"Juliette Castigada & Justine Recompensada", texto Roberto Athayde, direção Paula Sandroni. Em cena, Betina Pons, Rosanne Mulholland e Alexandre Slaviero. (fotos Marco Rodrigues) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Em cartaz, até o próximo dia 20 de
dezembro, no Teatro Maison de France, o espetáculo inspirado no Marquês de
Sade, intitulado "Juliette Castigada & Justine Recompensada". O texto,
de Roberto Athayde, é dirigido por Paula Sandroni. No dia em que foi possível
assisti-lo, o teatro deu-me uma lição de como a arte imita a vida. Pois bem,
quando de minha chegada ao teatro, tive o mais insólito recebimento da parte de
três policiais, dificultando o meu ingresso. Quase desisto de assistir ao
espetáculo. Explico. Ameaçadoramente, as "autoridades" declararam, em
gesto de prepotência, que iriam rebocar o meu carro, se não aceitasse as suas
"regras". E eu, perseguida, assemelhava-me
à Justine, na primeira cena da peça, quando fugia, esbaforida, dos guardas de
segurança do Museu do Louvre, em Paris.
O ocorrido com esta crítica não guarda
nenhuma semelhança com o ocorrido com Justine, pois, no caso dela, era
ficção... Aconselha-se a Maison de France não acolher uma viatura da nossa
perigosa "Polícia Pacificadora", pois, não tendo o que fazer no
local, ela põe em risco cidadãos honestos. Dito isso, iniciemos os comentários
sobre a peça de Roberto Athayde, um talentoso cidadão brasileiro.
Antes de iniciar, porém, queremos citar o prazer
da boa acolhida da produção de "Justine...", fazendo com que conseguíssemos paz para assistir ao espetáculo. Respiramos descontraídas,
nós, a platéia, pois já na primeira cena registramos o alto padrão do que nos é oferecido. A "caixa de surpresas" do teatro
italiano abriga o texto de Roberto Athayde, que é inspirado nas duas heroínas do Marquês de Sade: "Justine - ou os Infortúnios
da Virtude" e "Juliette", às quais Athayde dá um tom farsesco, tanto na "Paris dos Reis", quanto na que foi descoberta no século XXI.
Como
sabemos, Sade (que teve sua vida criativa "reconhecida" a partir dos
anos 80, do século XVIII), foi perseguido por libertinagem - ele era um
"libertino" - porém considerado louco, por seus escritos atingirem extremos.
Mas o que ele escrevia era pura crítica aos tempos em que vivia. Talvez, hoje, o
autor francês se assustasse com o que veio depois, mas as duas heroínas de Sade, Juliette e Justine, fazem o possível para adiar a surpresa para o seu criador. Athayde as faz dormir durante 230 anos! Inevitável a pergunta: o que pensaria Sade das aventuras atuais de suas heroínas?
O espetáculo da Maison mostra
"teatro" em sua melhor representação: texto feroz, crítica mordaz,
loucura... e farsa! As duas personagens de Sade acordam em uma Paris onde as carruagens não têm cavalos, e
a moral, agora, "é tudo misturado, não tem mais preto e branco" -
conclui Juliette, a má, que é adepta das "cores radicais". Filosofa-se
sobre o Iluminismo e há uma discussão sobre o bem e o mal, radical! Se o
espetáculo é dedicado, por sua diretora Paula Sandroni, a Antonio Abujamra, faz
jus ao seu homenageado. Principalmente, a atuação de Betina Pons como a
"malvada", cujos ademanes e astucias fazem a delícia da platéia. Como
diz o padre, depois de perdida a sua batina (Alexandre Slaviero, outro ator
louvável em timming e inteligência
cênica): "Vocês são as duas dondocas mais escrotas da literatura francesa".
Quanto à infeliz representante da pureza,
que em Sade encontrou a desgraça, nesta nova versão de Athayde ela, se no final
acaba também aterrorizada pelas maldades da irmã, ao menos pode se considerar
agraciada: a defensora de sua personagem
é a doce e gentil atriz Rosanne Mulholland. Pergunta-se: onde a diretora foi
procurar este trio tão afinado e cujo requinte parece vir dos tempos "descarados" do reinado dos Bourbons?
Na caixa iluminada do palco italiano, com cortinas
vermelhas e gestual 'monarquia', eis que nos são apresentados três atores cujo talento é surpreendente: Betina Pons (Juliette); Rosane
Mulholland (Justine) e Alexandre Slaviero, no papel de Herdrick, um padre capuchinho
prestes a abandonar a batina por não mais acreditar em Deus. Um padre! Juliette
quer tanto um Cardeal! Mas agora estamos no Século XXI, e os cardeais se
acalmaram, o cenário se altera, e as belas são surpreendidas em uma nova
civilização, uma nova Paris.
A idéia é excelente, e o poder de crítica
e sátira de Roberto Athayde é indiscutível. Estamos em boas mãos.
A cenografia, com suas cortinas e móveis à
Louis XV, assim como o ambiente moderno, são criações de Nello Marrese; os
figurinos (os de época e os modernos), são elaborados por Anete Cota. Os
primeiros, settecentistas, representam o 'bom gosto duvidoso' da
época em que nossas personagens nasceram - os outros são pontuações do século
XXI (a peça de Athayde foi escrita em 2002). Paula Sandroni, além da ótima
direção - pelo que sabemos foi assistente de direção de João
Fonseca em "Édipo Unplugged" (2004) - Prêmio Shell de Melhor Direção.
Portanto, sua visão traz uma boa escola. Atuando como Assistente de Direção temos
Gustavo Arthiddoro! A Direção de Movimento é de Priscila Vidca, responsável, talvez, junto com Sandroni e Arthidodoro, pela alta voltagem na comicidade dos atores. A Trilha Musical, pensada por Paula Sandroni,
traz-nos acordes de, salvo engano, "O Barbeiro de Sevilha", o que nos
reporta aos revolucionários tempos de Beaumarchais.
E por aqui ficamos: A Iluminação, excelente, é de Daniela Sanchez; Preparação Vocal, Verônica Machado; Assessoria de Imprensa, Sheila Gomes. TRATA-SE DE UM EXCELENTE - E BEM CUIDADO - MOMENTO TEATRAL. ACONSELHA-SE.
E por aqui ficamos: A Iluminação, excelente, é de Daniela Sanchez; Preparação Vocal, Verônica Machado; Assessoria de Imprensa, Sheila Gomes. TRATA-SE DE UM EXCELENTE - E BEM CUIDADO - MOMENTO TEATRAL. ACONSELHA-SE.
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