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sábado, 10 de dezembro de 2016

"60! DÉCADA DE ARROMBA doc.musical"



CRÍTICA TEATRAL
Wanderléa, acompanhada de elenco em "6o! Década de Arromba"
direção Frederico Reder. (foto Produção)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

"60! Década de Arromba - doc.musical"
     Pronto! De repente vou deixar de lado as minhas "peças cabeças" e entrar "de cabeça" nesta folia descomunal! Aderi ao musical dirigido por Frederico Reder no momento em que as "Barbies" entraram em cena! Aqueles seres mecânicos, de roupas iguais relembrando (ao longe) as calçadas de Copacabana, aquela imagem compacta de mulheres que mais pareciam saídas de um cartaz de cinema, em duas dimensões! ... e,  de repente se mexiam, dançavam, cantavam... aquele hino em homenagem à Lua ("Tomo banho de Lua!/ Fico branca como a neve!/".

    Aderi!

    É claro que não foi só isso. A narrativa, pesquisada e roteirizada por Marcos Nauer, nos trouxe lembranças da "década maldita", e suas descobertas musicais - nossas, brasileira, e norte-americanas! Principalmente... E constatamos que aquele povo agressivo, neurótico...!, é imbatível em matéria de música popular, "quase" conseguindo nos suplantar! Ah, os rocks frenéticos, as canções românticas norte-americanas! Mas apareceram também os Beatlles - e viva a Inglaterra! Foi uma catarse assistir a essa "Década de Arromba"!

     Os primeiros anos da década, os que preparavam o "explosivo", em todos os sentidos, 1964, foram preparados com muito cuidado por Nauer e Reder. Eis uma fonte de comicidade muito bem preparada, inesperada e surpreendente. Desde as proibições absurdas do presidente Jânio Quadros, o "presidente avalanche" que acabou renunciando, junto com a beleza da Lua e seus segredos desvendados: "Lua, ó Lua, querem te passar pra trás/ Lua, ó Lua, querem te tirar a paz!" - e o homem pisava na Lua! E as proibições de Jânio Quadros? Uma comicidade inesperada do "presidente vassourinha" que proibiu o biquíni nas praias, e as cenas de hipnose nos teatros! Penso que a atriz que foi abduzida pelo hipnotizador é Amanda Döring... As cenas, criticando o período Jânio Quadros, nos deixam perceber pesquisador e diretor trabalhando em grande sintonia. O tom de comicidade é relevante, original.  

     E assim segue o espetáculo, com 3h30' de duração! e intervalos generosos. Na platéia, comemora-se o fausto e o bom gosto do espetáculo onde, no palco, cantores fabulosos, como Érika Affonso (salvo engano, cantou Aquarela do Brasil?). Cássia Raquel, Analu Pimenta? Maravilhosas! Confesso que não conhecia o elenco de tantos cantores e bailarinos excepcionais em seu profissionalismo. São 23 atores, e nenhuma falha: direção perfeita. Fica-se encantado com o padrão de elenco. E, como se não bastasse, eis que surge a homenageada (e homenageante) Wanderléa, descendo escadarias e cantando: "Agora vem você dizendo, adeus! Que foi que eu fiz, pra que você, me trate assim?" - queixando-se de um possível esquecimento do público em relação a ela? Impossível.

     E as sequências lembrando o nascimento da Jovem Guarda e da Bossa Nova? Que anos, aqueles! Valeu à pena estar presente no palco do magnífico Theatro NET Rio. Sim, este qualificativo não está fora de ocasião, há que festejar os grandes - e bons - teatros cariocas (apenas uma ressalva: quem fica no balcão perde 50% do espetáculo, justamente por causa da parede da frisa...). Mas esqueçamos este detalhe e olhemos os figurinos perfeitos (Bruno Perlatto), as perucas, os movimentos corporais do elenco (coreografia de Natália Lana e Vitor Maia). Assistimos a algo descompromissado, e com muitos recados aos "amigos" do Norte. Não seria uma documentação perfeita se não tivesse também a participação do cinema, e a importância dos filmes surgidos naquela época. Ponto para a pesquisa de Marcos Nauer. Videografismo de Thiago Stauffer.

     Não faltaram homenagens a presidentes, inclusive a um certo presidente  assassinado, nos EUA. Nada que o desvario da construção de Brasília não abafasse, com o delírio de Kubitschek. Também foi lembrada, naqueles anos, a morte trágica de Marilyn Monroe. O espetáculo foi um verdadeiro "melting pot" de civilizações... não sendo esquecido, inclusive, um dos muros que a incompreensão humana construiu - dessa vez separando Berlim em duas cidades. Há outros por aí, em outras cidades, em décadas mais recentes. O mundo não muda.

     Mas voltemos às perucas e às saias godê. Um espetáculo envolvente. Chegamos até a esquecer a precariedade de certas projeções visuais, o que é desculpável, aliás, pela raridade de sua conservação (hoje há técnicas de recuperação. Enfim...). Ironicamente,  a TV Tupi não guardou em seu acervo cópias mais fieis de seus sucessos. Deixemos os  comentários para o filme "Chatô", para quem já o assistiu. Mas a década de 60 foi marcante, principalmente para as mulheres, com suas "pílulas" e sua liberdade, com  Simone de Beauvoir... Nada disso foi esquecido.

     Mas a moda feminina, com suas perucas e saias godês também alterou o comportamento masculino. Essa foi uma década dinâmica, ninguém pode negar. Os  desempenhos, em cena, são marcantes. Impossível citar a todos; deixaremos a referencia de seus nomes. Além das atrizes já citadas, tivemos em destaque Leandro Massaferri interpretando Ken, o namorado da Barbie. Marcelo Ferrari... e ainda, em muito boas interpretações, Giu Mallen, Jade Salim, Fabiana Tolentino, Bel Lima, Amanda Döring (a que foi hipnotizada?), Deborah Marins, Jullie, Rachel Cristina, Rosana Chayin, e os "meninos" André Sigom, Leo Araujo, Mateus Ribeiro, Pedro Arrais, Raphael Rossatto, e os Rodrigos: Morura, Naice e Sephan, e Tauã Delmiro. Não podemos esquecer os músicos, cuja apresentação é brilhante, comandados por Toni Lucchesi, pianista e regente. São eles: Alexandre Queiroz, teclados; Léo Bandeira, bateria; Pedro Aune, baixos; Gabriel Quinto, violão, guitarra e cavaquinho; Lalo California, guitarra; Luiz Felipe Ferreira, violino; Tahis Ferreira, violoncelo; Rafael Sant'Anna, trompete e Vitor de Medeiros, sax, flauta e clarinete.

VALEU, FREDERICO REDER!     
        
                                           

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