IDA
VICENZIA
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Todo carioca (e não carioca) que se preze,
deve assistir "Rio, Historias Além do Mar", em cartaz no Centro
Cultural Justiça Federal (CCJF), da Av. Rio Branco, em cartaz até o dia 20 de dezembro. Que
Rio de Janeiro mais lindo e mais poético! Mas estou metida em "camisa de
onze varas", pois esse espetáculo musical tem como narrador o 'Crioulo
Doido', do Stanislaw Ponte Preta, o nosso conhecido jornalista Sergio Porto. Acontece
que o crioulo é um branco pintado de negro! Não se pode dizer que a produção
não tentou remediar a situação, pintando o crioulo com "talco Johnson",
para ele ficar branquinho (veja fotos). Não deu certo, claro, não tinha nada a
ver. Mas o excelente ator Gustavo Arthiddoro (viram o nome? "arthi" e
"ddoro") tão talentoso, passou por cima de todos os problemas, pois
talento é talento, e ficou negro, pois é de ouro, mesmo, a sua arte.
Pois bem, a brincadeira com a cor vem bem,
cabe! - e, por favor, não interpretem mal o pessoal do espetáculo, pois ele é
divino! Quem organiza (e cria), é o 'Grupo Historia Através da Música'. É tão
bom assisti-los, que a gente não quer que acabe nunca mais. Tudo dirigido por Claudio Mendes. O espetáculo tem início com
a "fofa" da Nara Leão cantando "Fale de mim quem quiser
falar", lembrando o show "Opinião" e as "remoções", e também comemorando (com certeza) a resistência
dos moradores do morro da Favela, local historico da chegada dos "da baixa
patente do Exército" (segundo o Crioulo Doido), os soldados "desrecrutados"
da guerra de Canudos, quase todos negros que ficaram ao Deus dará. E Nara canta:
"daqui eu não saio não..."
A
Historia fala também nos criadores do morro do Querosene, e dos famosos morros
de Portela e Salgueiro, e principalmente, o do Livramento (o morro de Machado
de Assis, pois não?), um dos locais onde tudo começou. E como "Historias..."
é uma comemoração do Rio de Janeiro do
samba - e outras bossas - a favela está sempre
presente. Aliás, é nesse cenário que o espetáculo se desenvolve, e a cenografia,
de primeira, é do artista Vladimir Valente. Não falta detalhe algum, e nos
sentimos no meio daquela "bagunça organizada" que é (era?) o aconchego
da favela. No palco, bem no centro de tudo, os músicos André Mendes, no violão
de 7 cordas e nos arranjos. André canta, interpretando ou puxando a maioria das
músicas Ele possui uma voz suave e ritmada, e muita musicalidade. Um assombro. Romney
Lima (o filho da D. Joana, que acompanha vivamente o espetáculo!), acompanha
as músicas em seu cavaquinho (e voz). Romney também faz parte da pesquisa histórica,
com Gilberto Vieira, professor de Historia da UFRJ, que também toca (e muito
bem) o seu violão de 7 cordas, a flauta, e faz, às vezes, o acompanhamento de voz. Os arranjos também são dele, com André Mendes e
Denis Lopes, que também toca o bandolim.
E há Pedro Castro, acompanha Valdir Ribeiro,
na percussão. É um grupo de excelentes músicos, coroados pela presença de "Seu"
Valdir, com seu cabelo rastafari e seu passo de bamba. Ele dá um discreto show
como passista, acompanhado, é claro, pelo Crioulo Doido Arthiddoro. Um show à
parte. Gustavo Anthiddoro também é um excelente frasista, e contador de "causos".
Destaque merecido para este ator.
A narrativa de historias de "além do mar"
mistura Maria Leopoldina com Madame Satã... e também nos traz de volta a alma do
Rio Antigo. Não esquecer que o
espetáculo registra a infeliz derrubada do Morro do Castelo, na qual foi junto "o marco da fundação da cidade", o Colégio dos Jesuítas. Neste sentido - mas só
neste sentido- São Paulo ganhou de nós. Mas, em contrapartida, temos a saudação
de Manuel Bandeira ao Sinhô, o Rei do Samba... e a comemoração dos 100 anos de
nascimento (18 de outubro de 1915), de Grande Otelo! E... para se alegrar é só
cantar, com os sambistas: "nasci com a sina da cigarra, aonde eu chegar
tem farra".
É essa mistura do "sagrado e do
profano", cantada por Fernanda Abreu. E muitos outros cantores, e
compositores, são cantados! Raul Seixas, João Bosco, Paulo Cesar Pinheiro: "Nomes
de favelas", um ponto alto do espetáculo. Noel Rosa... e muitos outros poetas /sambistas
do Rio. Clementina de Jesus! Candeia... Mas vamos parar por aí. O roteiro do
espetáculo e a direção geral está nas mãos de Claudio Mendes. A seleção das músicas (e dos compositores) também é de primeira. Temos "Yaô", de Pixinguinha e Gastão Vianna; "Favela", de Padeirinho e Jorge Peçanha; "Praça Onze", de Herivelto Martins e Grande Otelo; "A voz do morro", de Geraldo Pereira e Moreira da Silva, e por aí vai! Insisto, os
cariocas, e até os não cariocas (principalmente!) não devem perder essas Historias... Passamos a entender o gostinho de ser carioca vendo o Rio de Janeiro, de verdade. Trata-se
- e é essa a intenção - de uma verdadeira aula sobre o samba e seus bambas!
Na iluminação, Robson Cruz. Audiovisual,
Flavio Cysne. Consultoria Acadêmica: Professora Marieta de Moraes Ferreira. Produção
Executiva: André Dinis; Assessoria de Imprensa: Mais e Melhores Produções Artísticas.
Não percam! EVOÉ!
Analise crítica precisa dentro de uma visão resumida do que é o Histórias...
ResponderExcluirParabéns Ida pelas pontuais observações. Recomendo esse espetáculo também para os cariocas e "não" cariocas, uma outra visão verdadeira e resumida do meu Rio de Janeiro.