Érica Migon, Marcelo Olinto e Bruce Gomlevisky em "O Médico e o Monstro" (Foto Divulgação) |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Que inferno! Pelo que
entendi, Mr. Ludlam deixou The Play House of the Ridiculous e fundou The Ridiculous
Theatrical Company justamente para se
ver livre das Drag Queens e do deboche dos atores de rua novaiorquinos. Nada contra, mas
acreditei em certa “dignidade inglesa” para o trabalho da nova
Companhia e fui conferir, em 1990, assistindo “Camille” (Obie Award), uma
delirante “correção” de Alexandre Dumas Filho, dirigida por Everett Quinton, o
robusto amante de Mr. Ludlam, e também intérprete do papel título. Era algo a se fazer notar, aquela espécie de teatro.
Absolutamente inusitado. Achei que tinha entendido o recado.
Pois bem, no
Brasil, depois do sucesso de “O Mistério de Irma Vap”, também do Ridiculous, dirigido
por Marília Pera, a fórmula retornou com uma versão de “O Médico e o Monstro” (em
São Paulo, e não com o mesmo sucesso de Irma). Pois esse mesmo “O Médico e o
Monstro”, surge agora, adaptado e dirigido por Cesar Augusto (Fabiano de
Freitas colabora na adaptação), com assistência de direção de Priscilla Vidca.
Podemos dizer que
a iniciativa é louvável, e também a expectativa que se criou em torno dessa estreia carioca. Com elenco
invejável: Bruno Gomlevisky como o médico/monstro; Marcelo Olinto interpretando
a governanta da casa, e Michel Blois a desejada prostituta que, na versão
cinematográfica, era interpretada por Ingrid Bergman. A crueldade da produção
(e direção) fica por conta da escolha do elenco feminino, ainda mais levando-se
em conta que raramente o Ridiculous trabalha com atrizes (ou ao menos
trabalhava). Em “Camille” eram 10 contra 2; em “Irma” não havia atrizes.
Deborah Lamm,
Isabel Cavalcanti e Érica Migon (também
tradutora do texto de Georg Osterman, junto com Ursula Migon), esforçam-se para
estar à altura daqueles “monstros”, conseguindo Isabel Cavalcanti, como a
esposa apaixonada e “maladroite” de Dr. Jekyll, chegar um pouco mais perto do que se
convencionou chamar de “o ridículo da Companhia”, com seus agudos superafinados
e menosprezados pela governanta (Marcel Olinto dá show).
Sabe-se que o
diabo, por ser diabo, jamais elogia ou prestigia uma mulher de talento... E
aquela desperdiçadora de amor e talento, aquela “cega”, que é a esposa do Dr.
Jekyll (ótima criação de personagem, da parte de Osterman, mas não tanto de Isabel),
jamais saberá o que está acontecendo ao seu redor. A Ms Jekyll, de Isabel Cavalcanti, ainda pode saber. As outras duas
atrizes também são desperdiçadoras. Débora Lamm desperdiça o seu carisma e não aproveita a
missão que tem, de fazer a parte inversa do convencional papel feminino: ela não
consegue imprimir força ao seu personagem. Muito boa essa idéia do texto, de
afirmar livremente as diferenças e preferências sexuais. Talvez, com o decorrer
das apresentações, Lamm ainda consiga se encontrar. Érica Migon, essa Simone
Signoret desperdiçada, ainda não sabe a que veio.
Agora passemos aos
dois papéis principais. Comecemos por Bruce Gomlensky. Esse excelente ator
(nunca o vi fora do tom), não quis desperdiçar a oportunidade de brincar com as
suas possibilidades. Seu “monstro” é terrível, nojento, mau – às vezes até
excessivamente. Talvez Mr. Hyde domine Dr. Jekyll muito rapidamente. Talvez
seja essa a visão de Osterman. Na estranha história de Stevenson o bom médico luta
desesperadamente para respeitar a apetitosa prostituta (na peça, interpretada
por Michel Blois, e seu nome é sintomático: Lily Gay). Mr. Hyde, o outro eu de
Jekyll, como sabemos, abre as porteiras e a tudo desrespeita. Um ator não
poderia querer melhor desafio.
Não sei se o espetáculo
se dilui em cenas excessivas, o fato é que os dois personagens atribuídos a Gomlevsky
não chegam a dominar o público. Michel Blois, por sua vez, está “patético”,
ou seja, está ótimo. Penso que "patético" seja um bom adjetivo para definir a personagem de Lily Gay.
Cenografia e Objetos de Bia Junqueira. A lIuminação de Luiz
Paulo Nenem é uma parceira constante para os “climas” exigidos. Figurinos (excelentes)
de Antonio Guedes; Direção Musical de Marcelo Alonso Neves. Música original de
Marcelo e Cesar Augusto. Intérprete da Canção Lily Gay: Marya Bravo.
Coreografia e Direção de Movimento: Raquel Karro. Assessoria de Imprensa: Daniella
Cavalcanti.
Nenhum comentário:
Postar um comentário