"Os Sapos", de Renata Mizrhai. Em cena: Cláudio (Peter Boos) e Fabiana (Paula Sandroni). (Foto de Clara Linhart) |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
(Rio de Janeiro, 20 de junho de
2013) - Marcante estréia teatral de "Os Sapos", de Renata Mizrhai, no
Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim (Jardim Botânico). Vemos, agora, o
resultado seguro da inspiração desta autora. O tempo de pulsação artística da
peça é vigoroso, e os personagens que Renata constroi nos faz pensar a respeito
do ficcional como transformação do real. É bem verdade que alguns dramaturgos
tiveram essa experiência através do inconsciente, e de forma radical. Vamos tentar
analisar o processo de criação de Mizrhai.
"Os Sapos" têm início de maneira
singela: o encontro de amigos. Gotas de ciúme são sugeridas, alegria e tranqüilidade.
Então é isso? Vamos ver, mais uma vez, como as pessoas desenvolvem, civilizadamente,
um relacionamento cotidiano? Sempre que tal encaminhamento acontece, desperta em
certos espectadores um certo clima Lars Von Trier (ou o riso da comédia ligeira, em outros mais otimistas).
Entretanto, algo de terrível se prepara, e vai muito além das alegrias do
encontro.
Acontece que a autora tem pontos de vista bem
resolvidos sobre as questões amorosas (se isso é possível), e se concentra sobre
eles. Antes do estranho encontro a que vamos assistir, Mizrhai nos prepara para um
cotidiano mágico, em que a natureza invade a cena... com os efeitos de luz, muito
acertados, de Renato Machado, e a sonoplastia de Marcelo Alonso Neves (além da
música vigorosa do final). Trata-se de um ambiente onde o coaxar dos sapos angustia...
E essa angustia é pretexto para grandes
interpretações. Tudo muito natural, sem pretensões de grandes estrelas. Os
personagens e seus atores se comportam como pessoas reais, habitantes do
planeta terra. É aí que Mizrhai concentra a força de sua dramaturga, na
realidade: e é através dessa força que vemos os atores atingirem momentos de
interpretação insuspeitados. Como é o caso de Paula Sandroni (Fabiana), uma
atriz que se reconhece pela contenção, entregar-se ao que dela se exige, sem
limites. É bom ver as diretoras Priscila Vidka e Renata Mizrhai tirarem o melhor
de seus atores. A entrega paulatina de Sandroni marca o caminho do espetáculo. As
angústias vão sendo desnudadas, chegando ao limite da obsessão.
Na história da dramaturgia, o olhar sobre
a mulher parte do olhar masculino. Sempre, ou quase sempre. Agora estamos vendo esse olhar
amoroso se projetar através do desprezo, da impaciência, e até mesmo da irritação
dessas mulheres que convivem, sem limites, com seus homens. Aliás, a frase
preferida de Luciana (interpretada por Gisela de Castro) é, sintomaticamente:
"tudo tem um limite". Entretanto, o que vemos acontecer - e que se
transforma perante o olhar do espectador - é o caminho desses laços invisíveis,
profundos, que prendem as pessoas. E é chegado o momento de deixar o público se
surpreender... Podemos dizer que vale a pena assistir a "Os Sapos"!
Em matéria de interpretação, podemos
afirmar que Peter Boos (Cláudio) enfrenta uma perfeita metamorfose entre o músico
(medíocre?) que representa, e o despontar da tensão profunda, e alucinada, do
personagem. E que Paula (Verônica Reis) caminha na beira de um abismo que ela
mesma criou, personagem que, pela coragem e Inteligência, se fosse do mundo
real desejaríamos dizer-lhe: Boa Sorte! Marcelo (Ricardo Gonçalves) é o
representante dos subterfúgios e imprecisões dos homens, na vida real. O ator
"capta", com muita precisão, o comportamento do homem comum. Em
"Os Sapos" tudo é muito verdadeiro: trata-se de uma viagem a nossa "realidade"
cotidiana. Os personagens querem mudar o rumo de suas vidas, mas...
FICHA TÉCNICA:
Texto e Idealização: Renata
Mizrhai;
Direção Priscila Vidca e Renata Mizrhai;
Cenário: Lorena Lima e Nello Marrese; Figurinos: Bruno Perlatto. Uma observação: não entendemos direito o jogo dos figurinos de Bruno, para as mulheres. É para situar um estado de espírito? Fabiana anda o tempo todo de "trench coat", talvez para transmitir o seu interior feito de nuvens. (Mas já estamos poetizando). Luciana parece uma hippie (os anos 70 estão na moda, atualmente). Em geral, os figurinos para as mulheres de Bruno trazem a moda atual (essa infernal obrigação das mulheres), e os homens estão corretos, em suas roupas do dia a dia;
Iluminação: Renato Machado; Direção Musical e sonoplastia: Marcelo Alonso Neves.
Direção Priscila Vidca e Renata Mizrhai;
Cenário: Lorena Lima e Nello Marrese; Figurinos: Bruno Perlatto. Uma observação: não entendemos direito o jogo dos figurinos de Bruno, para as mulheres. É para situar um estado de espírito? Fabiana anda o tempo todo de "trench coat", talvez para transmitir o seu interior feito de nuvens. (Mas já estamos poetizando). Luciana parece uma hippie (os anos 70 estão na moda, atualmente). Em geral, os figurinos para as mulheres de Bruno trazem a moda atual (essa infernal obrigação das mulheres), e os homens estão corretos, em suas roupas do dia a dia;
Iluminação: Renato Machado; Direção Musical e sonoplastia: Marcelo Alonso Neves.
Nenhum comentário:
Postar um comentário