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terça-feira, 9 de julho de 2013

"OS SAPOS"

"Os Sapos", de Renata Mizrhai. Em cena: Cláudio (Peter Boos) e Fabiana (Paula Sandroni). (Foto de Clara Linhart)



CRÍTICA TEATRAL

IDA VICENZIA FLORES

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)

(Especial)


(Rio de Janeiro, 20 de junho de 2013) - Marcante estréia teatral de "Os Sapos", de Renata Mizrhai, no Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim (Jardim Botânico). Vemos, agora, o resultado seguro da inspiração desta autora. O tempo de pulsação artística da peça é vigoroso, e os personagens que Renata constroi nos faz pensar a respeito do ficcional como transformação do real. É bem verdade que alguns dramaturgos tiveram essa experiência através do inconsciente, e de forma radical. Vamos tentar analisar o processo de criação de Mizrhai.

     "Os Sapos" têm início de maneira singela: o encontro de amigos. Gotas de ciúme são sugeridas, alegria e tranqüilidade. Então é isso? Vamos ver, mais uma vez, como as pessoas desenvolvem, civilizadamente, um relacionamento cotidiano? Sempre que tal encaminhamento acontece, desperta em certos espectadores um certo clima Lars Von Trier (ou o riso  da comédia ligeira, em outros mais otimistas). Entretanto, algo de terrível se prepara, e vai muito além das alegrias do encontro. 

     Acontece que a autora tem pontos de vista bem resolvidos sobre as questões amorosas (se isso é possível), e se concentra sobre eles. Antes do estranho encontro a que vamos assistir, Mizrhai nos prepara para um cotidiano mágico, em que a natureza invade a cena... com os efeitos de luz, muito acertados, de Renato Machado, e a sonoplastia de Marcelo Alonso Neves (além da música vigorosa do final). Trata-se de um ambiente onde o coaxar dos sapos angustia...

     E essa angustia é pretexto para grandes interpretações. Tudo muito natural, sem pretensões de grandes estrelas. Os personagens e seus atores se comportam como pessoas reais, habitantes do planeta terra. É aí que Mizrhai concentra a força de sua dramaturga, na realidade: e é através dessa força que vemos os atores atingirem momentos de interpretação insuspeitados. Como é o caso de Paula Sandroni (Fabiana), uma atriz que se reconhece pela contenção, entregar-se ao que dela se exige, sem limites. É bom ver as diretoras Priscila Vidka e Renata Mizrhai tirarem o melhor de seus atores. A entrega paulatina de Sandroni marca o caminho do espetáculo. As angústias vão sendo desnudadas, chegando ao limite da obsessão.

     Na história da dramaturgia, o olhar sobre a mulher parte do olhar masculino. Sempre, ou  quase sempre. Agora estamos vendo esse olhar amoroso se projetar através do desprezo, da impaciência, e até mesmo da irritação dessas mulheres que convivem, sem limites, com seus homens. Aliás, a frase preferida de Luciana (interpretada por Gisela de Castro) é, sintomaticamente: "tudo tem  um limite".  Entretanto, o que vemos acontecer - e que se transforma perante o olhar do espectador - é o caminho desses laços invisíveis, profundos, que prendem as pessoas. E é chegado o momento de deixar o público se surpreender... Podemos dizer que vale a pena assistir a "Os Sapos"!

     Em matéria de interpretação, podemos afirmar que Peter Boos (Cláudio) enfrenta uma perfeita metamorfose entre o músico (medíocre?) que representa, e o despontar da tensão profunda, e alucinada, do personagem. E que Paula (Verônica Reis) caminha na beira de um abismo que ela mesma criou, personagem que, pela coragem e Inteligência, se fosse do mundo real desejaríamos dizer-lhe: Boa Sorte! Marcelo (Ricardo Gonçalves) é o representante dos subterfúgios e imprecisões dos homens, na vida real. O ator "capta", com muita precisão, o comportamento do homem comum. Em "Os Sapos" tudo é muito verdadeiro: trata-se de uma viagem a nossa "realidade" cotidiana. Os personagens querem mudar o rumo de suas vidas, mas...  


FICHA TÉCNICA:

Texto e Idealização: Renata Mizrhai; 
Direção Priscila Vidca e Renata Mizrhai; 
Cenário: Lorena Lima e Nello Marrese; Figurinos: Bruno Perlatto. Uma observação: não entendemos direito o jogo dos figurinos de Bruno, para as mulheres. É para situar um estado de espírito? Fabiana anda o tempo todo de "trench coat", talvez para transmitir o seu interior feito de nuvens. (Mas já estamos poetizando). Luciana parece uma hippie (os anos 70 estão na moda, atualmente). Em geral, os figurinos para as mulheres de Bruno trazem a moda atual (essa infernal obrigação das mulheres), e os homens estão corretos, em suas roupas do dia a dia; 
Iluminação: Renato Machado; Direção Musical e sonoplastia: Marcelo Alonso Neves.






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