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segunda-feira, 2 de julho de 2018

"O GRANDE CIRCO MÍSTICO"

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

"O Grande Circo Místico": em cena Murici Lima, Margô Mello e Leonardo Rocha (no papel do Clown). Direção Paula Sandroni (Foto Produção).

              “A guerra, filha bastarda da política e da surdez”. É com esta frase que o Adminstrador  do  circo, interpretado por Murici Lima, inaugura a segunda parte do espetáculo. É quando o ‘inferno entre os homens’ (a guerra) faz os artistas do circo migrar para o mundo místico dos mortos. A imagem é excelente. A direção de material tão rico é de Paula Sandroni, ex-assistente de João Fonseca, na primeira montagem. Paula diz que escolheu um recorte menos poético  -  o que não confirmamos, pois as músicas de Edu Lobo e Chico Buarque são acima de tudo poéticas, dando ao espetáculo um sabor de encantamento que não termina nunca!

     Estamos falando de “O  Grande Circo Místico”, e não sabemos se ele volta ao cartaz. Sua beleza devia garantir o retorno: a interpretam alunos que já parecem profissionais. No dia primeiro de julho de 2018 a peça deixou o palco do Teatro Cesgranrio, no Rio Comprido. Do belo teatro do mecenas cultural Carlos Alberto Serpa, o espetáculo voou para se transformar em lembrança.

     A direção musical é de João Bittencourt, com músicos tocando ao vivo, escondidos nas dobras do cenário... Aliás, do cenário (de Felipe Alencar) podemos falar, pois não existem planos falsos e tudo acontece na maior fidelidade ao que está sendo narrado. A cena é enriquecida pela imagem da lona do circo, erguido em leves fitas coloridas.

     As coreografias, muito bem resolvidas, são de Gabriela Patrício. Na realidade, a montagem é  uma  produção  de  CEFTEM  (Centro de Estudos e Formação em Teatro Musical), do qual a diretora  Paula Sandroni  é  uma das professoras.  O ator Reiner Tenente, que já trabalhou em uma das montagens, hoje dirige a coordenação pedagógica do Centro. “O Grande Circo Místico” vem de uma adaptação livre do texto de Newton Moreno & Alessandro Toller.

     Temos muitas surpresas nesta montagem. A cada apresentação os atores se revezam. Margô Mello interpreta a Mulher Barbada e a ‘jogadora do baralho da sorte’. Aliás, ela nos parece ser a única atriz com papel fixo, pois dos 20 alunos do elenco, somente Margô possui o phisique du role para a sua magnífica interpretação!  

     Somos apaixonados pelo ballet e devemos acrescentar o nosso encanto pela bailarina "Beatriz", de Chico Buarque, interpretada na noite em que assistimos por Laura Canabrava (chorei, choramos... ao vê-la!). Seu companheiro de viagem e namorado Frederico é interpretado pelo ator Matheus Vieira (ele canta “Beatriz”, de Chico, com o mesmo ardor que Laura canta “Meu namorado”). Temos vários destaques em cena, e é difícil enumerá-los. Falei em 20 atores? Só em escolas – ou em teatro profissional -  é possível tamanho elenco.

      Vejamos outros destaques: Charlotte, a má – interpretada por Cristina Ramos, que canta “Sobre todas as coisas”, com o veneno adequado. Belo! Outras interpretações marcantes: O “Clown” de Hamilton Dias; as filhas-anjos (uma asinha para cada uma, formando um anjo inteiro), interpretados por Ilana Passos e Malu Cordioli (ou Carol Minh); e a prostituta Lily Braun, interpretada e cantada com enorme talento por Ana Elisa Schumacher, na abertura do segundo ato.

     Há também a historia do menino sem braço, ferido de guerra, interpretado por Antonio Azevedo; Mauricio Detoni faz o pai de Frederico; Juliana Scalco se desfaz com “a mulher elástico”. E todos eles interpretam  o coro: Fernando Peres, Jean Pontes, Bruno Camurati, Leonardo Rocha, Brenno Negrellos; Rodrigo Melo (o soldado); Julio Lima (o general); Wagner Café , simpática presença em cena. Enfim, é um elenco de novos atores que cintila em nossos palcos!  Solicitamos seu breve retorno!!!!!!  
              
Músicos: Regência Miguel Schomman; Bateria Georgia Camara/Cris Ribeiro; Baixo 
elétrico Arthur Moreno/Marcelo Saboya; Sax tenor, sax soprano e flauta Yuri Villar/ Sidney Herszage; Trombone Jonas Hocherman/Victor Cesar. 







Um comentário:

  1. Que delícia ler isso, do jeito que foi escrito dá vontade de comer... comer com os olhos. São tantos detalhes deliciosos que fiquei buscando na imaginação como seriam. Gostaria de ver a Laura cantando e os outros também. Tomara que volte logo, regresse em breve porque eu não vi e com esse comentário fiquei com vontade. Parabens para todos, os lindos jovens atores.

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