Elenco de "El Pânico", de Rafael Spregelburd, direção Ivan Sugahara. (Foto Felipe Pilotto) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
"El Pânico" está em cartaz no Espaço
SESC Copacabana, Rio de Janeiro, até o
dia 29 de novembro. Fomos assistir a esta divertida comedia "de
horror" escrita pelo argentino Rafael Spregelburd - em boa hora traduzida
para o "portunhol" por Diego de Angeli - dirigida por Ivan Sugahara!
Este surpreendente diretor continua a sua experiência com a linguagem, começada
com "Beija-me como nos livros", onde os atores falavam uma espécie de
"esperanto", com todas as misturas de luso-inglês-alemão que lhe
corresponde.
Agora, neste "El Pânico", além
de seus atores falarem "o espanhol do Sul do Brasil" (na fronteira
entre Uruguai e Argentina fala-se justamente o portunhol!), a força transformadora
que os cerca torna os atores irreconhecíveis. Debora Lamm é um exemplo, revelando-se
uma atriz solta e "maluca", em sua comicidade, inaugurando um novo
estilo de representação, com a sua bailarina "linguagem Pina Bausch".
Aliás, a cena com a coreógrafa Elyse, interpretada por Suzana Nascimento, foi a primeira grande gargalhada
geral. Lamm, em outras personagens que interpreta, como a "Terapeuta",
mostra que está se libertando de sua "marcante"
personalidade de atriz, para se tornar uma comediante de primeiro time.
E Lamm não é o único caso. Paulo Verlings
está irreconhecível (e muito engraçado) em seu Guido Sosa, o filho inseguro. Kelzy
Ecard, a mãe, desfalece de singularidade em sua atuação extrovertida. A vidente Susana Lastri, também interpretada por Suzana Nascimento; ou Marcio Machado, o personagem "flou", o Emilio, são
exemplos de comedia macabra. O
espetáculo nos delicia com ações inesperadas, forças do além, atos
irracionais... como os da vidente, e o ritmo enlouquecido que desencadeia. O misterioso
palco de "luz e sombra" conta,
através de mímica e sons, o que se passa em outro plano da ação. O cenário é muito
bom, marcando o encontro entre o real e
o imaginário, onde tudo pode acontecer. Destaque para a reprodução do homem
assassinado, seu vulto desenhado no chão, e a reprodução do mesmo no gesto no fantasma,
dando a dica de que "ele" não pertence mais ao mundo dos vivos...
"El Pânico" é um banquete
completo para quem aprecia uma boa comedia. E tem um tempero extra, que é a
criatividade do ator. A ação se passa em torno da procura da chave de um cofre onde o morto deixou a sua fortuna. Nessa historia central tomam carona "problemas
imobiliários", intervenções da polícia, e tudo o mais que traz a ação para
os nossos dias... embora os figurinos sejam dos anos 80 - para o diretor, anos
tétricos!
No elenco, além dos já citados, temos
Julia Marini, interpretando Rosa Lozano, Marcia e Úrsula. E Thais Vaz (Dudi e
Melina Trelles) e Pâmela Côto interpretando Regina e Betiana Garcia. Elisa Pinheiro é Jéssica Sosa (o terceiro membro da família
enlutada). Sobre os mortos, o autor se pronuncia: eles ... " têm terror
desse momento nefasto de lucidez em que entendem que estão mortos".
"El Pânico" estréia no Brasil com sucesso, mas
Spregelburd é mundialmente reconhecido como um fenômeno de autor, ator e diretor.
Nascido nos anos 70, representa um dos mais modernos dramaturgos da arte teatral
argentina. Sugahara já o montou em 2011, dirigindo "A Estupidez", o
primeiro dos 7 pecados capitais "contemporâneos" ao qual o diretor
carioca não resistiu encenar. Os outros seis seriam: Teimosia, Extravagância,
Paranóia, Modestia, Inapetência e "Pânico"! Este último nos é "apresentado", agora, em nossa vida real. Eis o mais recente acontecimento argentino
para as artes cênicas, acrescentado de uma certa filosofia "almodovariana"
do espetáculo. VALE ASSISTIR!
Na ficha técnica temos os figurinos
marcantes de Joana Lima; cenário muitíssimo criativo de André Sanches;
Iluminação (mestre de sombra e luz) Aurelio de Simoni; Trilha sonora, Ivan
Sugahara e Beatriz Bertu (que também é assistente de direção); Direção de
movimento da grande Duda Maia; Preparação vocal, Ricardo Góes. Assistência de
Idioma, Florencia Santángelo; Visagismo, Josef Chasilew. Vozes em off dos
amigos Leonardo Paixão, Isaac Bernat, Gilberto Lamm e Letícia Isnard; Assessoria
de Imprensa: JS Pontes.
Lendo a tua crítica me deu vontade de vir !!!!
ResponderExcluirVenha!
ResponderExcluirSua críticas são pró-teatro e dança! John Martin teve papel preponderante nos Estados Unidos, ao entender que a crítica também pode ter este papel de estimular a ver e, na verdade, ela fica mais aguda e mais importante quando parceira das artes. Quero ir ver!:-)
ResponderExcluirAmei a sua observação. Sim, minhas críticas são parceiras das artes!
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