O Final... de "Uma Ilíada" - dirigida e interpretada por Bruce Gomlevsky, uma adaptação de Homero traduzida por Geraldo Carneiro. (Foto Dalton Valerio). |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"Uma Ilíada", da obra de Homero, poeta grego que nos deixou seus escritos sobre Troia, e a legendária
disputa pelo amor de uma mulher. Dizendo assim até parece poético, mas
foi uma carnificina a tal disputa, aliás, como o são todas as guerras. A esse
propósito, Bruce Gomlevsky nos traz uma impressionante interpretação, dirigindo
a cena, e, ao mesmo tempo, sendo o narrador dessa epopéia greco-troiana. Bruce nos revela, através do seu "aedo" (o narrador de historias da antiguidade grega), a tradição daqueles povos. Homero as recolheu,
e a sua narrativa se tornou o primeiro e mais importante relato da antiguidade
ocidental.
Como todos nós sabemos, a Ilíada relata os
últimos dias da guerra de Troia, assim chamada por ter-se dado às portas
daquela cidade, às margens anatólicas do Mar Egeu. Imaginem vocês Páris, o
príncipe de Troia, ter ido mexer com a honra de um rei espartano! Ele foi a Esparta em missão diplomática de seu país, e aí conheceu Helena e ficou apaixonado. Menelau,
o marido da bela a quem Páris também encantara, era rei da belicosa Esparta. A
guerra se alastrou, cheia de altos e baixos, e pegou fogo nos últimos dias, tendo como fim o
"presente de grego" - o cavalo de madeira que entrou na bela cidade
de Troia e acabou com seus encantos, e com seu povo.
Ao se tornar um "aedo", Bruce nos faz
"ver" a bela Troia, com seus
jardins e suas fontes, suas alcovas e seus "megarons". Também a descrição do escudo de Aquiles é feita com terrível propriedade. E, entremeando a sua ação com cânticos que parecem litanias ("adoro cantar", diz o ator para seu público), a historia é narrada "olhos nos
olhos" com a plateia, o contador de historias comentando a cena, e fazendo o público refletir.
Pois estamos em Troia, e os guerreiros, que
se tornaram mitos de nossa cultura, como Aquiles, Heitor, Ulisses ... (este último herói não é nomeado nesta versão de Homero, mas é citado agora, pois a ideia da
construção do 'cavalo de madeira' que arrasou com os troianos é dele). Dizem que Ulisses é "astuto". Essa é uma palavra assustadora.
E fica a pergunta: por
que os gregos eram assim? Não se trata da "comum pergunta de espanto"
em relação a este povo tão brilhante, mas o porquê de serem eles tão
"arrebatados"? As suas epopeias e oráculos, seus deuses... até hoje empolgam os
artistas de todas as latitudes e de todos os tempos. Querem algo mais completo
do que uma historia grega? Mas sua reprodução, entre nós, nem sempre é bem sucedida. Há que ser "heleno" para montar as suas tragedias. E ainda por cima com os deuses do Olimpo participando, tomando partido... como aconteceu na guerra de Troia, com Afrodite, Apolo e Artemis apoiando os troianos, e Poseidon, Hera e Atena, as duas deusas
"vingativas" que queriam a "maçã de ouro" que ficou com Afrodite (mas aí já é outra historia...) o nosso contador de historias contou a sua, ou seja, a
"conseqüência" da disputa entre as deusas: a guerra de Troia! Ele cita, sim, mas en passant, a disputa das deusas.
No program há umas palavras de Bruce relatando o que o levou a contar essa historia. Além de
fascinante, ela lhe proporcionou o encontro com: "uma versão condensada de Ilíada de Homero,
escrita de forma tão acessível e comunicativa para as plateias
contemporâneas". Um achado. E também, no dizer de Bruce, o poeta Geraldo Carneiro fez uma tradução "histórica" do episodio. Por isso são muitas, as razões para o público se
fazer presente. Há um impacto nas litanias cantadas na voz possante de Gomlevisky (um dos momentos impressionantes do espetáculo), e há todo o envolvimento da narrativa... até chegar ao seu final esperado (e jogado em cena de maneira inesperada). O espetáculo deve ser assistido também pelos não pacifistas, que devem se curvar e compreender, através de um olhar humanizado, essa barbárie. NÃO DÁ PARA PERDER "UMA ILÍADA"! Na ficha técnica temos, além dos já citados - o texto original (e condensado) de Lisa Peterson e Denis O'Hare. O poeta e tradutor Geraldo Carneiro afirma, no programa, que a tradução para o inglês que mais o emocionou foi a de Robert Fagles, na qual ele também se inspirou para fazer a sua. Vamos ouvi-lo: "Foi uma alegria acompanhar a sonoridade do grego, com suas aliterações e assonâncias", imaginamos, com estas palavras de Geraldo Carneiro, que Fagles tenha colocado o original grego ao lado de sua tradução para o inglês, ou então que o poeta carioca domine o grego. O fato é que houve um confronto com as duas traduções. É por essa familiaridade com o grego, que Geraldo comenta "sou um apaixonado pela Ilíada, desde que
me desentendo por gente".
Alana Alberg, em contra-baixo acústico, faz o contraponto musical com o texto, demonstrando ser a sua participação essencial para o espetáculo. A direção de movimento é de Daniella Visco; Iluminação de Elisa Tandeta (a luz também complementa a interpretação de Bruce); figurino (inspirado) de Carol Lobato. Cenário de Bruce
Gomlevsky. Aliás, o mais simples possível, mas atinge o seu objetivo. Várias
"velas-lamparinas" fazem um circulo, criando espaços e luzes que não concorrem com os cerrados "spots" de Tandeta. A trilha sonora original é de Mauro Berman e o efeito
especial de Derô Martin; Arte e Identidade Visual de Mauricio Grecco; Projeto
Gráfico de Thiago Ristow e Assessoria de Imprensa de João Pontes e Stella
Stephany.
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