Cadu Fávero e Fernanda de Freitas em "Pulsões", texto Dib Carneiro Neto, direção Kika Freire, cenografia Teca Fichinski. (Foto Victor Hugo Cecatto)
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Antes de tudo, a entrega total dos atores.
Em uma atmosfera onírica, cercada de móbiles esvoaçantes que evocam a dança, o
circo, a infância, e com a música sempre
presente, ao vivo, executada por Maria Clara Valle, ao violoncelo, e João
Bittencourt ao piano, e a sensação de estranhamento que nos causa o espetáculo.
Momento claustrofóbico.
A Bailarina (Fernanda de Freitas), e o Maestro
(Cadu Fávero), estão ali presentes, desde sempre, para nos contar a sua
historia. O público entra, mas é como se não existisse. Os olhares do Maestro e
da Bailarina são vagos olhares para dentro de si mesmos. Em um primeiro momento, para quem observa
aqueles dois seres - embora extravagantes - pode
ser o momento de um casal em
crise. Ou o Maestro pode ser o analista, o amante.
Cadu Fávero (Maestro) e Fernanda de Freitas (Bailarina). (foto Victor Hugo Cecatto) |
Kika Freire, também como a Dra. Nise, não
tem medo de Freud, embora seu preferido seja Jung. Imaginamos. E vemos... nas
perfeitas mandalas que são os figurinos dos atores,
e no cenário. Aí
compreendemos a circunspeção da platéia (todos junguianos?) com seus bloquinhos
anotando detalhadamente as falas, os olhares e os gestos dos atores que, por
sinal, apresentam magníficas interpretações. Conclusão: estamos em plena sessão
de uma psicanálise teatral!
E o
autor, Dib Carneiro Neto, tão nosso conhecido em espetáculos anteriores, como
"Adivinhe quem vem para rezar" ou "Crônica da Casa
Assassinada" (baseado no romance de Lucio Cardoso), nos avisa:
"Pulsões", o espetáculo, trata de "profundezas e delicadezas",
"como uma vertigem cênica revolvendo nossas fragilidades".
Há um jogo de palavras, no texto, há
gerúndios, substantivos e adjetivos procurando o seu verdadeiro significado, e dos
sentimentos que evocam. Frases que saltam aos ouvidos, trechos de frases
musicais de Villa Lobos, e gritos como: "nosso enxoval é uma camisa de
força", ou "minhas mãos, você gosta de minhas mãos?" - nos
levando ao súbito conhecimento das dores dos personagens, através de "palavras
que doem".
Fernanda de Freitas e Cadu Fávero estão
irretocáveis, mostrando as idiossincrasias de nosso organismo! ... e as consequências
espirituais de quem não teve escolha, atendendo ao chamado da Arte. Ela é tirana,
a Arte, e o artista sabe disso. Passamos alguns momentos de angustia e beleza naquele
Theatro Poeira, que tão bons espetáculos nos têm dado. Recomenda-se
"Pulsões" às pessoas de espírito forte.
Na ficha técnica temos, entre outros, Fran
Barros na Iluminação (magnífica); Preparação Vocal de Ana Frota; música e
arranjos de Marco França e João Bittencourt; Direção Musical de Marco França; Cenografia
e Figurinos (ótimos), de Teca Fichinski; Caracterização (e grande estranhamento,
entre outros estranhamentos), de Rose Verçosa; as esculturas são de Rodrigo
Bonan e os móbiles de Cabeção. Programação Visual (bela), de Victor Hugo
Cecatto. Produção: Primeira Página. Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco. A Psicanalista
Hélia Borges faz uma brilhante apresentação do espetáculo, no programa da peça.
RECOMENDA-SE
"PULSÕES" ÀS PESSOAS DE ESPÍRITO FORTE. CORRA, PORQUE O ESPETÁCULO JÁ
VAI SAIR DE CARTAZ.
Muito grato! "A arte é tirana e o artista sabe disso". Amei isso!
ResponderExcluirbeijos no coração
Cadu Fávero
Muito honrado e feliz com seu texto sensível, analítico, convidativo! Obrigado demais!
ResponderExcluirEu fui ver o espetáculo e achei incrível. Realmente é de muita beleza e angústia. Me emocionei algumas vezes e os atores são magníficos, assim como os músicos e o cenário.. Enfim, amei!!!!
ResponderExcluirEu fui ver o espetáculo e achei incrível. Realmente é de muita beleza e angústia. Me emocionei algumas vezes e os atores são magníficos, assim como os músicos e o cenário.. Enfim, amei!!!!
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