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terça-feira, 11 de agosto de 2015

"PULSÕES"




Cadu Fávero e Fernanda de Freitas em "Pulsões", texto Dib Carneiro Neto, direção Kika Freire, cenografia Teca Fichinski. (Foto Victor Hugo Cecatto)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

     Antes de tudo, a entrega total dos atores. Em uma atmosfera onírica, cercada de móbiles esvoaçantes que evocam a dança, o circo, a infância, e  com a música sempre presente, ao vivo, executada por Maria Clara Valle, ao violoncelo, e João Bittencourt ao piano, e a sensação de estranhamento que nos causa o espetáculo. Momento claustrofóbico.
     A Bailarina (Fernanda de Freitas), e o Maestro (Cadu Fávero), estão ali presentes, desde sempre, para nos contar a sua historia. O público entra, mas é como se não existisse. Os olhares do Maestro e da Bailarina são vagos olhares para dentro de si mesmos.  Em um primeiro momento, para quem observa aqueles dois seres - embora extravagantes - pode 
ser o momento de um casal em crise. Ou o Maestro pode ser o analista, o amante. 



Cadu Fávero (Maestro) e Fernanda de Freitas (Bailarina). (foto Victor Hugo Cecatto)







     Kika Freire,  a diretora - e quem imaginou o projeto "Pulsões" - possui um passado artístico, eclético, que lhe possibilitou um trabalho com raiz na Dra. Nise da Silveira.
     Kika Freire, também como a Dra. Nise, não tem medo de Freud, embora seu preferido seja Jung. Imaginamos. E vemos... nas perfeitas mandalas que são os figurinos dos atores, e no cenário. Aí compreendemos a circunspeção da platéia (todos junguianos?) com seus bloquinhos anotando detalhadamente as falas, os olhares e os gestos dos atores que, por sinal, apresentam magníficas interpretações. Conclusão: estamos em plena sessão de uma psicanálise teatral! 
      E o autor, Dib Carneiro Neto, tão nosso conhecido em espetáculos anteriores, como "Adivinhe quem vem para rezar" ou "Crônica da Casa Assassinada" (baseado no romance de Lucio Cardoso), nos avisa: "Pulsões", o espetáculo, trata de "profundezas e delicadezas", "como uma vertigem cênica revolvendo nossas fragilidades".
     Há um jogo de palavras, no texto, há gerúndios, substantivos e adjetivos procurando o seu verdadeiro significado, e dos sentimentos que evocam. Frases que saltam aos ouvidos, trechos de frases musicais de Villa Lobos, e gritos como: "nosso enxoval é uma camisa de força", ou "minhas mãos, você gosta de minhas mãos?" - nos levando ao súbito conhecimento das dores dos personagens, através de "palavras que doem". 
     Fernanda de Freitas e Cadu Fávero estão irretocáveis, mostrando as idiossincrasias de nosso organismo! ...  e as consequências espirituais de quem não teve escolha, atendendo ao chamado da Arte. Ela é tirana, a Arte, e o artista sabe disso. Passamos alguns momentos de angustia e beleza naquele Theatro Poeira, que tão bons espetáculos nos têm dado. Recomenda-se "Pulsões" às pessoas de espírito forte.
     Na ficha técnica temos, entre outros, Fran Barros na Iluminação (magnífica); Preparação Vocal de Ana Frota; música e arranjos de Marco França e João Bittencourt; Direção Musical de Marco França; Cenografia e Figurinos (ótimos), de Teca Fichinski; Caracterização (e grande estranhamento, entre outros estranhamentos), de Rose Verçosa; as esculturas são de Rodrigo Bonan e os móbiles de Cabeção. Programação Visual (bela), de Victor Hugo Cecatto. Produção: Primeira Página. Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco. A Psicanalista Hélia Borges faz uma brilhante apresentação do espetáculo, no programa da peça.      

RECOMENDA-SE "PULSÕES" ÀS PESSOAS DE ESPÍRITO FORTE. CORRA, PORQUE O ESPETÁCULO JÁ VAI SAIR DE CARTAZ.             

4 comentários:

  1. Muito grato! "A arte é tirana e o artista sabe disso". Amei isso!
    beijos no coração
    Cadu Fávero

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  2. Muito honrado e feliz com seu texto sensível, analítico, convidativo! Obrigado demais!

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  3. Eu fui ver o espetáculo e achei incrível. Realmente é de muita beleza e angústia. Me emocionei algumas vezes e os atores são magníficos, assim como os músicos e o cenário.. Enfim, amei!!!!

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  4. Eu fui ver o espetáculo e achei incrível. Realmente é de muita beleza e angústia. Me emocionei algumas vezes e os atores são magníficos, assim como os músicos e o cenário.. Enfim, amei!!!!

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