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domingo, 8 de julho de 2018

"AS MIL E UMA NOITES"





"As Mil e Uma Noites", direção Leandro Romano. Em cena  Pedro Henrique Müller e Clarisse Zarvos. Ao fundo máscara de um pássaro ilustrando os contos. (Foto Renato Mangolin)


Cena de "As Mil e Uma Noites". Ator Pedro Henrique Müller rodeado por personagens cachorros-lobo.
(Foto Renato Mangolin)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
    Eis uma maneira bastante original de encenar a série de deliciosas historias que povoam “As Mil e Uma Noites”, contadas por Sheerazade para seu marido, o rei da Pérsia, Shariar.  O relato destas mil e uma  histórias está presente no Oi, Futuro, através do Cia. Teatro Voador Não Identificado, nesta temporada de 2018. Eles ficarão em cartaz até setembro. Sheerazade contará 33 historias de sua saga, completando os dias em que estarão em cartaz, sendo contada uma historia a cada noite, até início de setembro. Os imigrantes orientais que por aqui aportaram, vindos da Síria, Egito, Líbano e Marrocos, também estão relatando, em vídeo, no Café Baroni (8º andar de Oi, Futuro), as suas aventuras e desventuras, as mesmas histórias que serão relatadas em cena, no intervalo das narrativas, pelos atores da Cia.

     Recurso muito engenhoso, por sinal. Ficamos em suspenso com a interrupção da narrativa, como ficava o rei Shariar quando Sheerazade suspendia a sua historia, deixando-a para ser contada no dia seguinte (ou, no caso da Cia, somente no próximo espetáculo!). O público voltará, no dia seguinte, para continuar ouvindo as histórias de Sheerazade? Atenção, vocês têm somente até dia 9/9 para assistir a todas as historias! Vale conferir.

     No dia em que estivemos presente (na estreia do espetáculo) foram narrados “O Mercador e o Gênio” e se deu início ao conto  “O Primeiro xeique” e sua gazela. (Aliás, diga-se, de passagem, a Cia. em questão conseguiu objetos de cena - máscaras principalmente – que são a delícia do público, como a da gazela, a dos cachorros-lobo e a do passarinho), encomendadas pela internet...

     Figurinos (contemporâneos) e Iluminação: Gaia Catta e Lia Maia. A cenografia (muito acertada, com praticáveis que acolhem o ruído dos demônios), é de Elsa Romero. Os atores se revezam nos papéis, sendo o elenco formado por Adassa Martins (no dia em que assisti Sheerazade, com muita proficiência, por sinal). Os outros atores: Bernardo Marinho, Clarisse Zarvos, Elsa Romero, Gabriel Vaz (que também elabora, com Felipe Ventura, a trilha sonora que nos leva a sonhar com o distante Oriente), João Rodrigo Ostrower, Julia Bernat, Larissa Siqueira, Pedro Henrique Müller e Romulo Galvão. 
    
     A Cia é composta por sete artistas que se revezam em diferentes funções, os demais são convidados. Eis os sete: Elsa Romero, Gaia Catta, Isadora Petrauskas, Julia Bernat, Leandro Romano, Lia Maia e Luiz Antonio Ribeiro. Como os contos duram muitos dias, dá vontade de voltar para assistir a todas as historias... O diretor Leandro Romano soube aproveitar o potencial de sua Cia e a colocou fazendo desde os ruídos de cena (com presença dos atores nas laterais do palco), até o revezamento nos papéis. Quem o assiste não sabe nunca qual será a próxima Sheerazade em cena...  

     A tradução e consultoria de cultura árabe é de Hadi Bakkour e a consultoria teórica de Mamede Mustafá Jarouche. Como podemos verificar, o trabalho foi cercado do maior cuidado, o que dá garantia de seriedade ao mesmo. 
      
     Um pouco de sua historia: O Teatro Voador... está em cartaz desde 2011, tendo produzido seis espetáculos até chegar a este Oriente de execução ‘original’ (este é o melhor termo para defini-lo). A Cia chegou ao requinte de entrevistar imigrantes do Oriente Médio para fazer um vídeo, que é apresentado no café Baroni (como já dissemos) antes de cada  espetáculo. Os depoimentos dos imigrantes também são executados, no palco e ao vivo, pelos atores, nos intervalos das narrativas de Sheerazade.

      São relatos de literatura oral, contos. (O Oriente, antes de sua decadência era recheado de contadores de historias...).  Talvez a direção não tenha colocado a irmã de Sheerazade, Duniazide, para simplificar a cena. Portanto, Sheerazade conta suas historias dirigindo-se aos protagonistas, (com voz inaudível para a plateia), ela se refere a historias que eles devem contar ao público, como o fazia com Duniazide, para interessar Shariar. Trata-se de um espetáculo curioso (ao menos o fragmento a que assistimos), interessante. Sentimos dizer, mas foi um dos poucos, no atual panorama teatral carioca, que atraiu a presença desta crítica! (Há vários outros, é claro, como era de se esperar!). "As Mil e Uma Noites" estará em cartaz até o dia 9 de setembro. Bom espetáculo!

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