"As Mil e Uma Noites", direção Leandro Romano. Em cena Pedro Henrique Müller e Clarisse Zarvos. Ao fundo máscara de um pássaro ilustrando os contos. (Foto Renato Mangolin)
Cena de "As Mil e Uma Noites". Ator Pedro Henrique Müller rodeado por personagens cachorros-lobo. (Foto Renato Mangolin) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro – AICT)
(Especial)
Eis uma maneira bastante original de
encenar a série de deliciosas historias que povoam “As Mil e Uma Noites”, contadas
por Sheerazade para seu marido, o rei da Pérsia, Shariar. O relato destas mil e uma histórias está presente no Oi, Futuro, através
do Cia. Teatro Voador Não Identificado, nesta temporada de 2018. Eles ficarão
em cartaz até setembro. Sheerazade contará 33 historias de sua saga,
completando os dias em que estarão em cartaz, sendo contada uma historia a cada
noite, até início de setembro. Os imigrantes orientais que por aqui aportaram,
vindos da Síria, Egito, Líbano e Marrocos, também estão relatando, em vídeo, no
Café Baroni (8º andar de Oi, Futuro), as suas aventuras e desventuras, as mesmas histórias que serão
relatadas em cena, no intervalo das narrativas, pelos atores da Cia.
Recurso muito engenhoso, por sinal. Ficamos em suspenso com a interrupção da narrativa, como ficava o rei Shariar quando Sheerazade suspendia a sua historia, deixando-a para ser contada no dia seguinte (ou, no
caso da Cia, somente no próximo espetáculo!). O público voltará, no dia seguinte, para continuar ouvindo as histórias de Sheerazade? Atenção, vocês têm somente até dia 9/9 para assistir a todas as historias! Vale conferir.
No dia em que estivemos presente (na
estreia do espetáculo) foram narrados “O Mercador e o Gênio” e se deu início ao
conto “O Primeiro xeique” e sua gazela.
(Aliás, diga-se, de passagem, a Cia. em questão conseguiu objetos de
cena - máscaras principalmente – que são a delícia do público, como a da gazela,
a dos cachorros-lobo e a do passarinho), encomendadas pela internet...
Figurinos (contemporâneos) e Iluminação: Gaia Catta e Lia Maia. A cenografia (muito acertada, com praticáveis que acolhem o ruído dos
demônios), é de Elsa Romero. Os atores se revezam nos papéis, sendo o elenco
formado por Adassa Martins (no dia em que assisti Sheerazade, com muita
proficiência, por sinal). Os outros atores: Bernardo Marinho, Clarisse Zarvos, Elsa
Romero, Gabriel Vaz (que também elabora, com Felipe Ventura, a trilha sonora
que nos leva a sonhar com o distante Oriente), João Rodrigo Ostrower, Julia
Bernat, Larissa Siqueira, Pedro Henrique Müller e Romulo Galvão.
A Cia é composta por sete artistas que se
revezam em diferentes funções, os demais são convidados. Eis os sete: Elsa
Romero, Gaia Catta, Isadora Petrauskas, Julia Bernat, Leandro Romano, Lia Maia
e Luiz Antonio Ribeiro. Como os contos duram muitos dias, dá vontade de voltar para assistir a todas as
historias... O diretor Leandro Romano soube aproveitar o potencial de sua Cia e
a colocou fazendo desde os ruídos de cena (com presença dos atores nas laterais
do palco), até o revezamento nos papéis. Quem o assiste não sabe nunca qual
será a próxima Sheerazade em cena...
A tradução e consultoria de cultura árabe
é de Hadi Bakkour e a consultoria teórica de Mamede Mustafá Jarouche. Como
podemos verificar, o trabalho foi cercado do maior cuidado, o que dá garantia
de seriedade ao mesmo.
Um pouco de sua historia: O Teatro Voador...
está em cartaz desde 2011, tendo produzido seis espetáculos até chegar a este Oriente
de execução ‘original’ (este é o melhor termo para defini-lo). A Cia chegou ao
requinte de entrevistar imigrantes do Oriente Médio para fazer um vídeo, que é
apresentado no café Baroni (como já dissemos) antes de cada espetáculo. Os depoimentos dos imigrantes também
são executados, no palco e ao vivo, pelos atores, nos intervalos das narrativas
de Sheerazade.
São
relatos de literatura oral, contos. (O Oriente, antes de sua decadência era
recheado de contadores de historias...). Talvez a direção não tenha colocado
a irmã de Sheerazade, Duniazide, para simplificar a cena. Portanto, Sheerazade conta suas
historias dirigindo-se aos protagonistas, (com voz inaudível para a plateia), ela
se refere a historias que eles devem contar ao público, como o fazia com Duniazide,
para interessar Shariar. Trata-se de um espetáculo curioso (ao menos o fragmento a que
assistimos), interessante. Sentimos dizer, mas foi um dos poucos, no atual
panorama teatral carioca, que atraiu a presença desta crítica! (Há vários
outros, é claro, como era de se esperar!). "As Mil e Uma Noites" estará em cartaz até o dia 9 de setembro. Bom espetáculo!
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