Ricardo Gonçalves, Natasha Corbelino, Verônica Reis, Fabrício Polido, Clara Santhana, Camilo Pellegrini em "WAR", de Renata Mizhai, direção Diego Molina. (Foto Divulgação) |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
WAR, de Renata Mizhai, direção Diego Molina,
voltou à cena "somente por um dia", como foi o encontro dos casais, na
peça. Só por um dia, a peça. Algo inusitado. A plateia repleta de atores e gente de
teatro. Por momentos foi cogitada a recriação das "2ª feira da classe"
no Teatro Poeira, o que se constatou impossível, segundo os diretores do teatro. A última apresentação da peça foi muito bem recebida pela classe, que compareceu
como se a uma estreia. Comemorava-se os 10 anos da fundação da Companhia
Teatro de Nós, iniciada pelos dois artistas.
WAR surpreende pelas suas qualidades. A autora
Renata Mizhai capta, nesta peça, uma visão de grupo, antigos companheiros que se
encontram, para descobrirem que perderam os parâmetros que estabeleceram para as
suas próprias vidas. O texto traz a tona problemas afetivos e de realização pessoal.
No entanto, é no desenrolar da ação que
se percebe a preparação de um "ninho" envenenado. Ele vai se desenvolvendo aos
poucos, e os frágeis materiais dessa construção vão se desfazendo, também aos poucos.
Renata estrutura essa dramaturgia "do engano" de olhos bem abertos. A
direção de Diego Molina valoriza, passo a passo, a procura da autora.
Por sua vez, os atores desenvolvem a vida
dos personagens, assim, com a naturalidade da própria vida. O casal André (Ricardo Gonçalves)
e Marília (Natasha Corbelino) vivem, em solidão, o desgaste do amor. Fugindo a
um trágico fim, reúnem amigos de longa data para o reconhecimento da nova casa
(e da sua nova vida). Nem sempre o encontro entre amigos é uma festa, mas
também não é uma tragedia. Podemos chamar o que aconteceu de tragicomedia. E somos convidados a participar do jogo (WAR), e da angustia
dos três casais. O interessante, nesta peça, é como são apresentadas as
possibilidades de erro e acerto neste jogo de subterfúgios. E Mizhai joga com as
várias possibilidades: é o escritor que um dia sonhou com a solidão, mas não
consegue escrever na solidão (André); é a apaixonada que joga para defender o
seu amor, trazendo a tona as próprias imperfeições (Marília); são seres humanos que
querem compreender a sua própria razão de ser, como Roberta, ou o homem
satisfeito que vai, aos poucos, vendo a sua alegria ser negada (Gustavo). Mas nada é tão
urgente como a descoberta de Sergio e Laura, apontando novos (renovados?) caminhos.
É tudo um jogo. E os atores se deixam levar. Ricardo Gonçalves defende muito bem o seu doce, confuso e intransigente intelectual André;
Natasha Corbelino encontra, em sua voz e sua presença, a liderança que seu
papel impõe. Sua personagem, Marília, é a que aciona o motor da verdade. Verônica
Reis, interpretando Roberta, atinge momentos de pura insatisfação, em contraste
com a mulher resolvida e lúcida que aparentava ser. Fabrício Polido vence a sua
fragilidade interpretando Gustavo, o homem bem sucedido que se recusa a aceitar
a verdade. E qual é a verdade que eles procuram, e se recusam a ver?
É no final que a verdade aparece. É quando
"todos os encontros" se realizam, na cena final de Sérgio e Laura.
Estes dois atores, Camilo Pellegrini e Clara Santhana extraem, com seus personagens,
todas as possibilidades de compreensão e amor sugeridas para um casal. Essa é a
verdade deles, o encontro. O texto não é moralista, e não apresenta "soluções",
somente registra momentos. E o momento de Laura e Sérgio é a renovação
constante dessa guerra sem fronteiras que é o amor.
Na noite única da apresentação no Teatro Poeira, Clara Santhana conseguiu aplausos em cena aberta com sua interpretação de um trecho
de "Summertime". Cantado por Laura, assim, ao acaso... como se um cartão
de visitas para seus novos amigos. Uma cantora de primeira linha. Na verdade, a historia do canto "das duas" é mais longo, pois Roberta (Verônica Reis) também canta. Na verdade, o motivo do canto da duas era outro...
Foi uma noite inesquecível, "regada a
muita cerveja e vinho", no apartamento de André e Marilia, onde os seis
amigos "marcaram os seus territórios", como em um bom jogo de WAR. Na
noite da despedida da peça, o diretor Diego Molina pronunciou palavras de
emoção. E o que podemos dizer é que o teatro carioca saiu mais enriquecido com este jogo de atores, diretor e autora.
Na cenografia, o ótimo recurso da quase
destruição do cenário "onde os frágeis materiais dessa construção vão se desfazendo".
Cenário de Diego Molina e Lorena Lima. Os figurinos, corretos, são de Patricia
Muniz; Iluminação de Anderson Ratto. Trilha sonora de Renata Mizhai. Visagismo
Diego Nardes. Direção de Produção, Maria Alice Silverio.
TALVEZ
"WAR" VOLTE NOVAMENTE, UM DIA? ESSA GUERRA NÃO ACABA NUNCA.
Ah, como eu gostaria de ter visto!
ResponderExcluirTalvez retorne...
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