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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"O MÉDICO E O MONSTRO"

Érica Migon, Marcelo Olinto e Bruce Gomlevisky em "O Médico e o Monstro"
(Foto Divulgação)

CRÍTICA TEATRAL

IDA VICENZIA FLORES

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

Que inferno!  Pelo que entendi, Mr. Ludlam deixou The Play House of the Ridiculous e fundou The Ridiculous Theatrical Company  justamente para se ver livre das Drag Queens e do deboche dos atores de rua novaiorquinos. Nada contra, mas acreditei em certa “dignidade inglesa” para o  trabalho da nova Companhia e fui conferir, em 1990, assistindo “Camille” (Obie Award), uma delirante “correção” de Alexandre Dumas Filho, dirigida por Everett Quinton, o robusto amante de Mr. Ludlam, e também intérprete do papel  título.  Era algo a se fazer notar, aquela espécie de teatro. Absolutamente inusitado. Achei que tinha entendido o recado.
     Pois bem, no Brasil, depois do sucesso de “O Mistério de Irma Vap”, também do Ridiculous, dirigido por Marília Pera, a fórmula retornou com uma versão de “O Médico e o Monstro” (em São Paulo, e não com o mesmo sucesso de Irma). Pois esse mesmo “O Médico e o Monstro”, surge agora, adaptado e dirigido por Cesar Augusto (Fabiano de Freitas colabora na adaptação), com assistência de direção de Priscilla Vidca.
     Podemos dizer que a iniciativa é louvável, e também a expectativa que  se criou em torno dessa estreia carioca. Com elenco invejável: Bruno Gomlevisky como o médico/monstro; Marcelo Olinto interpretando a governanta da casa, e Michel Blois a desejada prostituta que, na versão cinematográfica, era interpretada por Ingrid Bergman. A crueldade da produção (e direção) fica por conta da escolha do elenco feminino, ainda mais levando-se em conta que raramente o Ridiculous trabalha com atrizes (ou ao menos trabalhava). Em “Camille” eram 10 contra 2; em “Irma” não havia atrizes.  
     Deborah Lamm, Isabel Cavalcanti e Érica Migon  (também tradutora do texto de Georg Osterman, junto com Ursula Migon), esforçam-se para estar à altura daqueles “monstros”, conseguindo Isabel Cavalcanti, como a esposa apaixonada e “maladroite” de Dr. Jekyll, chegar um pouco mais perto do que se convencionou chamar de “o ridículo da Companhia”, com seus agudos superafinados e menosprezados pela governanta (Marcel Olinto dá show).
     Sabe-se que o diabo, por ser diabo, jamais elogia ou prestigia uma mulher de talento... E aquela desperdiçadora de amor e talento, aquela “cega”, que é a esposa do Dr. Jekyll (ótima criação de personagem, da parte de Osterman, mas não tanto de Isabel), jamais saberá o que está acontecendo ao seu redor.  A Ms Jekyll, de Isabel Cavalcanti, ainda pode saber. As outras duas atrizes também são desperdiçadoras. Débora Lamm  desperdiça o seu carisma e não aproveita a missão que tem, de fazer a parte inversa do convencional papel feminino: ela não consegue imprimir força ao seu personagem. Muito boa essa idéia do texto, de afirmar livremente as diferenças e preferências sexuais. Talvez, com o decorrer das apresentações, Lamm ainda consiga se encontrar. Érica Migon, essa Simone Signoret desperdiçada, ainda não sabe a que veio.      
     Agora passemos aos dois papéis principais. Comecemos por Bruce Gomlensky. Esse excelente ator (nunca o vi fora do tom), não quis desperdiçar a oportunidade de brincar com as suas possibilidades. Seu “monstro” é terrível, nojento, mau – às vezes até excessivamente. Talvez Mr. Hyde domine Dr. Jekyll muito rapidamente. Talvez seja essa a visão de Osterman. Na estranha história de Stevenson o bom médico luta desesperadamente para respeitar a apetitosa prostituta (na peça, interpretada por Michel Blois, e seu nome é sintomático: Lily Gay). Mr. Hyde, o outro eu de Jekyll, como sabemos, abre as porteiras e a tudo desrespeita. Um ator não poderia querer melhor desafio.
     Não sei se o espetáculo se dilui em cenas excessivas, o fato é que os dois personagens atribuídos a Gomlevsky não chegam a dominar o público. Michel Blois, por sua vez, está “patético”, ou seja, está ótimo. Penso que "patético" seja um bom adjetivo para definir a personagem de Lily Gay.
Cenografia e Objetos de Bia Junqueira. A lIuminação de Luiz Paulo Nenem é uma parceira constante para os “climas” exigidos. Figurinos (excelentes) de Antonio Guedes; Direção Musical de Marcelo Alonso Neves. Música original de Marcelo e Cesar Augusto. Intérprete da Canção Lily Gay: Marya Bravo. Coreografia e Direção de Movimento: Raquel Karro. Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti.        

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