Clara Sverner e Nathalia Timberg saudando o público! (Foto de Ligiane Braga)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro –
AICT)
(Especial)
CHOPIN OU O TORMENTO DO IDEAL
Começo com uma observação de Antonio
Abujamra a
respeito de Edwige Feuillère, e dedico esta observação à nossa Edwige Feuillère: Nathalia Timberg! “... é a atmosfera exata. Cada gesto, cada momento éaproveitado de maneira inteligente. (...) Seu tom de voz élevado com um profissionalismo seguro e válido, seu porte,sua autoridade, a colocam no plano das maiores atrizes domundo”.
E assim começamos a nossa crítica:
Está
em cartaz, no Teatro Maison de France, “Chopin ou o Tormento do
Ideal”, de Phillipe Etesse, com direção de José Possi Neto. Temos um trio de excelência levantando a cena, com a presença de Clara Sverner ao piano. O público do Maison de France está de parabéns, embora a estreia deste sofisticado espetáculo tenha sido um tanto tumultuada, com a plateia dividida, os mais sofisticados surpreendidos pelo comportamento pouco habitual do público menos afeito à música clássica, talvez. Os mais ligados à música de Chopin reclamaram: “Assim não é possível começar!” – a respeito das falas e tosses da plateia menos afeita ao que se passava no palco! Mas o tumulto foi absorvido pelas duas artistas, Nathalia e Clara. Houve um momento, no texto, em que Chopin (Nathalia) dizia: “Tenho trabalhado pouco, e tenho tossido muito...” – aí os ânimos se aquietaram! Noite prodigiosa!
Claro, um pouco de exagero é permitido a
uma crítica. Naquela noite memorável
a obsessão chegou “à banalidade côté drama...” como nos diz Chopin! ... e seguimos, impávidas!
As viagens... a rebeldia, a “desesperança
tranquila” de Chopin! Os prelúdios
foram apresentados naquela noite no monastério de Valdemossa, na ilha de Maillorca! George Sand, a escritora, ao voltar de compras para a sobrevivência dos peregrinos do monastério, encontrou Chopin “pálido, olhos esgazeados, cabelos em pé...” criando os seus prelúdios...! E Sand continua: “Ao nos ver entrar, Chopin disse, com ar atônito: “Ah! Eu bem sabia que vocês tinham morrido!”
O monasterio, os gritos das águias, a vida
real homenageando a morte... a chuva
lúgubre! Chopin pressentia a sua morte e ironizava a incompetência dos médicos de Maillorca: “Uns diziam que eu ia morrer, outros que eu estava morrendo e outros que eu estava morto...” E divagava: “A lembrança dos dias felizes é o pior dos infortúnios”... recordando a infância em Varsovia... e no dia 8 de setembro de 1831, a mais bela entre as cenas belas! O incêndio de Varsovia, a execução, pela pianista Clara Sverner, do Estudo Revolucionário, Opus 10 n.12 – e o descontrole de Chopin! E George Sand (Nathalia Timberg) recordando seu amor, em um francês divino: ”Insuciant, tendre, tout a coup amoureux...”
São muitos os momentos deste inspirado
espetáculo. As variações do
videografismo de Alexandre Gonzales tiveram eco na criação de Possi Neto ... e a Iluminação de Wagner Freire, então! Sobre o espetáculo, a pianista Clara Sverner, executando Chopin tão próxima a nós, a plateia, declara, em entrevista: “Temos no palco, entre textos e música, uma união de rara sensibilidade”. Verdade. E Nathalia acrescenta: “No espetáculo são iluminados 20 anos da vida e obra de Chopin”... e, sabiamente encerra o espetáculo com uma frase do compositor/pianista: “A simplicidade é o último selo da arte. Não se pode começar pelo fim...” E começam os preludios... obras primas!
Há trechos de frases de Lizst sobre Chopin,
e suas abruptas dissonâncias... sua
delicadeza e ousadia... e há o silencio da plateia do Maison (agora devota). Há citações de Baudelaire, Gérard de Nerval, Alfred de Musset... e Nathalia transforma-se, em cena, interpretando os vários personagens. Tradução e projeto de Nathalia Timberg. Direção e Adaptação de José Possi Neto. Assistência de Direção Renato Forner. Figurinos, muito adequados, de Miki Hashimoto. Cenografia (séc. XIX), Chris Aizner: Vídeo Designer: Laerte Késsimos. O espetáculo estará em cartaz até o dia 29 de julho. Não percam! |
segunda-feira, 23 de julho de 2018
"CHOPIN OU O TORMENTO DO IDEAL"
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