Carmen Frenzel, Lucilia de Assis e Claudia Ventura em "O Grelo em Obras", direção de Fabiano de Freitas. (Foto Renato Mangolin)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional
de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
A respeito de “O Grelo em Obras”, espetáculo
comemorando os 20 anos de “O Grelo Falante”, em cartaz até o dia 19 de agosto, no
Teatro Sergio Porto, no Humaitá.
O Grelo fala, e há diversas maneiras de
fazê-lo falar, uma delas é através da “lascívia” de uma Messalina (o que não é o
caso), outra pode ser através da consciência histórica do feminismo.... ou da
comedia política, porque a comedia teatral
é um dos maiores veículos políticos.
As atrizes que optaram por levar á cena a
fala do grelo, neste “O Grelo em Obras” (ou seja, “em atualização”), optaram por
iniciar, no programa da peça, com a evolução histórica da mulher neste planeta, Lucy, a das cavernas
(mas só no programa da peça). O espetáculo surge com outro perfil, e queremos
falar sobre este novo perfil.
Imaginamos que, em se tratando do
feminino, a independência deve ser total, porém inovadora. Imaginamos que, ao
se acender a luz do palco o “grelo”, unicamente, comece a falar, deixando as
atrizes serem o seu porta-voz! E não é fácil fazer o grelo falar! (Às vezes
elas se referem pelos nomes). Pois bem, e o que “ele” tem a nos dizer? O mais
importante é a sua reivindicação a ter voz e ser ouvido, pois sempre quem fala
é o “pau” masculino! Realmente, falar por falar não adianta. Não há nada mais “sabido
e requentado” do que a historia pregressa do grelo! Aconselha-se a pensar no
seu futuro, apesar de as atrizes do “Grelo” deixarem escapar a tentação de
falar no seu passado, mesmo que, às vezes, a narrativa se transporte para o ano
2090. Em consequência, ficamos com a impressão de que tudo continuará igual,
com esse jogo de “vai e vem” no tempo. Ad
infinitum.
Será? No programa da peça as atrizes
Carmen Frenzel, Claudia Ventura e Lucília de Assis (prestem atenção no trio
excelente que resolveu dar voz ao grelo!) se dispõe a dar um tratamento histórico
à peregrinação do grelo, começando por Lucy, aquela pré-histórica acima citada,
e há mais de 3 milhões de anos fora deste planeta. Não se aconselha dar continuidade
a tal evolução – nem daria tempo – pois a proposta das atrizes é abordar o presente
à procura do futuro do grelo! Aliás, essa procura começou há 20 anos... O atual
espetáculo está comemorando a data, e tentando renovar os acontecimentos que,
por ventura, alteraram o caminho do tema abordado.
O momento mais impactante da apresentação
é quando as três atrizes solicitam a colaboração da plateia para continuarem a
pensar o texto! (ou talvez para entenderem o que a plateia entendeu do
espetáculo...). Vemos que o feminino continua em questão, mas está sendo
debatido jocosamente - e com a mesma liberdade que o masculino debate a fala do
seu “pau!”.
Vamos lá? (Ô assunto difícil, esse!). Ele
se quer comedia, mas na realidade é uma tragedia! Pelo menos dois pontos devemos
adicionar, para ajudar nas obras deste grelo: o primeiro seria o elenco ouvir
mais a sua voz e também a do sexo oposto. Aconselha-se às reformistas do grelo
prestarem atenção ao que ele lhe fala! Ou seja, deixar de lado o que aconteceu no passado e construir o presente, para
chegarmos a um futuro mais racional?
Sim, porque “O Grelo em Obras”, além de
ser falante, deve se atrever a ser racional...! Já pensaram que hilário seria
um grelo filosofal? A propósito, outro dos bons momentos do espetáculo é
justamente quando o grelo retruca Freud. Trata-se de uma fala racional. E
também quando o grelo declara que possui um pau! É neste momento que o
espetáculo se reconstrói, quebrando as barreiras da perigosa mesmice. Sim, “todas
e todos” têm pau e grelo! É a conclusão a que chegam as defensoras dos três
grelos (pois eles são representados por elas). Uns são dominantes, outros recessivos,
mas todos estão ali, atentos a seus desejos... E não só os desejos sexuais, os
de vida vivida também!
Temos quase certeza de que muitos expectadores
vão assistir ao grelo em busca de uma boa sacanagem. Que tal botá-los a pensar
na historia da “assimilação dos contrários”? Complicado, isso. Será que eles
vão ficar decepcionados com o “papo cabeça”? Atenção! Produtores e elenco, não
desistam dessa procura, não desistam do espetáculo, ele é necessário, e o contato
com o público é essencial, tornando possível o grau de entendimento da plateia
a respeito da proposta desse encontro. E, para escândalo de todos nós, vocês já
pensaram que as mulheres também têm um fallus?
Que coisa! São elas que movimentam a nossa historia, por mais que o machismo
queira transformá-las em bobas: são elas que começam as revoluções e se
preocupam em “mudar o mundo” ( não as bobas, é claro. Elas existem!).
Sobre o elenco: são hilárias as intervenções de Carmen Frenzel quando ela
fala em estratégia com sua sócia e companheira ausente, Islovina, fazendo a
imitação da maneira de falar de Paulo Francis! E Claudia Ventura se revelando
também como “a woman show”, cantando e tocando a sua guitarra! E Lucilia de
Assis, ótima comediante!
Seria muito bom que o texto se abrisse para o que está acontecendo
atualmente com as mulheres. Tanta coisa! Elas são candidatas a vice-presidência
do Brasil; querem igualdade nos salários, o mesmo dos homens, para a mesma
função; querem que parem com essa mania de mandar em seu corpo! E muito mais. E
as atrizes deste espetáculo são lindas! Nunca haverá mulheres como Carmen
Frenzel, Claudia Ventura e Lucilia de Assis. Elas estão fazendo história com “H”
maiúsculo!
Só sentimos, na peça, não haver um olhar mais crítico, mais provocador –
irreverente mesmo! - sobre as mulheres e o mundo em que vivemos. Ponham pra
quebrar! Sem medo!
E é interessante lembrar o que Carmen
Frenzel diz: “o primeiro slide que apresentamos é de um homem”. Trata-se de
Apolônio de Carvalho, um querido líder político voltado à solidariedade e à
empatia, sentimentos que são o futuro da humanidade!
As três atrizes parecem não acreditar
muito em mudanças para o futuro, elas vão e vem, pulando do nosso ano para o 2090,
falando sobre o final do milênio da mesma maneira que falariam agora... e com as
mesmas limitações para a mulher! Mas, como diz uma expectadora, na hora de conversar
com as atrizes: “o importante é participar”. Nós também acreditamos
que as mudanças dependem muito de nossa participação!
E há um momento no qual as atrizes comentam
a censura ao “Grelo”, no título do programa, quando elas foram chamadas a apresentar
seu trabalho em uma televisão, um programa humorístico só delas! Parece até piada,
mas o grelo ficou assim, na censura televisiva: “O G.... Falante”. Algo
parecido aconteceu também com Antonio Abujamra e o seu “Os Fodidos
Privilegiados”, que passou a ser conhecido, na imprensa, como “Os F...
Privilegiados”...!
A coisa está esquentando, aí com vocês. Os gritos e palavras censuradas
que vocês proferem mostram a intenção de seu trabalho. E os figurinos! São
muito divertidos, principalmente os das “bailarinas” no início da peça, com seu
saiote de fru-fru de tule! São de Nívea Faso. O cenário, caótico, também é da figurinista e diretora de arte. Para a direção do espetáculo elas convidaram Fabiano de Freitas, e para a iluminação, Renato Machado e Mauricio
Fuzyiane. Tudo para mostrar que elas não têm nada contra o pau, e
porque eles são profissionais supercompetentes.
PARTICIPEM!
NÃO PERCAM! LONGA VIDA PARA ESTE “O GRELO EM OBRAS”!
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domingo, 12 de agosto de 2018
"O GRELO EM OBRAS"
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