Juliana Lohmann e Linn Jardim, em "Roma", texto de Guilherme Prates, direção Renato Farias. (Foto Carol Beiriz) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
O beijo, entre as belas mulheres, é
estético. O beijo, entre os belos homens, é escândalo. Dois pesos, duas
medidas? O homem é penalizado: o macho deve ser o reprodutor, na sociedade
patriarcal (a nossa) ... e a mulher, o estimulo a essa reprodução! Simples
assim: o beijo entre mulheres é um excitante para os homens. Isso tudo todos
nós sabemos...
... Entretanto, no Teatro Sergio Porto
(não percam!) podemos assistir a um acontecimento peculiar, que nos traz uma
visão bastante independente do que seja a sexualidade feminina. Trata-se de "Roma"
(o espetáculo voltará à cena, no Sergio Porto, depois das festas de fim de ano). Dirigido por Renato Farias, que já nos deu o
belo "João Cabral", sobre a obra do poeta pernambucano. "Roma" é um espetáculo repleto de poesia, amor e sensualidade, saído das mãos desse
diretor cuja sensibilidade é a de um
poeta.
Complementando o acerto, temos o texto do carioca - um jovem de 22 anos! -
Guilherme Prates, que em boa hora optou pela carreira de dramaturgo.
"Roma" é o seu primeiro texto encenado, inspirado no filme "Um Quarto em Roma", de Julio Medem. O dramaturgo estreante mostrou uma
surpreendente compreensão da alma feminina em seu texto selvagem, agudo, que vai
direto ao alvo, com a independência dos jovens talentos. É ver para crer. E
nada de rótulos, é teatro puro.
Complementando a cena, temos o 'espaço
cênico', que torna possível o contato com a platéia. Criou-se, na galeria de
arte do Sérgio Porto, algo que respira transcendência. Ao entrarmos no local
temos a sensação de imaterialidade, como nos sonhos. Aos poucos essa cortina
irreal (provocada pelo "gelo seco" que impera na área), vai aos
poucos se dissipando, e somos recepcionados por algo inusitado. Nada de
rótulos, nada de teatro pós-moderno. Sim, é com se estivéssemos dentro de um quarto
de hotel (como quer o texto), e as duas belas mulheres estivessem vivendo, sob
o nosso testemunho, a descoberta de algo novo em suas vidas. O curioso é que vamos
sendo tomados por uma sensação de "pertencimento".
E somos apresentados a duas personalidades
de atriz, trabalhando uma sexualidade
natural que brota de seus desempenhos e da sensibilidade do autor. São elas
Linn Jardim, que interpreta "Ana ou Helena" - e Juliana Lohmann, no
papel de Isabella. Há grande entrosamento entre as duas atrizes, interpretando personagens
antagônicas. A verdadeira "Helena" (de Linn Jardim) atinge momentos
de tragédia grega, em seu temperamento apaixonado, com rompantes que nos
aproximam de seu destino: "Tem
gente que nasce com a tragedia no sangue!" Interessante "Helena", a grega, como
o nome o diz ...
A doçura de Isabella tentando escapar ao "assedio
irresistível", nos dá a oportunidade de testemunhar o trabalho de "nuances de personagem" estabelecido
pela mão segura do diretor. Um belo trabalho. Nesta produção - bem cuidada -
uniram-se dois grupos: a Cia de Teatro Íntimo, de Renato Farias, e a Cia
"Por Acaso", e a "idealização" do espetáculo, de Linn Jardim.
Essa Companhia funciona "ao acaso" dos convites feitos aos atores, a
cada montagem. Essa foi a vez de Linn, Lohmann e Prates que, por sua vez,
convidaram Renato Farias para dirigir.
A idéia é a "fuga" de uma festa
de réveillon.
Assistente de Direção Fernanda Boechat;
Cenografia (excelente), de Gigi Barreto (Renato nos diz que eles criaram um
novo espaço cênico, dentro da galeria). Figurinos (apropriados para a ocasião!)
de Thiago Mendonça. Iluminação, Rafael Sieg. A Trilha Sonora de Pedro Gracindo
é um espetáculo à parte. Destaque-se a interpretação de Linn Jardim para
"Don't let me down", de John Lennon. Linn possui também a qualidade
de uma performer (não parecia "playback", ao menos...)
NÃO
PERCAM "ROMA" !!!
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