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domingo, 12 de agosto de 2018

"O GRELO EM OBRAS"

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Carmen Frenzel, Lucilia de Assis e Claudia Ventura em "O Grelo em Obras", direção de Fabiano de Freitas.
(Foto Renato Mangolin)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

     A respeito de “O Grelo em Obras”, espetáculo comemorando os 20 anos de “O Grelo Falante”, em cartaz até o dia 19 de agosto, no Teatro Sergio Porto, no Humaitá.
     O Grelo fala, e há diversas maneiras de fazê-lo falar, uma delas é através da “lascívia” de uma Messalina (o que não é o caso), outra pode ser através da consciência histórica do feminismo.... ou da comedia  política, porque a comedia teatral é um dos maiores veículos políticos.
     As atrizes que optaram por levar á cena a fala do grelo, neste “O Grelo em Obras” (ou seja, “em atualização”), optaram por iniciar, no programa da peça, com a evolução histórica da  mulher neste planeta, Lucy, a das cavernas (mas só no programa da peça). O espetáculo surge com outro perfil, e queremos falar sobre este novo perfil.
     Imaginamos que, em se tratando do feminino, a independência deve ser total, porém inovadora. Imaginamos que, ao se acender a luz do palco o “grelo”, unicamente, comece a falar, deixando as atrizes serem o seu porta-voz! E não é fácil fazer o grelo falar! (Às vezes elas se referem pelos nomes). Pois bem, e o que “ele” tem a nos dizer? O mais importante é a sua reivindicação a ter voz e ser ouvido, pois sempre quem fala é o “pau” masculino! Realmente, falar por falar não adianta. Não há nada mais “sabido e requentado” do que a historia pregressa do grelo! Aconselha-se a pensar no seu futuro, apesar de as atrizes do “Grelo” deixarem escapar a tentação de falar no seu passado, mesmo que, às vezes, a narrativa se transporte para o ano 2090. Em consequência, ficamos com a impressão de que tudo continuará igual, com esse jogo de “vai e vem” no tempo. Ad infinitum.
      Será? No programa da peça as atrizes Carmen Frenzel, Claudia Ventura e Lucília de Assis (prestem atenção no trio excelente que resolveu dar voz ao grelo!) se dispõe a dar um tratamento histórico à peregrinação do grelo, começando por Lucy, aquela pré-histórica acima citada, e há mais de 3 milhões de anos fora deste planeta. Não se aconselha dar continuidade a tal evolução – nem daria tempo – pois a proposta das atrizes é abordar o presente à procura do futuro do grelo! Aliás, essa procura começou há 20 anos... O atual espetáculo está comemorando a data, e tentando renovar os acontecimentos que, por ventura, alteraram o caminho do tema abordado.
      O momento mais impactante da apresentação é quando as três atrizes solicitam a colaboração da plateia para continuarem a pensar o texto! (ou talvez para entenderem o que a plateia entendeu do espetáculo...). Vemos que o feminino continua em questão, mas está sendo debatido jocosamente - e com a mesma liberdade que o masculino debate a fala do seu “pau!”.
     Vamos lá? (Ô assunto difícil, esse!). Ele se quer comedia, mas na realidade é uma tragedia! Pelo menos dois pontos devemos adicionar, para ajudar nas obras deste grelo: o primeiro seria o elenco ouvir mais a sua voz e também a do sexo oposto. Aconselha-se às reformistas do grelo prestarem atenção ao que ele lhe fala! Ou seja, deixar de lado o que  aconteceu no passado e construir o presente, para chegarmos a um futuro mais racional?
     Sim, porque “O Grelo em Obras”, além de ser falante, deve se atrever a ser racional...! Já pensaram que hilário seria um grelo filosofal? A propósito, outro dos bons momentos do espetáculo é justamente quando o grelo retruca Freud. Trata-se de uma fala racional. E também quando o grelo declara que possui um pau! É neste momento que o espetáculo se reconstrói, quebrando as barreiras da perigosa mesmice. Sim, “todas e todos” têm pau e grelo! É a conclusão a que chegam as defensoras dos três grelos (pois eles são representados por elas). Uns são dominantes, outros recessivos, mas todos estão ali, atentos a seus desejos... E não só os desejos sexuais, os de vida vivida também!
     Temos quase certeza de que muitos expectadores vão assistir ao grelo em busca de uma boa sacanagem. Que tal botá-los a pensar na historia da “assimilação dos contrários”? Complicado, isso. Será que eles vão ficar decepcionados com o “papo cabeça”? Atenção! Produtores e elenco, não desistam dessa procura, não desistam do espetáculo, ele é necessário, e o contato com o público é essencial, tornando possível o grau de entendimento da plateia a respeito da proposta desse encontro. E, para escândalo de todos nós, vocês já pensaram que as mulheres também têm um fallus? Que coisa! São elas que movimentam a nossa historia, por mais que o machismo queira transformá-las em bobas: são elas que começam as revoluções e se preocupam em “mudar o mundo” ( não as bobas, é claro. Elas existem!).
     Sobre o elenco: são hilárias as intervenções de Carmen Frenzel quando ela fala em estratégia com sua sócia e companheira ausente, Islovina, fazendo a imitação da maneira de falar de Paulo Francis! E Claudia Ventura se revelando também como “a woman show”, cantando e tocando a sua guitarra! E Lucilia de Assis, ótima comediante!
     Seria muito bom que o texto se abrisse para o que está acontecendo atualmente com as mulheres. Tanta coisa! Elas são candidatas a vice-presidência do Brasil; querem igualdade nos salários, o mesmo dos homens, para a mesma função; querem que parem com essa mania de mandar em seu corpo! E muito mais. E as atrizes deste espetáculo são lindas! Nunca haverá mulheres como Carmen Frenzel, Claudia Ventura e Lucilia de Assis. Elas estão fazendo história com “H” maiúsculo!
     Só sentimos, na peça, não haver um olhar mais crítico, mais provocador – irreverente mesmo! - sobre as mulheres e o mundo em que vivemos. Ponham pra quebrar! Sem medo!
     E é interessante lembrar o que Carmen Frenzel diz: “o primeiro slide que apresentamos é de um homem”. Trata-se de Apolônio de Carvalho, um querido líder político voltado à solidariedade e à empatia, sentimentos que são o futuro da humanidade!  
     As três atrizes parecem não acreditar muito em mudanças para o futuro, elas vão e vem, pulando do nosso ano para o 2090, falando sobre o final do milênio da mesma maneira que falariam agora... e com as mesmas limitações para a mulher! Mas, como diz uma expectadora, na hora de conversar com as atrizes:  “o  importante é participar”. Nós também acreditamos que as mudanças dependem muito de nossa participação!
     E há um momento no qual as atrizes comentam a censura ao “Grelo”, no título do programa, quando elas foram chamadas a apresentar seu trabalho em uma televisão, um programa humorístico só delas! Parece até piada, mas o grelo ficou assim, na censura televisiva: “O G.... Falante”. Algo parecido aconteceu também com Antonio Abujamra e o seu “Os Fodidos Privilegiados”, que passou a ser conhecido, na imprensa, como “Os F... Privilegiados”...!
      A coisa está esquentando, aí com vocês. Os gritos e palavras censuradas que vocês proferem mostram a intenção de seu trabalho. E os figurinos! São muito divertidos, principalmente os das “bailarinas” no início da peça, com seu saiote de fru-fru de tule! São de Nívea Faso. O cenário, caótico, também é da figurinista e diretora de arte. Para a direção do espetáculo elas convidaram Fabiano de Freitas, e para a iluminação, Renato Machado e Mauricio Fuzyiane. Tudo para mostrar  que elas não têm nada contra o pau, e porque eles são profissionais supercompetentes.
PARTICIPEM! NÃO PERCAM! LONGA VIDA PARA ESTE “O GRELO EM OBRAS”!

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