Dagoberto Feliz (Careca) e Danilo Grangheia (Benvindo), em "Palhaços", de Timochenko Wehbi, direção de Gabriel Carmona (foto de Lenise Pinheiro) |
CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Em cartaz no Teatro Poeirinha, os
paulistas de "Palhaços", de Tomichenko Wehbi. Trata-se de uma bela poesia sobre vocação artística, interpretada por Danilo
Grangheia (Benvindo, o vendedor de sapatos) e Dagoberto Feliz
("Careca", nome artístico de José, o palhaço). Timochenko (Timó -
como era chamado pelos amigos), entrou em contato com os palhaços de circo
ainda na infância, e nunca mais esqueceu essa experiência que é assistir à
brincadeira melancólica e brincalhona desses animadores de platéia. Daí
"Palhaços", escrita em 1970, quando o menino já era dramaturgo e
professor (da USP), reconhecido e amado por alunos e platéia.
Pois essa experiência, imperdível, está
agora ao alcance do público carioca. Ela está viajando há algum tempo, e vários
atores já conviveram com Careca e Benvindo. Na direção de Gabriel Carmona, Grangheia
e Feliz se expressam de maneira magnífica. Senão vejamos: desde a entrada
chamativa e brincalhona de Careca, tocando sanfona e metralhando: "vai,
vai, vai, começar a brincadeira!" com uma impressionante expressão
agressiva, a plateia já entra no clima. Brincadeira?! Nunca a melancolia da
solidão artística foi tratada com tanta expressão. Esqueçamos Fellini,
esqueçamos a nossa experiência com os nossos palhaços, e embarquemos neste
momento teatral. Vocês não vão se arrepender.
Quando Careca percebe que tem um
"fã", sua história se modifica. Benvindo, o vendedor de sapatos, na
porta do camarim, olha em êxtase para o palhaço, que se olha no espelho. Difícil dizer qual dos palhaços marca, de
maneira mais comovente, a sua verdade: o vendedor com a sua desconfiança e o
desejo de "fugir com o circo"; ou Careca, cuja exuberante e
"inútil" vocação está sendo julgada. Há troca de papeis, é claro. Há
momentos em que Careca quer ser novamente Zé, e há grandes momentos de comédia.
Por exemplo, quando Benvindo, arrebatado, se transforma em um mágico e se
entrega ao sonho de sua vida. Inacreditável momento, não dá para conter o riso.
Há, claro, mudanças de clima entre os dois
palhaços, mas é impressionante a transformação (involuntária?) dos dois atores,
quando saem de seus personagens, ao receber os aplausos. Benvindo se dirige ao
público, e há uma mudança radical na expressão de quem julgávamos ter a "máscara
da comédia" impressa em seu rosto: eis que surge Grangheia, tudo bem. E
depois Dagoberto, com a máscara da comédia em seu rosto, improvisa a mímica,
pois vai ter festa na sala ao lado! Quando vocês forem assistir, já não haverá
mais essa performance de Careca, da estréia, mas haverá outras festas, com
certeza! Não percam a "brincadeira". É bom ver bom teatro.
Iluminação (essencial) de Erike Busoni;
Cenário (camarim), de Flavio Tolezani; Figurinos - mais apropriados impossível
- de Daniel Infantini.
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