Rogerio Freitas (Souza); Beth Lamas (Neli); Isio Ghelman (Jorge) |
Vera Novelo (Lu, a avó), Rogerio Freitas (Souza) |
Isio Ghelman (Jorge); Vera Novello (Lu, a avó) |
Ana Velloso (Cora), Gillray Coutinho (Afonsinho) (Fotos Claudia Ribeiro) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro – AICT)
(Especial)
ODUVALDO
VIANNA FILHO já está se despedindo de nossa cidade, o Rio de Janeiro, e nem teve
tempo de ser festejado. Será que as coisas passam assim tão depressa? Oduvaldo,
o jovem autor que iluminou os anos 70 do século passado com sua dramaturgia inspirada, iluminou também, para os jovens de hoje, os anos de chumbo. Como era bom
saber, quando havia um Vianninha em cartaz! Mas era muito difícil assisti-lo, pois, na maioria das vezes a censura acabava com a nossa alegria! Dessa vez, em 2018, e no Teatro Nelson Rodrigues, aconteceu uma nova adaptação de "Em Familia”,
dirigido por Aderbal Freire Filho, mas nem houve tempo para nada, nem para festejá-lo
Ou será que os tempos são outros, e os acontecimentos teatrais se revezam com
tal velocidade que não há mais tempo, tempo, tempo... para nada?
Eis que Aderbal Freire Filho resolve
contar sobre “O Ùltimo Combate do Homem Comum”, relembrando “Arena conta...”,
onde surgiram todos aqueles autores fabulosos: Vianninha, Guarnieri, Boal... Pois
Arena conta agora “O Último Combate do Homem Comum”, rebatizado por Aderbal. As
novas gerações (excluindo as que fizeram escolas de teatro), não tiveram
ocasião de apreciar corretamente a este autor. Coisas dos tempos modernos,
quando o público pensa que tudo é comédia! O mesmo aconteceu há alguns anos atrás
quando foi levada em cena “Rasga Coração”. Acontece que, nas peças de
Vianninha, as coisas vão se desenvolvendo, as cenas vão se encaixando e, da
vivacidade de um encontro entre pais e filhos... podem nascer o riso... e a
lágrima! Assim é com esse “O Último Combate...” ! ! Assim foi com “Rasga
Coração” ! Quando Rogerio Freitas e Vera Novello
fazem e desfazem com o coração do público, temos orgulho do nosso elenco. Quando
vemos Isio Ghelman nos levar às lágrimas, no momento em que estávamos refesteladas
rindo das tiradas de Souza (Rogerio) com seu amigo Afonsinho (interpretado por Gillray
Coutinho), Isio mostra, em seu desabafo pelo fracasso ao acolher em casa os velhos, seus pais, toda a emoção desesperada que se manifesta nos que amam sem amarras. Cena magnífica!
E não ficamos só com os estes exemplos: Beth
Lamas (a bem casada Neli); Ana Velloso (Lu, a caçula); Paulo Giardini (revelando-se
como o problemático Beto!), interpretam os
outros filhos do casal. E há o sempre maravilhoso palhacinho interpretado por Kadu
Garcia, de maneira alegre e bem vinda, desdobrando-se em “Aparecida”, o “Patrão”
e o “Médico”. Mas todas as ligações vão além, e as personalidades conflitantes
dos filhos enclausuram os pais!
Tudo no texto é tão bem formulado, que não
falta a união da avó (Vera Novello irreconhecível como Lu, uma das pontas do
conflito), mãe e avó desagregando a precaria estabilidade em que vive seu filho
Jorge (Isio Ghelman), sua esposa Cora (boa intervenção de Ana Barroso), e a filha adolescente
Suzana (Meg Pastori). Quando não há previsão para a velhice, eis a situação a
que ela fica exposta. A peça mostra o olhar
carinhoso de Vianninha, e ele nos comove. Percebemos também – através de uma leitura
subitamente cruel! - que nada irá modificar
o modo de agir dos filhos, em relação à velhice dos pais!
Só podemos nos maravilhar com a sequência
de cenas escritas por Vianninha. Elas vão desenvolvendo a ação em um
encadeamento lógico, levando à negação da cena familiar. O problema de cada
filho vai se desenvolvendo como a vida solicita! E assim será, a menos que uma
revolução humanista aconteça, e mude as pessoas na sala de jantar.
“Em Familia” – agora chamada “O Último
Combate do Homem Comum” – traz em seu contexto a experiência de uma convivência
que não frutifica em amor, mas em certezas.
É algo para se pensar, algo que nos leva a
refletir sobre a ação dos humanos. Na sequência, vamos desvendando a célula primordial
dos acontecimentos que irão se reproduzir em escala universal. Tudo é referido
com muito acerto por este grande artista que é Oduvaldo Vianna Filho. E as
cenas são bem distribuídas, cada ator tem o seu moment de bravure, como dizem os franceses...
Corram, que ainda dá tempo!
FICHA TÉCNICA: Autor: Oduvaldo Vianna
Filho. Concepção: Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar. Direção: Aderbal
Freire Filho. Cenario: o grande Fernando Mello da Costa! Figurinos dos anos 70:
Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faedo; Direção musical e trilha sonora: Tato
Taborda; Iluminação: Paulo Cesar Medeiros; Produção: Lúdico Produções
Artísticas.
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