Angel Vianna, em "Ana", balé/teatro inspirado em Érico Veríssimo. |
IDA
VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Em
cena, Érico Veríssimo. - ANA TERRA - "ANA - ensaios sobre o tempo e o vento",
um balé/teatro dramatizado e dirigido por Marcelo Aquilo. Sua criação é livre.
O adaptador elaborou licenças poéticas, como tornar vivo o personagem da avó de
Ana, para o público ter a chance de assistir Angel Vianna, em sua interpretação
de teatro e dança. Em cena, essa figura hierática, forte como uma mulher dos
pampas, ou de uma tragédia grega! Sua participação vai além dos gestos.
Temos
Denise Stutz na direção dos movimentos e Jane Duboc nos presenteando com sua
doce música: "Destino", "Missões" "O Amanhã", e
tantas outras. "Ana" nasceu de uma conjugação de afetos: Aquino e Angel,
mestre e pupilo. Sim, o "povo da dança" os conhece bem, porém o
público em geral precisa conhecê-los melhor Aconselho a todos este belo
espetáculo. São coisas que nos pegam de surpresa. Aquino captou a alma da
personagem Ana Terra, criada por Érico Veríssimo. Ela é o desnudamento da nossa
sensibilidade.
Carol
Machado é a Ana teatral. Um impressionante desempenho. Inesquecível a cena da
gravidez de Ana. E Anastácia Murad é Ana menina, cantando com sua voz juvenil e
afinada. O que se vê em cena são gestos, vozes, canto e música. Destaque para a
cenografia de Daniele Geammal, simulando coxilhas. E para a luz de Rubia
Vieira. É quando Ana fica solta ao vento, no plano superior da cena, ou na
"sanga", onde ela vê a sua imagem refletida. Há os vídeos de Renato Livera que
complementam a ação. Belo achado, principalmente quando coloca em cena o corpo
do índio missioneiro.
Temos
a bailarina guerreira que é Ana Vitória. Naquele mundo perdido só havia o
rancho isolado, cavalos que as mulheres não cavalgavam, um roçado ... e a roca!
(onde as mulheres trabalhavam). Os rústicos homens das coxilhas não caíram do
céu, eles são paulistas que vieram pensando enriquecer nos campos de São Pedro,
e não se preocupavam com a solidão das mulheres (mãe e rilha), privadas do
convívio humano... e aí surgiu Pedro, vindo das Missões devastadas pelos
portugueses caçadores de índios. Pedro, o índio musicista que mudou a vida de
Ana.
O
quadro que Aquino pinta é inacreditavelmente belo. Aquelas mulheres e seus
cabelos ao vento: bailarinas/atrizes, como Roseane Milani e Ana Vitoria (expressivas
em suas aproximações, olhando o público e relatando a alma de Ana com a força
do seu olhar). A doce Carolina Aguiar, uma Ana pacificada (mas às vezes em
fúria). Ela é a encarregada da preparação corporal, e também atuam as
bailarinas Renata Costa, Sandra Alencar e Claudia Castelo Branco que colabora nos
arranjos das músicas. Na realidade, há mais gestos expressivos do que dança
livre. Os gestos são o tema.
Os
momentos de ternura e fúria dessa mulher guerreira que é Ana, nas oito versões representadas
pelas oito atrizes/bailarinas, complementam a saga da heroína. E são tantas as
expressões gaúchas, que trazem saudades dos pampas: "sova", "sanga"
e "salamandra" (uma lenda), lutar "de birra" contra o
destino. E a referência ao "quero-quero", o cachorrinho dos pampas! Fica
no ar a frase de Ana Terra: "Sempre alguma coisa importante acontece quando
está ventando." O espetáculo é uma homenagem a todas as mulheres.
Há
gaúchos na produção: o diretor Marcelo Aquino, e o assistente de direção
Cleiton Echeveste. O solo e a terra natal de Érico Veríssimo estão presentes nesta
montagem. Em tempo: a preparação vocal é de Gabriela Geluda e os figurinos inspirados
nos panos e rendas da região, de Ticiana Passos. O visagismo, que tanto
aproxima as bailarinas das imagens gaúchas, é de André Vital. A trilha sonora
original é de Jane Duboc e Felipe Dias. Não percam este espetáculo! Ele é sobre
delicadeza e sofrimento. O contexto, figurinos, cenário (ótimo espaço), iluminação
(e os cabelos ao vento...), encarregam-se do clima. Nem é preciso dizer que as
pessoas apaixonadas pelas artes devem assistir a este espetáculo. E as que não
são também, para entender o significado da poesia.
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