Wanderléa, acompanhada de elenco em "6o! Década de Arromba"
direção Frederico Reder. (foto Produção)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro -
AICT)
(Especial)
"60! Década de Arromba - doc.musical"
Pronto! De repente vou
deixar de lado as minhas "peças cabeças" e entrar "de
cabeça" nesta folia descomunal! Aderi ao musical dirigido por Frederico
Reder no momento em que as "Barbies" entraram em cena! Aqueles seres mecânicos,
de roupas iguais relembrando (ao longe) as calçadas de Copacabana, aquela
imagem compacta de mulheres que mais pareciam saídas de um cartaz de cinema, em
duas dimensões! ... e, de repente se
mexiam, dançavam, cantavam... aquele hino em homenagem à Lua ("Tomo banho
de Lua!/ Fico branca como a neve!/".
Aderi!
É claro que não foi só isso. A narrativa,
pesquisada e roteirizada por Marcos Nauer, nos trouxe lembranças da "década
maldita", e suas descobertas musicais - nossas, brasileira, e norte-americanas!
Principalmente... E constatamos que aquele povo agressivo, neurótico...!, é
imbatível em matéria de música popular, "quase" conseguindo nos suplantar!
Ah, os rocks frenéticos, as canções românticas norte-americanas! Mas apareceram
também os Beatlles - e viva a Inglaterra! Foi uma catarse assistir a essa
"Década de Arromba"!
Os primeiros anos da década, os que
preparavam o "explosivo", em todos os sentidos, 1964, foram
preparados com muito cuidado por Nauer e Reder. Eis uma fonte de comicidade muito
bem preparada, inesperada e surpreendente. Desde as proibições absurdas do
presidente Jânio Quadros, o "presidente avalanche" que acabou
renunciando, junto com a beleza da Lua e seus segredos desvendados: "Lua,
ó Lua, querem te passar pra trás/ Lua, ó Lua, querem te tirar a paz!" - e o
homem pisava na Lua! E as proibições de Jânio Quadros? Uma comicidade inesperada
do "presidente vassourinha" que proibiu o biquíni nas praias, e as
cenas de hipnose nos teatros! Penso que a atriz que foi abduzida pelo
hipnotizador é Amanda Döring... As cenas, criticando o período Jânio Quadros,
nos deixam perceber pesquisador e diretor trabalhando em grande sintonia. O tom
de comicidade é relevante, original.
E assim segue o espetáculo, com 3h30' de
duração! e intervalos generosos. Na platéia, comemora-se o fausto e o bom gosto
do espetáculo onde, no palco, cantores fabulosos, como Érika Affonso (salvo
engano, cantou Aquarela do Brasil?). Cássia Raquel, Analu Pimenta? Maravilhosas!
Confesso que não conhecia o elenco de tantos cantores e bailarinos excepcionais
em seu profissionalismo. São 23 atores, e nenhuma falha: direção perfeita. Fica-se
encantado com o padrão de elenco. E, como se não bastasse, eis que surge a homenageada
(e homenageante) Wanderléa, descendo escadarias e cantando: "Agora vem
você dizendo, adeus! Que foi que eu fiz, pra que você, me trate assim?" -
queixando-se de um possível esquecimento do público em relação a ela? Impossível.
E as sequências lembrando o nascimento da
Jovem Guarda e da Bossa Nova? Que anos, aqueles! Valeu à pena estar presente no
palco do magnífico Theatro NET Rio. Sim, este qualificativo não está fora de
ocasião, há que festejar os grandes - e bons - teatros cariocas (apenas uma
ressalva: quem fica no balcão perde
50% do espetáculo, justamente por causa da parede da frisa...). Mas esqueçamos
este detalhe e olhemos os figurinos perfeitos (Bruno Perlatto), as perucas, os
movimentos corporais do elenco (coreografia de Natália Lana e Vitor Maia).
Assistimos a algo descompromissado, e com muitos recados aos "amigos"
do Norte. Não seria uma documentação perfeita se não tivesse também a
participação do cinema, e a importância dos filmes surgidos naquela época. Ponto
para a pesquisa de Marcos Nauer. Videografismo de Thiago Stauffer.
Não faltaram homenagens a presidentes,
inclusive a um certo presidente assassinado, nos EUA. Nada que o desvario da
construção de Brasília não abafasse, com o delírio de Kubitschek. Também foi
lembrada, naqueles anos, a morte trágica de Marilyn Monroe. O espetáculo foi um
verdadeiro "melting pot" de civilizações... não sendo esquecido, inclusive,
um dos muros que a incompreensão humana construiu - dessa vez separando Berlim
em duas cidades. Há outros por aí, em outras cidades, em décadas mais recentes.
O mundo não muda.
Mas voltemos às perucas e às saias godê.
Um espetáculo envolvente. Chegamos até a esquecer a precariedade de certas
projeções visuais, o que é desculpável, aliás, pela raridade de sua conservação
(hoje há técnicas de recuperação. Enfim...). Ironicamente, a TV Tupi não guardou em seu acervo cópias
mais fieis de seus sucessos. Deixemos os comentários para o filme "Chatô", para
quem já o assistiu. Mas a década de 60 foi marcante, principalmente para as mulheres,
com suas "pílulas" e sua liberdade, com Simone de Beauvoir... Nada disso foi
esquecido.
Mas a moda feminina, com suas perucas e saias
godês também alterou o comportamento masculino. Essa foi uma década dinâmica,
ninguém pode negar. Os desempenhos, em
cena, são marcantes. Impossível citar a todos; deixaremos a referencia de seus
nomes. Além das atrizes já citadas, tivemos em destaque Leandro Massaferri
interpretando Ken, o namorado da Barbie. Marcelo Ferrari... e ainda, em muito
boas interpretações, Giu Mallen, Jade Salim, Fabiana Tolentino, Bel Lima,
Amanda Döring (a que foi hipnotizada?), Deborah Marins, Jullie, Rachel
Cristina, Rosana Chayin, e os "meninos" André Sigom, Leo Araujo,
Mateus Ribeiro, Pedro Arrais, Raphael Rossatto, e os Rodrigos: Morura, Naice e
Sephan, e Tauã Delmiro. Não podemos esquecer os músicos, cuja apresentação é
brilhante, comandados por Toni Lucchesi, pianista e regente. São eles:
Alexandre Queiroz, teclados; Léo Bandeira, bateria; Pedro Aune, baixos; Gabriel
Quinto, violão, guitarra e cavaquinho; Lalo California, guitarra; Luiz Felipe
Ferreira, violino; Tahis Ferreira, violoncelo; Rafael Sant'Anna, trompete e Vitor
de Medeiros, sax, flauta e clarinete.
VALEU, FREDERICO REDER!
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ESTE TRABALHO ME SERVIRÁ DE INSPIRAÇÃO
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