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sábado, 18 de agosto de 2018

"NAQUELE DIA VI VOCÊ SUMIR"





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Camila Márdila e Miwa Yanagizawa em "Naquele dia vi você sumir", direção Areas Coletivo
(Foto Renato Mangolin)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

 NAQUELE  DIA  VI  VOCÊ  SUMIR

     A cena é criada pelo AREAS Coletivo, um grupo que promove espetáculos e estudos teatrais, sediado em São Paulo. Ele encontra-se atualmente no Rio de Janeiro apresentando, até outubro, um trabalho de pesquisa inspirado no livro de Luiz Ruffato, “Eles Eram Muitos Cavalos”, titulo que é, por sua vez, inspirado no capítulo do livro no qual a poeta Cecília Meireles conta os acontecimentos e personagens de nossa historia brasileira, em o “Romanceiro da Inconfidência”!

      Luiz Ruffato dedica seu livro à Cecília, e cita o trecho: ”Eles eram muitos cavalos, mas ninguém mais sabe os seus nomes, sua pelagem, sua origem...” (do Romance LXXXIV “Ou Dos Cavalos da Inconfidência”). Talvez, seja essa a nossa historia, o nosso cotidiano fragmentado em cenas avulsas... 
     
        A ideia é interessante, a e maneira de desenvolvê-la mais ainda. Estes 
“cavalos de que não se sabe a origem”  estão  presentes  na  encenação  do
 AREAS  Coletivo. Por sua vez, o AREAS convidou o grupo Magiluth, do 
Recife, para completar a paisagem, através dos atores Giordano 
Castro e Pedro Wagner.

     E como ficou isso? Quatro atores completando a experiência. O AREAS explica: “Assim, renovamos e inauguramos relações, algo que se estende por toda a equipe, na tentativa de ressoar a natureza colaborativa que nos é tão relevante e primordial”.

     No palco, duas atrizes do AREAS: Miwa Yanagizawa e Camila Márdila. A idealização do espetáculo foi de Camila e Liliane Rovaris. Mas, claro, tem muito mais gente envolvida...

     A cenografia é do AREAS Coletivo, e o que presenciamos é algo insólito: no minúsculo palco do Teatro III do CCBB, no Rio, a cena se tornou gigante. Sabem como? Aproveitando ângulos e luz, um fundo negro e interferências... quebradas por possante iluminação (que é uma das vozes do espetáculo), proporcionada por Beto Bruel. Entre ângulos e luzes, os espaços se definem. Quem opera esta luz? Rodrigo Lopes e Dudu Nobre. (Engraçado, estes nomes nos parecem velhos conhecidos...). Os figurinos, marcando personalidades, são de Yumi Sakate, que também é a responsável pela direção de arte.

     Invertemos o processo, e a ficha técnica veio, quase toda, no início da crítica. Tal fato acontece pela presença, muito íntima, entre a interpretação, o espaço cênico e a indumentária. E há também a consultoria técnica de Bruno Girello. O espetáculo é tão inesperado, como inesperados são os cortes de cena!

     Sobre o aspecto referido acima, o mais impactante (se é que podemos selecionar impactos nesta experiência) é o cão, externando o seu pensamento. Como vivemos cercados de cães, nunca nos passou pela cabeça (ou passa o tempo todo...) o lado humano tão evidente que eles levam... no olhar! Impressionante e acolhedora (no sentido de ser bem recebida pelo público), a interpretação do animal, feita pela atriz Camila Márdila, perfeita em sua expressão corporal. Interessante observar que o elenco feminino se distingue por características muito próprias, em sua maneira de interpretar. Enquanto Miwa Yanagizawa possui uma máscara facial impressionante e com ela o texto adquire força maior, Márdila possui, além da interpretação perfeita, a força do corpo, que se transmuta em “essências”. Olha-se, mas não podemos definir a atuação da atriz.

     E o que se percebe é a voz profunda das Gerais sugerindo uma vida em comum. São cenas do cotidiano, imaginadas por Ruffato, e interpretadas pelos atores. Além do livro de Cecília há intervenções surgidas em outras obras de literatura (e até da filosofia!). São escritos de Sarah Kane (Ânsia), ou de Sam Shepard, (Angel City); ou ainda Deleuze, em “Diferença e Repetição” ... e muitos outros autores. Vocês nem imaginam o poder cultural que o teatro está reconhecendo em si mesmo. Vale a pena conferir.

     A participação do ator pernambucano Pedro Wagner é cativante e sutil, principalmente quando transmite as emoções de um monólogo sobre o amor, escrito por Sarah Kane (e talvez modificado por Wagner, mas são tão bonitas as palavras! Ouçam/leiam só!) - “e escrever poemas para você e pensar porque você não acredita em mim e sentir tão profundamente que eu não ache palavras para expressar esse sentimento e ... vagar pela cidade e achar que ela está vazia sem você ... e achar que estou me perdendo e querer o que você quer ... e me derreter quando você sorrir ... e ficar assustado quando você estiver zangada ...  (e por aí vai!). Belo momento!

     E tem Giordano Castro entrando como se um cavalo de Ruffato fosse. E trazendo sua ternura solicita e desajeitada para sua amada (Yanagizawa). Achamos que esta peça é um poema em prosa! E uma constatação de nosso despreparo para a vida! Há cortes ternos, e cortes violentos, como o impacto do atropelamento, teatralmente muito bem sucedido, com efusões de luzes e vidros!

     E é muito interessante a solução que o AREAS encontrou para contar, em flashes, a vida no olhar de Ruffato! O AREAS Coletivo é o encarregado da criação e direção deste espetáculo que é novidade pura. Ah! Já ia esquecendo! A trilha sonora original é de Azul e Chad Challoub. Muito boa! Só podemos aconselhar este espetáculo: NÃO  PERCAM  ALGO TÃO  INSÓLITO!    

   

2 comentários:

  1. Eu assisti hoje e amei! Mas me parece que alguém substituiu a Camila (pelo menos hoje), você sabe me dizer quem é?

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  2. Perdão, pesquisei direitinho e era ela mesma rs aliás, muito bem pontuado o seu post, parabéns!!

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