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segunda-feira, 23 de julho de 2018

"CHOPIN OU O TORMENTO DO IDEAL"

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Clara Sverner e Nathalia Timberg saudando o público!
(Foto de Ligiane Braga)



IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

CHOPIN  OU  O TORMENTO DO IDEAL

     Começo com uma observação de Antonio Abujamra a 
respeito de Edwige Feuillère, 
e dedico esta observação à nossa Edwige Feuillère: 

Nathalia Timberg!

     “... é a atmosfera exata. Cada gesto, cada momento é 

aproveitado de maneira inteligente. (...) Seu tom de voz é 

levado com um profissionalismo seguro e válido, seu porte, 

sua autoridade, a colocam no plano das maiores atrizes do 

mundo”. 


      E assim começamos a nossa crítica:

     Está em cartaz, no Teatro Maison de France, “Chopin ou o Tormento do 

Ideal”, de Phillipe Etesse, com direção de José Possi Neto. Temos um trio de 

excelência levantando a cena, com a presença de Clara Sverner ao piano. 

O público do Maison de France está de parabéns, embora a estreia deste sofisticado 

espetáculo tenha sido um tanto tumultuada, com a plateia  dividida, os mais 

sofisticados surpreendidos pelo comportamento pouco habitual do público menos 

afeito à música clássica, talvez. Os mais ligados à música de Chopin reclamaram: 

“Assim não é possível começar!” – a respeito das falas e tosses da plateia menos 

afeita ao que se passava no palco! Mas o tumulto foi absorvido pelas duas artistas, 

Nathalia e Clara. Houve um momento, no texto, em que Chopin (Nathalia) dizia: 

“Tenho trabalhado pouco, e tenho tossido muito...” – aí os ânimos se aquietaram! 
Noite prodigiosa!

     Claro, um pouco de exagero é permitido a uma crítica. Naquela noite memorável 
a obsessão chegou “à banalidade côté drama...” como nos diz Chopin! ... e seguimos, 
impávidas!  

     As viagens... a rebeldia, a “desesperança tranquila” de Chopin! Os prelúdios 
foram apresentados naquela noite no monastério de Valdemossa, na ilha de Maillorca!
George Sand, a escritora, ao voltar de compras para a sobrevivência dos peregrinos
do monastério, encontrou Chopin “pálido, olhos esgazeados, cabelos em pé...” 
criando os seus prelúdios...! E Sand continua: “Ao nos ver entrar, Chopin disse, com ar 
atônito: “Ah! Eu bem sabia que vocês tinham morrido!”

     O monasterio, os gritos das águias, a vida real homenageando a morte... a chuva 
lúgubre! Chopin pressentia a sua morte e ironizava a incompetência dos médicos de 
Maillorca: “Uns diziam que eu ia morrer, outros que eu estava morrendo e 
outros que eu estava morto...” E divagava: “A lembrança dos dias felizes é o pior 
dos infortúnios”... recordando a infância em Varsovia... e no dia 8 de setembro de 
1831, a mais bela entre as cenas  belas! O incêndio de Varsovia, a execução, pela 
pianista Clara Sverner, do Estudo Revolucionário, Opus 10 n.12 – e o descontrole de 
Chopin! E George Sand (Nathalia Timberg) recordando seu amor, em um francês 
divino: ”Insuciant, tendre, tout a coup amoureux...”

     São muitos os momentos deste inspirado espetáculo. As variações do 
videografismo de Alexandre Gonzales tiveram eco na criação de Possi Neto ... 
e a Iluminação de Wagner Freire, então! Sobre o espetáculo, a pianista Clara 
Sverner, executando Chopin tão próxima a nós, a plateia, declara, em entrevista: 
“Temos no palco, entre textos e música, uma união de rara sensibilidade”. 
Verdade. E Nathalia acrescenta: “No espetáculo são iluminados 20 anos da vida e 
obra de Chopin”... e, sabiamente encerra o espetáculo com uma frase do 
compositor/pianista: “A simplicidade é o último selo da arte. Não se pode começar 
pelo fim...” E começam os preludios... obras primas!
  
     Há trechos de frases de Lizst sobre Chopin, e suas abruptas dissonâncias... sua 
delicadeza e ousadia... e há o silencio da plateia do Maison (agora devota). Há citações 
de Baudelaire, Gérard de Nerval, Alfred de Musset... e Nathalia transforma-se, em cena,
interpretando os vários personagens. Tradução e projeto de Nathalia Timberg. 
Direção e Adaptação de José Possi Neto. Assistência de Direção Renato Forner. 
Figurinos, muito adequados, de Miki Hashimoto. Cenografia (séc. XIX), Chris Aizner:
 Vídeo Designer: Laerte Késsimos. O espetáculo estará em cartaz até o dia 29 de julho. 
Não percam!    


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