quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
domingo, 11 de dezembro de 2016
"ANTÍGONA"
Amir Haddad, diretor, e Andréa Beltrão, Antígona, recebendo aplausos. (Foto Barbara Lopes) |
Antígona em seus últimos momentos. (Fotos Barbara Lopes) |
sábado, 10 de dezembro de 2016
"60! DÉCADA DE ARROMBA doc.musical"
CRÍTICA TEATRAL
"CEMITERIO DAS DELÍCIAS"
domingo, 4 de dezembro de 2016
"IMAGINA ESSE PALCO QUE SE MEXE"
Elenco de "Imagina esse palco que se mexe",
direção Moacir Chaves.
(Fotos Divulgação).
direção Moacir Chaves.
(Fotos Divulgação).
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
IMAGINA ESSE PALCO QUE SE MEXE
Ora, Ora! Agora estamos às voltas com a
ciência! A que espetáculos nos leva a imaginação do diretor Moacir Chaves. O
último deles, "2.500 por hora", se propunha a contar a historia do
teatro em 60 minutos. Uma verdadeira maratona teatral. Agora, estamos às voltas
com a historia da humanidade desde seus
primórdios, quando "saímos" da água e viramos seres rastejantes...
Aliás, idéias impactantes. A primeira delas foi pensada por dois franceses, a
segunda pelo nosso Moacir Chaves em parceria com o físico João Ramos Torres de
Mello Neto... e as quatro atrizes que compõe a cena: Elisa Pinheiro, Karen
Coelho, Luisa Pitta e Monica Biel. O embrião da ideia começou em um jantar de
aniversario do diretor...
Pano de fundo negro, revestido por estrelinhas
cintilantes, platéia de 35 espectadores, quatro atrizes se revezando (todas
elas excelentes), e eis que entramos em ligação direta com o cosmos! Trata-se
de um espetáculo inesperado, e a curiosidade humana, unida ao inevitável da sua
evolução, leva-nos a uma aventura sui
generis - nunca antes registrada no palco - com (esse aspecto de)
constatação da vida, e, ao mesmo tempo, vivência da mesma. Tal acontecimento
torna-se possível graças à narrativa do astrofísico Mello Neto... relatando-nos,
com seu texto, a sua própria experiência como cientista e pesquisador, teatralizada
por Moacir Chaves.
Impossível reproduzir as nuances dessa aventura.
Talvez, as que mais nos ficam na memória sejam as sutilezas dos encontros
celestes, as descobertas dos buracos negros... e as conseqüências desses "encontros"
para os habitantes do planeta Terra! Todo o relatado é feito com muito espanto
e poesia.
Um aspecto que ficou marcado em nossa
surpresa foi a cegueira do personagem de Monica Biel, colocada ali como se
fosse explodir, de um momento para outro, em revelação!
UM
ESPETÁCULO IMPERDIVEL!!!!!!
Na ficha técnica
temos a iluminação de Paulo Cesar Medeiros; texto coletivo, extraído da
narrativa de Mello Neto; "experimentação teatral" dirigida por Moacir
Chaves, com assistência de direção de Francisco Ohanna. Figurinos do cotidiano,
alguns de rara beleza (Inês Salgado). Direção Musical Tato Taborda.
domingo, 27 de novembro de 2016
"CÉUS"
Elenco de "CÉUS", de Wajdi Mouawad, direção Aderbal Freire Filho. (Foto Leo Aversa). |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
"CÉUS" - ESSE É O FUTURO QUE NOS AGUARDA?
Há um erro fundamental no texto pró-Ocidente
do libanês Wajdi Mouawad, além o de manipular emoções: ele se esqueceu de levar o
ataque "dos jovens kamikazes românticos" até o distante Texas, nos
EUA, onde se abriga - esse sim - o maior criminoso de guerra do século XXI:
George W. Bush. Por que não incluí-lo como o principal responsável pelos
ataques aos museus ocidentais, já que ele proporcionou o maior deles, ao
estimular o saque ao Museu de Bagdad, acabando com uma historia que, para nós,
ainda não foi contada... e dando partida ao texto que segue: o da destruição
total dos dois mundos.
Foi-se
a Arte e a Memoria de um povo, e a peça lamenta o tempo da destruição da arte
ocidental... Constatamos, em "Céus", que o ataque terrorista torna-se
um acontecimento tão "preciso", em termos de tecnologia, que bem
podemos imaginar a recíproca e, derrotados todos, partirmos para o "planeta
vermelho"... (é o que parece estarem preparando, os nossos contemporâneos).
E o teatro entrou nessa dança! Em todo caso, não escapamos nunca do vermelho...
para o bem ou para o mal.
A
peça transcorre em um tempo indefinido, e a tensão imposta atinge extremos,
lutando entre o veraz e o inverossímil, fato esse que é muito perigoso para a arte.
O perigo está em a peça caminhar naquele fio estreito entre o riso e o pranto.
Os atores, muito bons, seguram essa barra pesada, no entanto, não podemos
resistir a algo que soa falso, em todo esse terror insuflado pela imaginação e
a tecnologia!
Resumindo: o autor imaginou um tempo em
que o terror está prestes a dominar o mundo e estabelecer a barbárie. Mas está
mesmo? Um pouco mais além seria atômico, um pouco aquém, histeria incontrolável.
Queremos enfrentar este texto?
Quatro cientistas estão trancafiados em uma
espécie de "bunker" pós-revolução tecnológica, esperando decifrar a senha e a
missão que um quinto componente da equipe guarda com ele. Este componente, Valéry,
que aparece com a imagem do diretor Aderbal Freire Filho, é o encarregado de
levar a pesquisa adiante. Desiste, e deixa o barco (o computador...) à deriva.
Os outros quatro entram em pânico, sabem que algo incontrolável acontecerá no dia
de Nossa Senhora da Anunciação, dias contados. Há o quadro de Tintoretto, há a
pomba maluca e há o mapa configurando o local dos quatro ou cinco museus que
sofrerão o ataque dos terroristas. Quem são eles? O que querem eles, os terroristas,
afinal? É uma luta de civilizações, ou uma luta de gerações? Neste impasse
somos colhidos em uma guerra que não nos pertence; nós não somos George W. Bush,
não vivemos no Texas, não temos duas filhinhas "encantadoras" e uma
mulher ideal. Portanto, essa não é a nossa guerra.
Entretanto - e o autor nos desculpe - os
atores fazem o possível para tornar verossímil tal situação. Pode até acontecer
- o nosso mundo está (é) tão louco - mas as bases não se sustentam, e então
vemos uma cientista, (Silvia Buarque), tentar contornar a situação e só conseguir
o seu retorno à "humanização mais palpitante" porque vai ser mãe! O
"salvador da pátria", (Felipe de Carolis), se atrasa e não consegue
deter a catástrofe terrorista "ameaçada" por alguém que não se
controla (Rodrigo Pandolfo/Vincent Chef Chef), em missão que exige sangue frio: e tomamos conhecimento de mais esse vilão
ambicioso. E assim sucessivamente: Blaise Centier, personagem de Isaac Bernat, com a sua bondade e indefinição, não consegue dominar a situação, deixando a catástrofe acontecer! Isaac não tem muito a realzar, com tal personagem... Somente a dupla pai e filho passa um
sentimento familiar e humano: pai (Charles Fricks) e filho (Antonio Rabelo) - um
jovem cuja naturalidade vale o espetáculo - acabam por nos envolver em uma armadilha
- pressentida, porém impossível de ser evitada. Conclusão: essa historia de
crianças mortas em uma guerra estúpida estabelece o momento em que pedimos,
silenciosamente, que essa sangria, acontecendo em nossos dias, seja detida.
O
cenário é composto por uma mesa que centraliza a ação, com os seus computadores
(Fernando Mello da Costa). Os figurinos do cotidiano (século XXI), composição de Antonio Medeiros. Música e
desenho sonoro: Tato Taborda. Iluminação: Maneco Quinderê. Como podemos perceber,
uma ficha técnica tão potente quanto o elenco. Tradução de Ângela Leite Lopes;
Direção: Aderbal Freire Filho. Assistente de Direção: Fernando Philbert. As projeções
são um espetáculo à parte. Realização do Projeto: Felipe de Carolis.
"O TEATRO DE SOMBRAS DE OFELIA"
"O Teatro de Sombras de Ofelia", de Michael Ende, direção Jonas Kablin. (Foto Bruno Veiga) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
A ESTREIA DA DELICADEZA
Parodiando os poemas clássicos...
"Foram tantas as estréias..." deste semestre! Ficamos com a Estréia da
Delicadeza! Sim, sentimos ter conhecido Praga, e não ter assistido ao seu "Teatro
de Sombras"... e também sentimos não conhecer melhor o trabalho do Pequod,
aqui no Brasil. Mas ainda há tempo de pensar sobre... a partir deste "O
Teatro de Sombras de Ofelia", um belo espetáculo, dirigido por Jonas
Kablin.
Um pano de fundo negro: bambulinas
negras... e uma cortina transparente fechando a cena e a tudo deixando ver, inclusive
a construção da cena... No lado esquerdo da platéia, os músicos. E, lembrando o
que virá: ... a reprodução, em pintura, das cortinas da boca de cena da Ópera de
Paris! ... e as entradas e saídas indicando portas, casas, janelas... todas iluminadas! E uma voz que orienta: "Vá para o ponto, Ofelia". (Essa é a primeira
impressão que se tem do espetáculo). Além, é claro, das "batidas de
Molière", realizadas por "Ofélia", antes do início da ação.
E aí começa a representação de cenas das
mais variadas peças, e a mais homenageada de todos nós, o nosso
"Hamlet"! E aí um detalhe para a engenhosidade dos figurinos (de
Marta Reis), que reproduzem as articulações de bonecos, por cima dos
atores-manequins (manipulação de Carolina Garcia) ... E pensam vocês que a magia se detém nas cenas iniciais?
Michael Ende (autor, e não vou dizer que é o conhecido amigo da imaginação
infantil...) e Jonas Klabin (direção e adaptação) fazem o milagre acontecer!
Junto à cena, à direita da platéia, eis
que se ilumina a 'Caixa de Ponto', e lá está a nossa Ofelia, indicando as falas
para os atores. Mas, no mesmo espaço, surge o manipulador de cenário e toma conta do
espetáculo, despertando a curiosidade da platéia! A partir daí, há dois
espetáculos se processando e sendo "absorvidos" pelo público: o que
se passa em cena, e a miniatura do que se passa em cena, a partir da 'Caixa de
Ponto'. Estamos encantados? Sim, estamos!
... E não para aí! A atriz que me levou a
me interessar por este trabalho, a sensível Rafaela Amado, que também é a assistente
de direção, trouxe-nos Nina, a personagem de Tchecov, para fazer a sua declaração
de amor ao teatro! A atriz desenvolve os 'dois tempos' de Ofelia - e temos uma
Rafaela mais madura, iniciando, com convicção, o caminho das grandes atrizes.
Sua interpretação é refinada, plena de matizes e concepção corporal perfeita. O
elenco, em sua totalidade, é belo e tem presença convicta, nesta mescla de
realidade e fantasia que se estende sobre o palco, com desenho de luz de Luiz Paulo Nenén e imagens
de Henrique Mourthé. A Coordenação de Animação é de Barbara Castro, Cadu Sampaio e
Luiz Ludwig. E os atores que compõe a cena: Zé Azul, Grasiela Müller, Pedro Gracindo, Carolina
Garcia, Rafaela Amado. A pintura de Arte é de Derô Martín, mas não esquecendo nunca que Bia
Junqueira é a diretora de Arte e Cenografia. Perfeito! E os músicos... com seus
exercícios livres, de compassos integrados ao espetáculo, têm como parceria a
direção musical de Thiago Trajano. A direção de Produção é de Bianca de Felippes.
É BOM VER BOM TEATRO!
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
"A PAZ PERPÉTUA"
Alex Nader (Cassius), Gillray Coutinho (Homem), José Loreto (John-John), João Velho (Odin) e Kadu Garcia (Emanuel), em "A Paz Perpétua", direção Aderbal Freire Filho. |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"SAPERE AUDE"
- "Ouse!" Os intelectuais da Espanha são uma fonte de surpresas.
Aderbal Freire Filho também. E quem conhece Juan Mayorga? Somente eles... Pois
está presente, até o dia 11 de dezembro, no Oi Futuro do Flamengo, com o texto "A
Paz Perpétua", escrito pelo espanhol libertador e traduzido pelo
brasileiro, que também dirige o espetáculo: Aderbal Freire Filho. Emanuel Kant,
o filósofo, inspira, levantando a questão do "territorio" - a pessoa
que está em seu "Domínio" tende a repelir o visitante que interfere.
Como os cães. O espanhol Mayorga completou este ano 50 anos de vida. São mais
de 50 peças escritas, e esta "Paz" veio completar uma inicial
"Palabra de Perro", de 2003. Seu tema? Liberdade pessoal, território,
prisão?
O que sabemos, sim, é que vamos falar de
sensibilidade, ousadia e imaginação. Não
se passa incólume por Juan Mayorca. Aparentemente estamos em uma sala onde
seres estranhos se comportam estranhamente. Procuramos não ter informação
anterior sobre o que iremos assistir, mas é quase impossível. Subitamente
percebemos que estes seres usam coleiras, e que há alguém que os leva pela
coleira, e esse alguém é venerado (temido?), pelos demais. São quatro homens em
uma encruzilhada.
Não quero falar aqui de "forma"
e "conteúdo". Percebemos que há feras selvagens por detrás daqueles
homens e um deles, com um simples - "Seat!" - transforma os demais em
dóceis criancinhas. É preocupante, tal estado de coisa. Revela que "os
homens" obedecem a quem lhes comanda. Temem a quem comanda, e se tornam submissos...
Até aí, tudo bem. Mas não dá mais para continuar
fingindo que não estamos entendendo o que está acontecendo no palco. É algo tão
inusitado que nos eleva a tensão. E vamos encontrar o paralelo entre a fera e o
homem. Os quatro cães possuem características humanas ou: os quatro homens
possuem características caninas. Eles são cães, rosnam como cães, e como
animais se alimentam. Mas eles são homens...
Não conseguimos imaginar quais argumentos
usou o diretor para extrair destes cinco atores (Alex Nader, Gillray Coutinho,
João Velho, João Loreto e Kadu Garcia), a tensão permanente que pede seus
personagens. Aderbal afirma que trabalhou com a idéia de que todos os homens
têm cachorros dentro de si. O fato é que estamos diante de um espetáculo
intenso, que cobra muito dos atores. Há sincronia, entre os cinco, cada qual
carregando a sua característica, mostrando os principais tipos e personalidades
que pertencem aos humanos. Assim, temos Odin, o cínico, carregado com dignidade
por João Velho (a gente não entende completamente o que Odin fala, mas seu dono
é tão expressivo, em sua "poção cachorro" que passamos a entender a
sua "não fala" - sabemos que é uma questão de respiração que, também às
vezes ataca os humanos). Outra personalidade interessante é a do cachorro
Emanuel, o filósofo. Ele nos leva às lágrimas, contando como deixou morrer a
sua cega dona, a sua amada. Este ator, Kadu Garcia, dá-nos a impressão de que
já foi de circo (adoro a sensibilidade dos atores circenses), tal a gama de
expressões e gestos naturais que ele semeia. É um inferno, esse ator!
E temos também John-John, o cão atleta, o
cultivador de seu "desempenho" enquanto cão, em luta com suas
limitações intelectuais. Comovente atuação de José Loreto. O seu John-John
também "Ousa Sapere!". E, finalmente Alex Nader, o cão Cassius,
treinador de todos os cães. Cassius já foi campeão, já usou a "coleira
branca" pela qual os outros estão
lutando, já foi o líder dos cães antiterror, um dominador! Agora é somente um
aleijado, mas sobreviveu, o que não se sabe se acontecerá com os que estão
sendo treinados por ele, no momento. Um intenso desempenho de Alex. E o
"Humano" acontece, na fala final do verdadeiro treinador,
interpretado por Gillray Coutinho. Sua voz de comando se assemelha muito às
ordens dos humanos em relação aos que lhes são subordinados. E é aí que a peça
se esclarece! Os cães atendem à fala do Humano, e entre os rosnados e dentes
arreganhados do início eles terminam, instigados pelo treinador, em uma luta de exterminadores. Os cães se
precipitam em sua própria destruição!
Teatro contemporâneo. Ficha
técnica: Autor: Juan Mayorga; Tradutor e Diretor: Aderbal Freire Filho; Diretor
Assistente: Fernando Philbert; Iluminação: Maneco Quinderé. Ator stand-in
Manoel Madeira. (Não temos Figurinos e Cenário).
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
APRESENTAÇÃO DO LIVRO DE ANTONIO ABUJAMRA
ANTONIO ABUJAMRA
" CALENDARIO DE PEDRA"
UMA BIOGRAFIA
Você já abriu este livro, agora entrará em
contato com a vida de Antonio Abujamra. Antes, porém, quero contar como foram
os primeiros dias desta narrativa. Tudo começou há 6 anos: 2008! Eu era seis
anos mais jovem... e ele também! Sempre que nos encontrávamos, entre amigos, em
bares, restaurantes, nos teatros do Sesc, ou em outros teatros, ele dizia para
os garçons, ou para quem estivesse perto de nós: “me tragam Viagra!”. Ninguém
ouvia, ou fingia não ouvir. A cena era terrivelmente divertida, e inesperada.
Claro, o que ele queria realmente não era Viagra, ele queria era alimentar um
mito. Veremos, mais adiante, que esta questão do mito, em Abujamra, foi mudando
com o decorrer do tempo.
Os seis anos tentando falar com ele não foram
uma experiência fácil. Mas foi muito prazerosa, porque desafiadora - para mim. Ora
a gente se reunia nas mesas do Degrau, em Ipanema, ora, nos bancos
desconfortáveis do Espaço Sesc do Rio de Janeiro, ou em bares da rua Santa
Clara, ou nos bastidores do CEU de São Paulo. Fazíamos um jogo de gato e rato. Finalmente
descobri que "estava tudo lá", em revistas, no seu programa de
televisão, na suas encenações. Antonio falava através de sua Arte. Enfrentei a
pesquisa.
Às vezes Antonio era carinhoso comigo, me
dava dicas, deixava pelo caminho pistas, que eu deveria desvendar, ou
compreender. Às vezes era irônico, duvidava da empreitada a que eu me dispusera.
Às vezes, entusiasta, deixava-se influenciar pelo meu entusiasmo. Só não
gostava de meu olhar perscrutador e me interrogava, "malcriado", como
dizia a sua querida esposa Belinha: "Por que este olhar que parece querer
namorar comigo"? Querem coisa mais desconcertante?
Aos trancos e barrancos, lá fui eu
estruturando a história de sua vida. Despistando insights, escondendo gravadores na minha roupa (que ele sempre
descobria, não porque a tirasse, é claro, mas porque havia sempre um fio
indiscreto a me condenar!). Lá ia eu, desesperada, rabiscando notas em
guardanapos de papel, imaginando cenas, desenvolvendo verdades. Quase me
transformo em uma ficcionista, mas a procura da verdade me salvou. Agora
apresento o resultado da aventura que foi tentar entender este monstro. Que a
sorte nos acompanhe! A mim, a ele, e aos nossos leitores! Comecemos pelo
começo.
IDA
VICENZIA
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
"ISADORA"
Daniel Dantas (Henry) e Melissa Vettore (Isadora) (Foto João Caldas) |
Morte de Isadora. (Arquivo) |
Roberto Alencar (Agustin), Melissa Vettore (Isadora) e Patricia Gasppar (Irma), em "Isadora", dramaturgia, Vettore, direção Elias Andreato. (Foto João Caldas). |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
.... E fomos ver "Isadora"! Uma
peça sobre aquela mulher fascinante, independente, livre, revolucionaria. Movida
à dança! Por que Melissa Vettore, dramaturga, produtora, atriz e bailarina do
espetáculo, resolveu homenageá-la? Difícil tarefa! A dedicação à Isadora parece
ser o trabalho da vida de Melissa, que foi muito bem assessorada pelo ótimo
diretor que é Elias Andreato. Há, com certeza absoluta, neste espetáculo, uma
cena antológica interpretada por Daniel Dantas (ator convidado) e Melissa
Vettore: a cena do desnudamento do amor do editor (Henry, interessado em editar
o 'Livro de Memórias' de Isadora), pela bailarina! Para mim, Dantas é o ator
mais misterioso que existe, sempre uma mistura de Gabin, Auteuil e ennui!. (Desculpem, meus paradigmas são todos
do teatro e cinema francês do século XX ...dos
anos 60, ou menos, veja-se Jean Gabin!). Mas, uma coisa continuo afirmando: esse
ator, Dantas, sempre me impressiona pela fragilidade e ennui ("tristeza profunda"), que deixa transparecer em sua
interpretação! E quem é, afinal, o editor que
tanto mexe, racionalmente, com a tranqüilidade de Isadora? A historia é contada
em dois tempos... e o editor aparece em um momento cruel do presente, em que a bailarina retoma o seu passado, para escrevê-lo.
Mas deixemos Dantas, e o personagem que
interpreta, em paz. Seres estranhos na vida de Isadora Duncan não faltaram. A verdade
é que a musa sentia amizade por seres maravilhosos, como, além desse editor, João
do Rio, por exemplo. Dizem que a bailarina o queria como amiga, mas ficou
intrigada (dizem) com o pouco entusiasmo que ele revelou ao ver seu corpo nu. Ao
se interessar pela inclinação sexual de João, recebeu essa resposta do escritor
carioca: "Eu sou um ser impuro". A resposta poderia ter sido dita por
João do Rio, o episódio parece ser verdadeiro, mas nunca se saberá, pois pertence ao mundo do mistério das artes cênicas,
e isso é fascinante!
"Isadora", a peça, pegou-nos de
surpresa. Não há atores em cena, com exceção de Dantas e a irmã de Isadora, Irma,
interpretada pela bailarina, cantora e atriz Patricia Gasppar. O irmão, Agustin,
é a belíssima figura de bailarino de Roberto Alencar (cuja presença em cena
valoriza o espetáculo). Roberto, além de interpretar Agustin, também participa em outras cenas, fazendo pequenas intervenções.
O espetáculo veio de São Paulo, e ficará
poucos dias no SESC Ginástico, mas nos serviu como verdadeira "aula de
direção" de Andreato, que conseguiu momentos inesquecíveis da frágil
Melissa, interpretando a indescritível Isadora. Os melhores momentos de Vettore
são quando ela dança, livre e solta, ao estilo Isadora, ou quando, em alguns
momentos da discussão com o editor (Dantas), consegue uma carga dramática mais forte.
Admira-se sua iniciativa, nesta bela homenagem a Isadora!
Diz Isadora: " Eis o que estamos
tentando fazer: reunir um poema, uma melodia e uma dança, de modo que não se
escute a música, veja a dançarina ou ouça o poeta; mas se viva na cena e no
pensamento o que eles estão expressando".
Há vários aspectos positivos que poderiam
nos levar a recomendar este espetáculo. Certamente, as projeções e o clima que
passam, lembrando a escola de dança de Isadora, na União Soviética. Ou o
momento dramático em que a bailarina narra
o suicídio de Serguei Esenin, seu poeta-amante! (na vida real, há o consolo de que
eles já estavam separados). Outro aspecto positivo do espetáculo é a já comentada
cena final, entre o editor e Isadora. E o texto. Sim, o texto! Ele é repleto de citações e de poesia, como o Maiakovski,
dito por Dantas, ou frases muito bem construídas, que levam ao momento vivido daqueles
artistas! Sim, o texto, com trechos de Walt Whitman, Sergei Esenin, Maiakovski!
Trata-se de um lindo e inteligente trabalho conjunto, feito por Andreato e
Dantas, em cima da dramaturgia de Melissa Vettore.
O Epílogo dessa bela homenagem é a morte
de Isadora, em Nice, ainda em seus 50 anos fecundos. A morte, enrolada em sua vaporosa
écharpe, é um final digno de sua vida
envolta em véus. Uma bela e poética morte, a de Isadora, essa mulher que
observou um dia (Isadora deixou vários escritos): "Sou uma crítica incansável
da sociedade moderna, da cultura e da educação. Defensora dos direitos das
mulheres, da revolução social e da concretização do espírito poético na vida
cotidiana. Meu interesse é expressar uma nova forma de vida." (Ah, como eu
gostaria de ter conhecido Isadora!) E, finalmente, a ficha técnica: Há música
ao vivo, como não poderia deixar de ter, e a escolha da trilha sonora é do artista
e musicista Jonatan Harold. Magnífico. A assistência de direção é de André
Acioli; as palavras lindas e emocionadas de Renata Melo, diretora de movimento
e preparadora corporal do espetáculo, dão vontade de conhecê-la, e participar
de seu vôo! Preparação vocal de Edi Montecchi. Produção de vídeo: Marco
Vettore. Divulgação no Rio, JSPontes.
BELA INICIATIVA! UM ESPETÁCULO DE TEATRO-DANÇA.
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