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quinta-feira, 9 de agosto de 2018

"MOLIÈRE"

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Elcio Nogueira Seixas (Racine); Nilton Bicudo (Louis XIV) e Matheus Nachtergaele (Molière). Direção Diego Fortes. (Foto Estudo FB)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

     Ora, ora, ora...! Como é bom ver todos estes homens (e mulheres...) de teatro jogando sua carga de ironia (e por que não dizer “safadeza”?) para cima de nós, possuidores de olhos e ouvidos famintos, abertos para uma cena irreverente! Um conselho: expectadores, acreditem só um pouco nas palavras de Molière, quando ele se refere ao caráter sem amarras de Racine! Molière em cena, dominado pela vontade de Matheus Nachtergaele, deixa-se levar pela ilusão da influência benéfica que exerceu sobre Racine, o irônico e também "dominante de plateias", que viveu, como Molière, no século XVII, e teve alguma ligação - enfatizada na peça - com Molière! O nome dele hoje em dia é Elcio Nogueira Seixas! De onde Nachtergaele tirou este ator? Eles criaram o Teatro Promíscuo, os três, pois Renato Borghi também está junto – e como! - e se excederam nesta bendita criação paulista que veio visitar o Rio de Janeiro!

     Mas, segundo ficamos sabendo por Molière (com exagero): foi ele quem  ensinou Racine a se comportar à mesa e a se relacionar com  a Casa Real. Mal-agradecido Racine! E o sensível Molière vai em busca de remediar o que considera falta de respeito com a sua arte, colocando em cena a sua visão! Na nossa versão (já que o jogo é livre), o que realmente aconteceu foi que “o homem de Port Royal” (picuinhas à parte, Racine) via o filho do tapeceiro (Molière), como um vulgar armador de “pecinhas” e de encrencas. Se vamos começar a falar em Port Royal, podemos dizer que Racine, à época, era tão bem visto quanto Blaise Pascal, em sua cultura do século XVII! Blasfemamos? Sem a exaltação religiosa deste último. Que o digam  Voltaire e Saint Beuve, homens que sabiam apreciar as qualidades do talento clássico que tanto aborrecia Molière!

        Mas por que estou me referindo ao passado destes dois artistas, Molière e Racine?  Por que é, de fato, muito divertida a iniciativa da autora mexicana Sabrina Berman, ao destacar furiosamente as desavenças entre os dois preferidos de Louis XIV! Por exemplo, fica bem construída a rivalidade quando “Natchtergaele///Molière” se refere ao aborrecimento soporífero que “Phedra” poderia suscitar ao público de Racine!

     Bendito espetáculo,  e o elenco deste "Molière"! E as citações da política atual e de frases reproduzidas por nossas “excelências”, em acontecimentos sociais do presente, e o cada vez mais impressionante ator Renato Borghi e sua atuação, nos leva a recordações de um "certo espetáculo" de autor brasileiro que ficou na historia, e que recentemente esteve por aqui... Mas não querermos comparações,  "Molière" tem a sua própria loucura! e Borghi sua própria arte! ... Ele interpreta o Arcebispo Beaumont de Péréfixe, que  inspira Molière a criar o seu Tartufo! Elenco de primeira, Georgette Fadel (com cenas cruéis em sua buffonerie), é Gonzago, o factotum de Péréfixe! E Luciana Borghi, como a atriz Madeleine Béjard, companheira de Molière. Luciana interpreta também a Rainha Mãe - a espanhola Ana de Áustria.

... e Nilton Bicudo como Louis XIV? (muito bom); e Rafael Camargo (La Fontaine). E o aderecista Raphael Hubner com suas perucas dá o toque às cabeças coroadas, e a dos artistas da época, ressaltando o apogeu da excentricidade que viveu a França daquela época. É algo a ser comemorado em nossos palcos... E há mais, muito mais... 

     Mas quem é mesmo, afinal, esta Sabina Berman que separa tão bem Aristófanes e Eurípedes - Molière e Racine? Que dá alento a Racine, ao mesmo tempo em que coloca Molière em sua verdade última de ternura e raiva? Ficamos sabendo que a premiadíssima autora mexicana mexeu com a imaginação da troupe do Teatro Promíscuo, que ora nos visita (vinda de São Paulo com “Molière”, depois de ter viajado o mundo...).     

     Mas não paramos as citações... 
  Temos Regina França como Madame Parnelle e Mlle. Du Parc; Debora Veneziani, a “descarada namoradeira” Armande, que fez Molière chorar... e com ela se casar!  ... Fabio Cardoso como Lully (outro preferido de Louis XIV!), ele toca pianola como nos tempos de Versailles, acompanhado pelos músicos Beatriz Lima, Edith de Camargo (que também interpreta um Marquês), Renata Neves (musicista) e muitos mais, além de Thomas Marcondes. E quem é o diretor? Chama-se Diego Fortes, ele amou dirigir este trabalho, o fez como o sonho de sua vida! Também é de Diego a adaptação dramatúrgica do espetáculo, com a escritora Lucy Collin. A tradução é de Renato Borghi com Elcio Nogueira Seixas. Direção musical de Gilson Fukushima. E aí vem a sequencia de músicas: “Dans mon île”, de Henry Salvador, cantada magicamente por Luciana Borghi, e também algumas adaptações de músicas de Caetano Veloso, há “Reconvexo” cantado por Marco Bravo e Edith de Camargo e, encerrando o espetáculo, o belo “Coração Vagabundo” cantado/declamado! pelo ótimo Matheus Nachtergaele. Aliás, sobre este trio – meu Deus – não há o que destacar: Matheus, Borghi e Elcio Nogueira Seixas. (Ficamos enamorados pelo elenco, e surpreendidos com Elcio Nogueira Seixas, ainda desconhecido para nós, o inesquecível Jean Racine!). A cenografia é remarcable, pelas mãos de André Cortez e Carol Bucek. Eles incendeiam o duplo palco... Iluminação: Beto Bruel e Nadja Naira. Aderecista: Raphael Hubner. Vida longa e muita diversão para este MOLIÉRE!





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