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segunda-feira, 21 de abril de 2014

"OLEANNA"

Marcos Breda e Miwa Yanagizawa (os professores), e o arquivo da denúncia, carregado por Luciana Fávero (a aluna "fora de esquadro"), em "Oleanna", direção Gustavo Paso.


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

Assistir a "Oleanna", de David Mamet, com direção de Gustavo Paso (tradução Marcos Daud), é uma experiência desafiadora. O texto de Mamet nos joga em diversas situações-limite. E são muitas as leituras a se fazer: a falta de comunicação entre as pessoas, o poder, o politicamente correto. Ao nos referirmos a estes três "paradigmas", estamos nos socorrendo de leituras anteriores. O fato é que o problema enfrentado no palco toma outra dimensão, com o encontro entre professora(o) e aluna.

Há muitas possibilidades a serem pensadas, sendo a principal delas a virada do texto, quando a aluna vê recusada a única oportunidade de ser compreendida pela professora. Esse é o enfrentamento cruel. Ficamos imaginando todas as possibilidades que a aluna perdeu, inclusive a de relatar um (possível) ataque sexual sofrido na adolescência, e que marcou sua vida para sempre. A professora não lhe deu essa chance.

A ação é tão rápida, que não temos tempo em nos deter em tais divagações, e o problema vai se adensando no decorrer da peça. O que teria, realmente, provocado o comportamento "enraivecido", da aluna? Talvez insegurança e recalque. Ou trata-se, realmente, de um caso político? Não se compreende, no princípio, o comportamento da aluna, porém ele vai ficando muito claro a partir do diálogo desencontrado das duas, e das reações de autosuficência da professora. Enfim, é um assunto complicado. Imaginamos que a professora tenha levado a pior.

Ou melhor, quando no final a aluna diz "está bem",  a música que "estala" surpreende a nossos ouvidos e vem a frase: "I love the way you brake my heart". Já não compreendemos mais o que está acontecendo. A leitura do diretor, e a música que finaliza o espetáculo revelam a fantasia da aluna em relação à sua professora, transferindo para ela os problemas sexuais de sua adolescência? É algo a ser pensado.

As protagonistas não poderiam ser mais adequadas. O desempenho das atrizes nos traz o melhor do teatro: a credibilidade. Miwa Yanagizawa encarna a professora que introjetou de tal maneira o poder, não percebendo mais a sua atuação negativa. Luciana Fávero vai da aluna dependente à troca de papéis, tornando-se intransigente em sua segunda visita ao escritório da professora. Seu desempenho vai em um crescendo, com absoluta segurança.

A propósito: o novo espaço em semi-arena é muito bom. O cenário (Gustavo Paso e Teca Fichinski) estabelece o contato entre palco e bastidores através de cortinas, utilizadas ora como interior do escritório, ora como e a saída dele. O efeito é muito bom, e vem acompanhado pela luz rosa e azul de Paulo Cesar Medeiros. Um achado. A trilha sonora (baseada em clássicos) é de Andre Poyart. Ela está dentro do que classificamos como "o estilo Mamet". O figurino masculino/masculino é de Jô Resende Muito bom. Assistente de direção: Mônica Vilela. Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa.

Assisti também ao "exercício" feito pelo diretor com os dois professores em cena, sendo Marcos Breda o outro professor. Foi um jogo ainda mais movimentado e sugestivo, sendo a agressão masculina muito mais selvagem, dando um verdadeiro choque na platéia. Miwa prepara-se de maneira sutil para o encontro final, mas os dois apresentam excelentes desempenhos. É bom ver bom teatro!


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