Marcos Breda e Miwa Yanagizawa (os professores), e o arquivo da denúncia, carregado por Luciana Fávero (a aluna "fora de esquadro"), em "Oleanna", direção Gustavo Paso. |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Assistir a "Oleanna", de David Mamet, com direção de Gustavo Paso (tradução Marcos
Daud), é uma experiência desafiadora. O texto de Mamet nos joga em diversas
situações-limite. E são muitas as leituras a se fazer: a falta de comunicação
entre as pessoas, o poder, o politicamente correto. Ao nos referirmos a estes
três "paradigmas", estamos nos socorrendo de leituras anteriores. O fato
é que o problema enfrentado no palco toma outra dimensão, com o encontro entre professora(o)
e aluna.
Há
muitas possibilidades a serem pensadas, sendo a principal delas a virada do
texto, quando a aluna vê recusada a única oportunidade de ser compreendida pela
professora. Esse é o enfrentamento cruel. Ficamos imaginando todas as
possibilidades que a aluna perdeu, inclusive a de relatar um (possível) ataque
sexual sofrido na adolescência, e que marcou sua vida para sempre. A professora não
lhe deu essa chance.
A
ação é tão rápida, que não temos tempo em nos deter em tais divagações, e o
problema vai se adensando no decorrer da peça. O que teria, realmente, provocado
o comportamento "enraivecido", da aluna? Talvez insegurança e recalque.
Ou trata-se, realmente, de um caso político? Não se compreende, no princípio, o
comportamento da aluna, porém ele vai ficando muito claro a partir do diálogo desencontrado
das duas, e das reações de autosuficência da professora. Enfim, é um assunto
complicado. Imaginamos que a professora tenha levado a pior.
Ou
melhor, quando no final a aluna diz "está bem", a música que "estala" surpreende a nossos
ouvidos e vem a frase: "I love the way you brake my heart". Já não
compreendemos mais o que está acontecendo. A leitura do diretor, e a música que
finaliza o espetáculo revelam a fantasia da aluna em relação à sua professora,
transferindo para ela os problemas sexuais de sua adolescência? É algo a ser pensado.
As
protagonistas não poderiam ser mais adequadas. O desempenho das atrizes nos
traz o melhor do teatro: a credibilidade. Miwa Yanagizawa encarna a professora
que introjetou de tal maneira o poder, não percebendo mais a sua atuação
negativa. Luciana Fávero vai da aluna dependente à troca de papéis, tornando-se
intransigente em sua segunda visita ao escritório da professora. Seu desempenho
vai em um crescendo, com absoluta segurança.
A
propósito: o novo espaço em semi-arena é muito bom. O cenário (Gustavo Paso e
Teca Fichinski) estabelece o contato entre palco e bastidores através de
cortinas, utilizadas ora como interior do escritório, ora como e a saída dele. O
efeito é muito bom, e vem acompanhado pela luz rosa e azul de Paulo Cesar Medeiros. Um achado. A trilha
sonora (baseada em clássicos) é de Andre Poyart. Ela está dentro do que
classificamos como "o estilo Mamet". O figurino masculino/masculino é
de Jô Resende Muito bom. Assistente de direção: Mônica Vilela. Assessoria de Imprensa:
Alessandra Costa.
Assisti
também ao "exercício" feito pelo diretor com os dois professores em
cena, sendo Marcos Breda o outro professor. Foi um jogo ainda mais movimentado
e sugestivo, sendo a agressão masculina muito mais selvagem, dando um
verdadeiro choque na platéia. Miwa prepara-se de maneira sutil para o encontro final, mas os dois apresentam excelentes desempenhos. É bom ver bom teatro!
Sim, muito bom mesmo!
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