano, Monica Biel, Joelson Mederios (e acima) Claudio Gabriel. Direção Moacir Chaves. (Foto Guga Melgar)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     O desafio lançado pelo diretor Moacir Chaves, através da seleção de cenas organizadas por Jacques Livchine e Hervée de Lafond (no Brasil, o texto contou com a colaboração de Monica Biel para introduzir o nosso teatro), o desafio de contar a historia do teatro do seu nascimento até hoje, em pouco mais de uma hora, nos deixou paralisados. Hoje, dia 3 de agosto, enfrentamos o desafio.   
     Estes "2.500 POR HORA" para contar uma historia, imaginados pelos dois diretores franceses, teve que apostar no elenco. No Brasil, Moacir Chaves nos mostra, desde a carroça de Téspis até Nelson Rodrigues! Muito bom entrar nesta verdadeira gincana, a brincadeira se revela tremendamente didática e deve andar pelos teatros da vida. Há, porém, uma enorme dificuldade: a brincadeira é demasiado sofisticada para iniciar, quem quer que seja, nos mistérios do teatro. É preciso fazer parte da "classe"; ser um estudioso dela ... se não fizer parte de nenhuma dessas duas categorias,  é só sorrir, e se divertir!
     Vamos lá: nas mãos de (em ordem alfabética) Claudio Gabriel, Henrique Juliano, Joelson Medeiros, Julia Marini e Monica Biel, a tentativa acontece. Exagerada, é claro, como são exagerados os propósitos de Livchine. Podemos no deliciar com o inglês "shakespereano" de Henrique Juliano em uma cena em que Hamlet fala com seu criador, algo como "to be or not to be". Enfim.
      Na correria, os atores fazem a avaliação do que já fizeram até o momento. Se bem me lembro, começam com Pirandello para contar a confusão entre o real e o teatral. Ponto para Livchine. Depois, (claro, depois de o grupo contar que teatro é "desde sempre"), Claudio Gabriel encena o nascimento do teatro e mostra como o ator se destaca do coro, na Grécia Antiga. Depois vem a tragédia grega e os atores Julia Marini e Joelson Medeiros colocam as coisas  no lugar, encenando um pouco de "As Bacantes", de Eurípides.  Temos um pouquinho de teatro - com uma velada crítica sobre a loucura da tragedia.  Depois vem a Commedia del Arte com um excelente figurino, e o ator Claudio Gabriel mostrando seu lado histriônico. E depois uma  tentativa de mostrar o Teatro Nô (figurino ótimo). 
     Mas os melhores momentos, claro, são os de Tchecov "A Gaivota", com Henrique Juliano interpretando Treplev, o filho gênio e frustrado de Arkadina, a mãe indiferente, jogada com "irritante" adequação por Monica Biel. Julia Marini defende com ardor a jovem Nina (eu sou da opinião, junto com alguns componentes do elenco, que a volta da Gaivota, no final, é desnecessária e incompreensível).
      Mas Shakespeare a Molière disputam quase em pé de igualdade, sendo o francês Livchine um pouco injusto com o seu grande Molière, colocando apenas uma ligeira cena (hilária) de "L´impromptu de Versailles", algo que o público adora, com Joelson fazendo loucuras como o próprio Molière  estressado com a presença do Rei (Sol) na plateia. Ah! Aqueles tempos em que os franceses da "Corte" pareciam cordeiros reais, com toda aquela cabeleira de fios suspeitos...
        Depois vem Shakespeare, e a narrativa se aquieta um pouco (pena), em reverência ao "em demasia reverenciado" Shake. Livchine devia ter colocado logo Ricardo III e assunto encerrado. Esse Rei é bem popular no Brasil. Mas não: colocou o próprio bardo em cena e, imperdoável, as inúteis  mãos de Lady Macbeth, comprometendo a reputação, como atriz, de Monica Biel.
     Eis que entro no "espírito da coisa". Desculpem. O melhor de Shakespeare ficou mesmo com Henrique Juliano mostrando seu impecável  inglês shakespereano. A confusão era interrompida (ainda bem) por tentativas do elenco de mostrar para a platéia como estavam avançados na historia que se propunham contar. E eis que surgem os chapéus, e passam para as mãos de dois atores, e Beckett se faz presente com Joelson Medeiros e Claudio Gabriel: "Esperando Godot". É talvez uma das mais deliciosas cenas de recorrência da narrativa. Tão bom rever, de repente, aqueles dois vagabundos, concordando "que não acontece nada!" Mas a tentativa de fazer Bertold Brecht entrar na cena, infelizmente, ficou no nascedouro. Um das peças que melhor traduz o que o alemão queria dizer  com o seu teatro, "A Alma Boa de Set Suan", é apequenada. Não sei se o francês Livchine assim o quis.
     Depois de o "aguadeiro" Wang, de Brecht (ah, antes passamos pelas follies da Ópera Comique francesa), passemos para a adaptação de nosso teatro. Esquecemos que, no início dos 2.500 POR HORA houve uma pausa para o teatro na Idade Média - mais narrado do que encenado. Quase nada, e muita coisa, escapou.
     O teatro brasileiro começa com João Caetano (é verdade, antes, no Brasil, só havia repetições da comique francesa), e depois uma amostra do nosso nacional Martins Pena com um trecho de "O Juiz de Paz na Roça". Bom, rápido e eficiente, sob o comando do ótimo Joelson Medeiros... e entramos em Nelson Rodrigues! (se me lembro bem, há interferências do elenco tentando situar o que está acontecendo: elas são, na maioria das vezes, hilárias, quando não professorais, o que as torna cômicas). A ambição foi grande: todas as peças de Nelson nos minutos finais da apresentação teatral dos encenadores e diretores Moacir, Livchine, Lafond, Biel. 
     Bravo!  
     Há dois músicos excelentes, em cena: Tomas Brandão e Miguel Mendes, que também fazem a Direção Musical. Nos figurinos (alguns magníficos) e na destreza de sua confecção (não deve ter sido fácil mudá-los, conforme os acontecimentos), a figurinista Inês Salgado. A iluminação é do mestre Aurelio de Simoni. Cenário funcional de Sergio Marimba. Boneco do João Caetano e direção na manipulação de Marcio Newlands. Direção de Produção Monica Biel. Produção Executiva Jaqueline Roversi. Assessoria de Imprensa Ney Motta. A tradução do francês é de Monica Biel.   


NÃO ESQUEÇAM, POR FAVOR, (E SE HOUVER FÔLEGO) DE LEVAR ESSA BRINCADEIRA PARA OS CIRCUITOS SESC, OU OUTROS QUE VIEREM!!!!!!!

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