Elenco de 2.500 POR HORA: Julia Marini, Henrique Juliano, Monica Biel, Joelson Mederios (e acima) Claudio Gabriel. Direção Moacir Chaves. (Foto Guga Melgar) |
IDA
VICENZIA
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
O desafio lançado pelo diretor Moacir Chaves,
através da seleção de cenas organizadas por Jacques Livchine e Hervée de Lafond
(no Brasil, o texto contou com a colaboração de Monica Biel para introduzir o
nosso teatro), o desafio de contar a historia do teatro do seu nascimento até
hoje, em pouco mais de uma hora, nos deixou paralisados. Hoje, dia 3 de agosto,
enfrentamos o desafio.
Estes "2.500 POR HORA" para
contar uma historia, imaginados pelos dois diretores franceses, teve que apostar
no elenco. No Brasil, Moacir Chaves nos mostra, desde a carroça de Téspis até Nelson
Rodrigues! Muito bom entrar nesta verdadeira gincana, a brincadeira se revela tremendamente
didática e deve andar pelos teatros da vida. Há, porém, uma enorme dificuldade:
a brincadeira é demasiado sofisticada para iniciar, quem quer que seja, nos
mistérios
do teatro. É preciso fazer parte da "classe"; ser um estudioso dela ... se não fizer parte de nenhuma dessas duas categorias, é só sorrir, e se divertir!
Vamos lá: nas mãos de (em ordem
alfabética) Claudio Gabriel, Henrique Juliano, Joelson Medeiros, Julia Marini e
Monica Biel, a tentativa acontece. Exagerada, é claro, como são exagerados os
propósitos de Livchine. Podemos no deliciar com o inglês
"shakespereano" de Henrique Juliano em uma cena em que Hamlet fala com
seu criador, algo como "to be or not to be". Enfim.
Na correria, os atores fazem a avaliação
do que já fizeram até o momento. Se bem me lembro, começam com Pirandello para
contar a confusão entre o real e o teatral. Ponto para Livchine. Depois, (claro,
depois de o grupo contar que teatro é "desde sempre"), Claudio Gabriel
encena o nascimento do teatro e mostra como o ator se destaca do coro, na
Grécia Antiga. Depois vem a tragédia grega e os atores Julia Marini e Joelson
Medeiros colocam as coisas no lugar,
encenando um pouco de "As Bacantes", de Eurípides. Temos um pouquinho de teatro - com uma velada
crítica sobre a loucura da tragedia. Depois
vem a Commedia del Arte com um
excelente figurino, e o ator Claudio Gabriel mostrando seu lado histriônico. E depois
uma tentativa de mostrar o Teatro Nô (figurino ótimo).
Mas os melhores momentos, claro, são os de
Tchecov "A Gaivota", com Henrique Juliano interpretando Treplev, o
filho gênio e frustrado de Arkadina, a mãe indiferente, jogada com "irritante"
adequação por Monica Biel. Julia Marini defende com ardor a jovem Nina (eu sou
da opinião, junto com alguns componentes do elenco, que a volta da Gaivota, no
final, é desnecessária e incompreensível).
Mas Shakespeare a Molière disputam quase
em pé de igualdade, sendo o francês Livchine um pouco injusto com o seu grande Molière,
colocando apenas uma ligeira cena (hilária) de "L´impromptu de Versailles",
algo que o público adora, com Joelson fazendo loucuras como o próprio Molière estressado com a presença do Rei (Sol) na
plateia. Ah! Aqueles tempos em que os franceses da "Corte" pareciam
cordeiros reais, com toda aquela cabeleira de fios suspeitos...
Depois vem Shakespeare, e a narrativa se aquieta
um pouco (pena), em reverência ao "em demasia reverenciado" Shake.
Livchine devia ter colocado logo Ricardo III e assunto encerrado. Esse Rei é
bem popular no Brasil. Mas não: colocou o próprio bardo em cena e, imperdoável,
as inúteis mãos de Lady Macbeth, comprometendo
a reputação, como atriz, de Monica Biel.
Eis que entro no "espírito da coisa".
Desculpem. O melhor de Shakespeare ficou mesmo com Henrique Juliano mostrando
seu impecável inglês shakespereano. A
confusão era interrompida (ainda bem) por tentativas do elenco de mostrar para
a platéia como estavam avançados na historia que se propunham contar. E eis que
surgem os chapéus, e passam para as mãos de dois atores, e Beckett se faz
presente com Joelson Medeiros e Claudio Gabriel: "Esperando Godot". É
talvez uma das mais deliciosas cenas de recorrência da narrativa. Tão bom
rever, de repente, aqueles dois vagabundos, concordando "que não acontece
nada!" Mas a tentativa de fazer Bertold Brecht entrar na cena,
infelizmente, ficou no nascedouro. Um das peças que melhor traduz o que o
alemão queria dizer com o seu teatro,
"A Alma Boa de Set Suan", é apequenada. Não sei se o francês Livchine
assim o quis.
Depois de o "aguadeiro" Wang, de
Brecht (ah, antes passamos pelas follies da Ópera Comique francesa), passemos
para a adaptação de nosso teatro. Esquecemos que, no início dos 2.500 POR HORA houve
uma pausa para o teatro na Idade Média - mais narrado do que encenado. Quase
nada, e muita coisa, escapou.
O teatro brasileiro começa com João
Caetano (é verdade, antes, no Brasil, só havia repetições da comique francesa),
e depois uma amostra do nosso nacional Martins Pena com um trecho de "O
Juiz de Paz na Roça". Bom, rápido e eficiente, sob o comando do ótimo
Joelson Medeiros... e entramos em Nelson Rodrigues! (se me lembro bem, há interferências
do elenco tentando situar o que está acontecendo: elas são, na maioria das
vezes, hilárias, quando não professorais, o que as torna cômicas). A ambição foi
grande: todas as peças de Nelson nos minutos finais da apresentação teatral dos
encenadores e diretores Moacir, Livchine, Lafond, Biel.
Bravo!
Bravo!
Há dois músicos excelentes, em cena: Tomas
Brandão e Miguel Mendes, que também fazem a Direção Musical. Nos figurinos (alguns
magníficos) e na destreza de sua confecção (não deve ter sido fácil mudá-los, conforme
os acontecimentos), a figurinista Inês Salgado. A iluminação é do mestre
Aurelio de Simoni. Cenário funcional de Sergio Marimba. Boneco do João Caetano
e direção na manipulação de Marcio Newlands. Direção de Produção Monica Biel.
Produção Executiva Jaqueline Roversi. Assessoria de Imprensa Ney Motta. A tradução
do francês é de Monica Biel.
NÃO
ESQUEÇAM, POR FAVOR, (E SE HOUVER FÔLEGO) DE LEVAR ESSA BRINCADEIRA PARA OS
CIRCUITOS SESC, OU OUTROS QUE VIEREM!!!!!!!
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