CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Tudo já foi dito
sobre o amor. No caso de “Porcos com Asas” resta apenas a visão particular do
artista, e a descoberta de sua maneira de se expressar. O sexo na adolescência.
Esse assunto já foi muito explorado, desde as tragédias de Shakespeare até os
sonhos/pesadelos de Wedekind, para citar os mais conhecidos. Esse é o período de nossas vidas no qual as tensões são
exaltadas, e as paixões também. Entretanto, e curiosamente, o encontro entre os
jovens Antonia e Rocco, o casal de protagonistas, se limita a um sorver contínuo,
e nem sempre prazeroso.
Há agitação transbordante, quase histérica, típica
da adolescência, porém, e talvez propositadamente, esse sorver se quer finito. Há
uma sensação de perda, que vai sendo transmitida, e muito bem, por Andressa
Lameu, dando vida a Antonia. A sofreguidão de Rocco, sua urgência em captar a
vida, também nos é transmitida com verdade por Rafael Canedo. Podemos dizer até
que há, na peça, um dos mais belos encontros sexuais realizados no teatro,
quando o casal se encaixa em um balé à distância, desenhando com os corpos nus os
movimentos do gozo.
Entretanto, a narrativa é muito cotidiana. A
mãe (Patrícia Ramalho) capta bem o encanto que a mulher madura tem pelos
garotos, ao se encantar com o namorado da filha, porém o diretor não explora
mais este desvio materno... não há sutileza, na criação desse personagem tão rico.
A atriz é excelente, o problema é a concepção de sua personagem. Se pudesse se
acalmar, talvez essa mamãe tão frustrada rendesse mais do que alguns momentos
descomprometidos de comédia. É isso, afinal, o que se propõe “Porcos com Asas”,
“alguns momentos descomprometidos de comédia?” Se for, está perfeito assim como
é. Porém seu alcance poderia ser bem maior. Escrita por Mario Sergio Medeiros e
dirigida por Claudio Handrey, essa história do encontro amoroso na adolescência
nos conduz à constatação de que somos “seres desejantes”, e, como tal, estaremos sempre a um passo de
novas descobertas e de novas frustrações.
Bom seria se pudéssemos
identificar, na peça, as personalidades que estão em esboço, o que eles serão
no futuro, sem nos preocuparmos tanto com movimentos corporais e agitação cênica.
Foi uma escolha do diretor, e como tal deve ser respeitada, mas um pouco de
calma faria bem aos meninos incompletos. Talvez, pelo fato de as situações se
diluírem, ninguém do grupo de jovens parece sair fortemente atingido da
experiência. Há Roberto, o adolescente mal-amado, em constante avaliação de
suas possibilidades, o que nos pareceu (seria mesmo?), o esboço de um futuro
homem que acaba sublimando o amor (muito bem interpretado por Iuri Kruschewsky);
ou o professor Marcelo, à frente de sua época (aliás, que época é essa,
afinal?), que entendeu o amor como um lugar muito além da questão de gênero,
interpretado por Carlos Veranai. Há os amigos, Laura (Gabriella Cavalcanti), Ana
Lisa (Julianne Trevisol) e Gianne (Manoel Madeira), este último compondo um
líder estudantil um tanto caricato. Enfim, os quatro amigos não conseguem desenvolver
uma personalidade própria. Talvez falte firmeza na dramaturgia? Os assuntos não
têm continuidade. Talvez ela seja feita, mesmo, para adolescentes... A delicadeza
com que os episódios são tratados teve boa repercussão em Angra dos Reis, onde
ele foi premiado como o melhor espetáculo do Fita 2012.
Na presente
montagem, os impasses da política estudantil ficam amortecidos pelos
relacionamentos afetivos. E, se a época foi mesmo o passado estudantil, os anos
60, ou mesmo os anos 70, não houve opção por uma representação mais contundente
dos episódios daqueles anos de fúria. Na Europa essa história foi narrada com o
pano de fundo de 1968. Na ficha técnica temos a comentar o jogo do cenário móvel
adaptado ao teatro de arena, com mobilidade facilitada pela cenografia de Zanini
de Zanine, interagindo com a iluminação de Leysa Vidal. Os figurinos da mãe são
inteiramente teatrais, os do elenco em geral situam uma época que pode ser a atual.
De Felipe Ferraz. Trilha sonora de Claudio Hardrey. Produção Executiva Claudio
Veranai; Assistente de Produção Thereza Moreira; Assessoria de Imprensa Fábio
Amaral – Minas de Idéias.
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