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domingo, 14 de julho de 2013

"PALHAÇOS"

Dagoberto Feliz (Careca) e Danilo Grangheia (Benvindo), em "Palhaços", de Timochenko Wehbi, direção de Gabriel Carmona (foto de Lenise Pinheiro)



CRÍTICA TEATRAL
 IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

Em cartaz no Teatro Poeirinha, os paulistas de "Palhaços", de Tomichenko Wehbi. Trata-se de  uma bela poesia  sobre vocação artística, interpretada por Danilo Grangheia (Benvindo, o vendedor de sapatos) e Dagoberto Feliz ("Careca", nome artístico de José, o palhaço). Timochenko (Timó - como era chamado pelos amigos), entrou em contato com os palhaços de circo ainda na infância, e nunca mais esqueceu essa experiência que é assistir à brincadeira melancólica e brincalhona desses animadores de platéia. Daí "Palhaços", escrita em 1970, quando o menino já era dramaturgo e professor (da USP), reconhecido e amado por alunos e platéia.
     Pois essa experiência, imperdível, está agora ao alcance do público carioca. Ela está viajando há algum tempo, e vários atores já conviveram com Careca e Benvindo. Na direção de Gabriel Carmona, Grangheia e Feliz se expressam de maneira magnífica. Senão vejamos: desde a entrada chamativa e brincalhona de Careca, tocando sanfona e metralhando: "vai, vai, vai, começar a brincadeira!" com uma impressionante expressão agressiva, a plateia já entra no clima. Brincadeira?! Nunca a melancolia da solidão artística foi tratada com tanta expressão. Esqueçamos Fellini, esqueçamos a nossa experiência com os nossos palhaços, e embarquemos neste momento teatral. Vocês não vão se arrepender.
       Quando Careca percebe que tem um "fã", sua história se modifica. Benvindo, o vendedor de sapatos, na porta do camarim, olha em êxtase para o palhaço, que se olha no espelho.  Difícil dizer qual dos palhaços marca, de maneira mais comovente, a sua verdade: o vendedor com a sua desconfiança e o desejo de "fugir com o circo"; ou Careca, cuja exuberante e "inútil" vocação está sendo julgada. Há troca de papeis, é claro. Há momentos em que Careca quer ser novamente Zé, e há grandes momentos de comédia. Por exemplo, quando Benvindo, arrebatado, se transforma em um mágico e se entrega ao sonho de sua vida. Inacreditável momento, não dá para conter o riso.
     Há, claro, mudanças de clima entre os dois palhaços, mas é impressionante a transformação (involuntária?) dos dois atores, quando saem de seus personagens, ao receber os aplausos. Benvindo se dirige ao público, e há uma mudança radical na expressão de quem julgávamos ter a "máscara da comédia" impressa em seu rosto: eis que surge Grangheia, tudo bem. E depois Dagoberto, com a máscara da comédia em seu rosto, improvisa a mímica, pois vai ter festa na sala ao lado! Quando vocês forem assistir, já não haverá mais essa performance de Careca, da estréia, mas haverá outras festas, com certeza! Não percam a "brincadeira". É bom ver bom teatro.           
       Iluminação (essencial) de Erike Busoni; Cenário (camarim), de Flavio Tolezani; Figurinos - mais apropriados impossível - de Daniel Infantini.

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