Emílio Orciollo Netto em "Também Queria te Dizer" - cartas masculinas. (Foto Divulgação) |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro (AICT)
(Especial)
Reitero, para as pessoas que lêem esta minha coluna sobre
crítica de teatro, que o meu interesse é observar e analisar, com cuidado e
carinho, aquilo que vi. Não estou visando interesses particulares, nem meus,
nem dos artistas a quem assisto, mas ao bem geral do espetáculo. Tenho
observado que as minhas ponderações (quase sempre) agem sobre os artistas de
maneira positiva. Posso ver essa resposta nos e.mails que recebo. Costumo assistir,
fortuitamente, aos espetáculos por mim criticados e percebo, com alegria, que os
desacertos foram sanados... Só então tenho a sensação de dever cumprido. Aceito
que sou uma crítica “sui generis”, pois chego a perder o sono quando devo
apontar algum defeito, nas peças a que assisto. Assim é a vida. “And so it goes”,
como diz Kurt Vonnegut Jr.
CRÍTICA (de) “TAMBÉM QUERIA DE DIZER...” – cartas masculinas.
Emílio Orciollo Netto está em cartaz no pequeno espaço
acolhedor do Midrash Centro Cultural. Trata-se de um espetáculo muito simples,
uma boa maneira de o ator mostrar a sua versatilidade. Emílio encena o texto de
Martha Medeiros muito bem conduzido, em seu primeiro monólogo, pelo argentino
Victor Garcia Peralta, o construtor de sucessos que dispensa apresentações. O
texto trata de homens e seus sentimentos.
É interessante observar
o jogo que se estabelece entre os atores da “máquina” e os atores do palco: os
atores da “máquina global” respiram, quando entram em contato direto com a
respiração do público. É essencial para eles, essa troca, trata-se de um jogo
estimulante e estimulador. Emílio, neste monólogo, tem essa grande oportunidade.
Senão vejamos: sozinho em palco,
cercado pelo apoio musical de Plínio Profeta em sua trilha sonora – Primal
Screan, The Doors, Marvin Goye, e outros gênios do pop/rock (Gabriel Lagoas no
som), o ator vai lendo as cartas e dando a devida emoção a cada uma das
revelações embutidas nelas. É quando o ator se apropria do sentimento do
missivista como se dele o fora.
Assim, na ambientação de um atelier de artista
plástico onde domina, muito significativamente, o esboço de “O Grito”, de Edvard
Munch, Emílio vai revelando “gritos” de homens sem voz: presidiários; homens em luto; padres e policiais; loucos....
São narrativas de culpas, de amores, de arrependimentos. A emoção vai tomando conta do ator e sendo
transmitida à platéia. Apenas uma ressalva: na primeira carta o missivista faz uma
alusão à política, o que remete o público ao governo atual, ao nosso governo
popular. O público compartilha, com certa ironia, das observações do missivista.
É clichê e injustiça. O problema, como dizia Joseph Goebells (para ele não era
uma problema) é que “uma mentira, muitas vezes repetida, acaba virando
verdade...” para o bem dos mentirosos. Atores devem ter muito cuidado com a
política, fazer críticas consistentes, pois a sua responsabilidade é enorme,
com essa lente de aumento que eles possuem, que é o palco.
Quanto ao mais, é
um espetáculo generoso, sensível, que nos transmite o prazer de estar em um
atelier, participando do processo de criação de um artista plástico, em sua escolha
de missivas para a sua instalação. Muito bem estruturado, o espetáculo. Vale a
pena conferir.
Ficha técnica: Texto: Martha Medeiros; direção: Victor Garcia
Peralta; Diretor de Produção, Maria Siman; Trilha sonora: Plínio Profeta;
Cenário: Miguel Pinto Guimarães; Figurino: Emílio Orciollo Netto e Victor Garcia
Peralta; Iluminação: Luciano Xavier; Operador de som e luz: Gabriel Lagoas; Arte
gráfica: Maria João; Assessoria de imprensa: Lu Nabuco
Muito bonito e digno o seu prólogo. Aliás, é sempre isto que sinto em suas críticas. Obrigada, Ida, por você existir. Beijos.
ResponderExcluirQuerida Sylvia, cá entre nós... essas andanças por Manaus me fizeram muito mal à saúde. Clima terrível, aquele, não aconselho. Beijo e saudades!
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